por Elisandra Vilella G. Sé
Os quadros depressivos são muito prevalentes na população geral e podem ocorrer com outras doenças e apresenta evolução incapacitante para a pessoa que a desenvolve. O diagnóstico precoce e correto é fundamental para se estabelecer um tratamento adequado e assim obter sucesso terapêutico.
Em 2020, segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que os transtornos depressivos serão a segunda maior causa de comprometimento funcional, perdendo apenas para as doenças coronarianas. Essa projeção, associada à alta prevalência de sintomas depressivos na população em acompanhamento por qualquer problema clínico, reforça a necessidade de todos os profissionais da área da saúde conhecerem os principais sintomas, diagnóstico, acompanhamento aconselhamento, etc..
Estima-se que 80% das pessoas com depressão sejam tratadas por não psiquiatras ou não são tratadas. Na prática clínica a maioria das pessoas portadoras de depressão procura inicialmente um clínico geral e/ou neurologista. Devido ao preconceito, ainda há muita resistência em procurar um psicólogo ou psiquiatra. Por isso a depressão vem sendo reconhecida como um problema de saúde pública. As consequências dessa doença sobre a vida do indivíduo podem ser avassaladoras e a influência negativa de sintomas depressivos na evolução de outras condições médicas refletem a importância do correto diagnóstico e tratamento adequado.
Para o diagnóstico de depressão são propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), através da Classificação Internacional de doenças (CID) critérios específicos.
A depressão se manifesta por um humor deprimido na maior parte do tempo, o que é identificado muitas vezes, pela sensação de tristeza e tendência ao choro. Outras funções mentais também são afetadas. Ocorre o desinteresse em atividades antes prazerosas, desmotivação, falta de iniciativa, apatia, redução no tempo destinado ao trabalho ou atividades rotineiras e também outros sintomas, tais como: sensação de fraqueza muscular, cansaço, falta de energia, lentificação do pensamento, falta de concentração e prejuízos na atenção. O apetite pode estar reduzido ou aumentado, alterações no sono (insônia ou hipersônia), pode haver diminuição nas atividades motoras, momentos de inquietação e ansiedade, o conteúdo do pensamento se modifica, ocorrendo ideias de menos valia, inutilidade, culpa, pessimismo, podendo ocorrer nos casos mais graves ideias de suicídio.
Simples sinais
Algumas questões simples de como a pessoa percebe seu humor, se tem estado triste, desmotivada, desesperançada, deprimida, de como está o seu desempenho na atividade que exerce ou sobre seu interesse por coisas que habitualmente lhe dariam prazer, podem servir como uma forma de se autoavaliar para saber se precisa de uma investigação aprofundada com um médico.
Utilizando esses dois parâmetros pode-se chegar a uma sensibilidade de 97% e especificidade de 62%, segundo especialista e pesquisador da FM/USP, Dr. Leandro Michelon. (Michelon, 2006). Existem diversos instrumentos diagnósticos estruturados para serem aplicados em atendimento primário e alguns de autopreenchimento que podem ser úteis em determinados serviços. Mas de modo geral, apresentam boa sensibilidade.
A duração, a intensidade, a recorrência dos sintomas ajudam a caracterizar subtipos clínicos, o que auxilia no planejamento terapêutico.
Com relação ao processo de envelhecimento, um estudo realizado em Amsterdam fez seguimento de 3056 pessoas entre 55 e 85 anos durante 50 meses (Arch Gen Psychiatry, Oct., 1999). Esses foram diagnosticados com *depressão maior (2%), *depressão menor (12,8%) e ausência de depressão (85,2%) no início do acompanhamento. A finalidade foi avaliar o risco de morte associado a essas patologias. Os resultados mostraram que quando comparados com sujeitos não deprimidos, aqueles com depressão menor foram significativamente mais velhos e do sexo feminino. Mas para as mulheres, depressão menor não foi associada com risco de morte.
No que diz respeito às variáveis que explicam a depressão maior, tais como suicídio, hábitos prejudiciais à saúde, como o alcoolismo, tabagismo, inatividade física, explicam apenas parte desse risco, pois mesmo após o ajuste dos resultados para essas variáveis, o risco relativo de morte continuou para os homens. As hipóteses formuladas para explicar tal fato, é que indivíduos deprimidos são menos aderentes a tratamentos e recomendações médicas, o que poderia ter consequências desfavoráveis. A depressão afeta ainda os sistemas neuroendócrino e imunológico. A depressão poderia significar reação à doença subjacente que ainda não se manifestou clinicamente.
O mesmo estudo realizado em Amsterdam revelou que os efeitos dos eventos de vida e mudanças sociais na depressão menor foram maiores em mulheres que em homens. Mulheres reagem de modo diferente dos homens ao em relação ao estresse, tanto fisiologicamente quanto comportamentalmente.
A depressão ocorre em todas as culturas e níveis socioeconômicos e surge em qualquer período da vida. Na população geral a prevalência anual dos transtornos depressivos são em torno de 3%. Em adultos a prevalência ao longo da vida está entre 10% e 25%. Infelizmente os quadros depressivos ainda são pouco diagnosticados nos idosos, apesar de potencialmente tratáveis e terem muitas consequências desfavoráveis: afetam o bem-estar, causam **perda funcional, aumentam a morbidade (doenças) e a utilização de serviços de saúde.
* Depressão maior é o caso mais grave de depressão e depressão menor é o quadro mais leve, um episódio depressivo apenas. A depressão maior é de difícil tratamento, o paciente tem recorrências, a doença vai e volta.
**Limitação nas capacidades funionais, ou seja, dificuldades na realização de tarefas do dia a dia, como por exemplo, prepara uma refeição, ir ao banco, ao supermercado, limpar a casa…