por Luís César Ebraico
A princípio, minha intenção era só transcrever nesta coluna diálogos que eu pudesse empregar para, a partir deles, expor minhas sábias conclusões sobre a melhor maneira de falarmos uns com os outros. Com o decorrer do tempo, contudo, fui sendo assomado por uma tentação de, vez ou outra, me desviar desse inicial propósito. Doravante, vez ou outra, vou tirar férias da *Loganálise e ceder a essa tentação. Começo hoje. E que tentação é essa? A de transcrever alguns diálogos – e até monólogos – que tenho presenciado, sobre os quais não tenho nenhuma sábia conclusão psico-filosófica, mas que encerram tal graça, que têm valor por si mesmos, dispensando o acréscimo de minha sabedoria.
Diálogos das crianças surpreendem
Os dois que seguem têm como personagem central Pedro, de sete anos, filho de Thiago e de Lara, casal de amigos meus.
1º diálogo
Pedro, Lara e Thiago sentados na mesa de um restaurante, tomando um refrigerante e beliscando. Pedro ocupava-se com um prato de batatas fritas, enquanto seus pais mordiscavam vez ou outra um prato de torresmos, quando se inicia o seguinte diálogo:
LARA (dirigindo-se a THIAGO): – Você acha que faria mal o Pedro provar um pedaço de torresmo?
THIAGO: – Bem, se não resolver comer o prato todo! Deixa ele provar…
LARA (estendendo um pedaço para o filho): – Prova, filho.
PEDRO: – Deixa eu cheirar antes.
(Cheira o torresmo).
LARA: – E então, filho?
PEDRO: – Não, obrigado. Meu nariz comeu e não gostou.
2º diálogo
Nove horas da noite, Thiago em seu escritório, trabalhando no computador. Chegam Pedro e Lara. Ficam em silêncio, com o pai olhando para eles, sem entender.
LARA (dirigindo-se a PEDRO): – Fala, filho!
PEDRO: – Papai, eu e mamãe vamos sair para tomar uma Coca-Cola. Eu disse pra ela que eu gostaria que você fosse com a gente.
THIAGO (entre surpreso e assustado): – Caramba! Que doidera! Enquanto vocês estavam em silêncio, eu fiquei olhando para o Pedro e me veio vontade de tomar uma Coca-Cola! E olha que eu não sou disso! Eu, hein!
LARA: – Viu, filho, seu pai é telepata, ele lê o que se passa na cabeça dos outros.
PEDRO: – Eu também leio! Outro dia, eu olhei para a cara de um cachorro e vi que ele estava pensando: "AU! AU! AU!"
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* A Loganálise é um filhote da Psicanálise: pretende mostrar como o cidadão comum, em seu dia-a-dia, pode tirar proveito de conceitos como repressão, fixação, trauma e outros para promover sua própria saúde psicológica e a daqueles com quem se relaciona.