por Gilberto Coutinho
Esta é a segunda parte do artigo sobre síndrome pré-menstrual – clique aqui e leia a 1ª parte. Irei apresentar os quatro subgrupos da síndrome pré-menstrual e seus sintomas (identifique o seu subgrupo e se trate de forma mais efetiva) e a terapêutica – dietoterapia (como deve ser a dieta de quem sofre da síndrome pré-menstrual), considerações nutricionais e remédios botânicos (quais os mais efetivos no combate desse mal).
Quatro Subgrupos
SPM-A (Ansiedade) – é o subgrupo mais comum.
Prevalência: 65 a 75% dos casos.
Sintomas: ansiedade, irritabilidade, oscilação de humor e tensão nervosa.
Mecanismos: níveis elevados de estrógenos e níveis deficientes de progesterona durante o período pré-menstrual.
O excesso de estrógeno produzido nesse período modifica as proporções e os níveis de importantes neurotransmissores. As mulheres acometidas por esse subgrupo apresentam maiores níveis de noradrenalina (neurotransmissor, prepara o organismo para qualquer reação de alarme, combate ou fuga e para uma resposta principalmente ao estresse), de serotonina (hormônio secretado por certas células do tubo digestivo/intestino e no tecido cerebral, onde atua como neurotransmissor ou mediador químico) e de adrenalina (hormônio secretado pela supra-renal, cuja ação lembra a excitação do sistema nervoso simpático); e menores índices de feniletilamina (um dos mais simples neurotransmissores, mais recentemente associado à paixão) e de dopamina (neurotransmissor que atua ao nível dos sistemas nervosos central e periférico).
O que causa a adrenalina e a noradrenalina
A adrenalina causa ansiedade; a noradrenalina, irritabilidade e hostilidade; e níveis elevados de serotonina, tensão nervosa, palpitações, sonolência, retenção de água no organismo e dificuldade de concentrar-se.
Os estrógenos também alteram o estado de humor mediante o bloqueio da ação da vitamina B6 (piridoxina, necessária ao bom funcionamento do sistema nervoso, pois participa da síntese de neurotransmissores) que, por sua vez, inibe a síntese hepática de serotonina (a queda de seus níveis pode predispor a distúrbios do humor e depressão); a capacidade do organismo de manter os níveis adequados de glicose no sangue também fica prejudicada.
Podem também ocorrer níveis elevados de prolactina, pois os estrógenos aumentam a sua secreção via glândula pituitária (hipófise).
Outra conseqüência ao aumento da produção de estrógeno e baixa de progesterona é a deterioração da atividade das endorfinas (neurotransmissores, substâncias naturais produzidas pelo cérebro; aumentam no cérebro em certas circunstâncias fisiológicas e psicológicas: durante a prática de exercícios físicos esportivos, yoga, meditação, acupuntura, estresse etc, com o objetivo de promover: relaxamento; aumentar a disposição física, mental e a resistência; sensação de bem-estar e satisfação; combater a dor etc.).
SPM-C (Apetite)
Prevalência: 24 a 35%.
Sintomas: maior apetite, desejo por doces, fadiga, sonolência, palpitações, cefaléia e possíveis desmaios.
Mecanismos: testes de tolerância de glicose (TTG) feitos nas pacientes com SPM-C, 5 a 10 dias antes da menstruação evidenciaram um achatamento da parte inicial da curva (em geral, indica secreção excessiva de insulina em resposta ao consumo de açúcar), enquanto em outras partes do ciclo menstrual, os testes apresentam resultados normais. O sal de cozinha (cloreto de sódio) amplia a resposta da insulina à ingestão de açúcar e os níveis reduzidos de magnésio (Mg) pancreático resultam em maior secreção de insulina em resposta à glicose. Uma diminuição dos níveis de prostaglandina E1 (substância hormonal que ajuda a equilibrar os hormônios femininos, diminuindo os sintomas e sinais da síndrome pré-menstrual) no pâncreas e no sistema nervoso central também parece estar envolvida nesse subgrupo, pois a PGE1 inibe a secreção de insulina induzida pela glicose.
SPM-D (Depressão) – é o subgrupo menos prevalente.
Prevalência: 23 a 37%.
Sintomas: depressão (sintoma chave, associada a baixos níveis de neurotransmissores no sistema nervoso central), choro, confusão, esquecimento e insônia.
Mecanismos: maior colapso dos neurotransmissores como resposta aos baixos níveis de estrogênio ovariano (hormônio sexual que provoca a ovulação nas mulheres).
SPM-H (Hiperidratação) – subgrupo caracterizado pelo ganho de peso e o segundo tipo mais comum. Prevalência: 65 a 72%. Sintomas: retenção de líquido, ganho de peso acima de 1,5 kg, membros inferiores edemaciados (acúmulo patológico de líquido proveniente do sangue), tumefação (inchaço) eventual do rosto, das mãos e dos tornozelos, mamas doloridas e distensão abdominal. Mecanismo: tais sintomas são ocasionados pelo excesso de aldosterona (hormônio secretado pela glândula supra-renal com possante atividade sobre o metabolismo da água e do cloreto de sódio), durante a fase pré-menstrual, que provoca uma maior retenção de líquidos no organismo. Nesse caso, os níveis de aldosterona podem elevar-se devido: ao estresse (secreção do hormônio retentor de líquido pela supra-renal); ao excesso de estrógenos (aumenta a secreção e a produção de angiotensina II, hormônio de grande poder vasoconstritor e que desempenha um papel essencial na hipertensão arterial); e à deficiência de dopamina (suprime a produção do hormônio retentor de líquido pelas glândulas supra-renais; nos rins, estimula a eliminação de água e cloreto de sódio).
Dieta para aliviar os sintomas da TPM
Orientação nutricional: limitar a ingestão de carboidratos refinados (açúcar, mel, farinha branca, amido etc.) e concentrados (xarope de ácer – adoçante extraído da seiva de árvores do gênero Acer, frutas secas e suco de frutas).
Incrementar o consumo de proteínas de fontes vegetais encontradas nos legumes.
Diminuir a ingestão de leite e derivados, de gorduras naturais e saturadas sinteticamente e do sal de cozinha refinado (substituí-lo pelo sal marinho).
O uso moderado do sal marinho, pelo menos alguns dias antes da menstruação, contribui para a redução dos sintomas da síndrome pré-menstrual.
Aumentar o consumo de óleos vegetais ricos em ácidos gama-linolênico (ômega-6), abundantemente encontrados nas sementes e nos óleos de prímula e linhaça.
Os ácidos graxos essenciais (ômega-3 e 6), que devem ser obtidos através da suplementação nutricional, são componentes estruturais das membranas celulares, proporcionam estabilidade e controlam o movimento de todas as substâncias para dentro e para fora das células.
Aumentar o consumo de vegetais de folha verde, com exceção da família da mostarda (repolho, couve-de-bruxelas e couve-flor).
A dieta vegetariana sempre é a mais adequada e saudável. Para quem consome carne, a de peixe é a melhor durante o período pré-menstrual. Carne vermelha e de frango, somente as magras e as livres de hormônios.
Restringir a ingestão de café, chá, chocolate, coca-cola, alimentos e bebidas que contenham cafeína, álcool; e evitar o tabagismo.
Suplementação:
Ácido gama-linolênico (ômega-6), precursor da prostaglandina E1, auxilia na regulação do estrogênio, da progesterona e prolactina, apresenta ação antiinflamatória e analgésica;
Vitaminas do complexo B; Vitamina B6 (piridoxina): modula a síntese de estrogênio e progesterona, diminuindo a irritabilidade e a ansiedade, inibe a aldosterona elevada aumentando a diurese e alivia o endurecimento e inchaço das mamas e a retenção hídrica;
Magnésio (sua deficiência pode contribuir para aumentar a retenção de líquidos no organismo; alivia o desejo por doces e atua no desequilíbrio da tolerância à glicose);
Vitamina A (combate os sintomas das mamas na SPM) e E (alivia o quadro das mamas sensíveis e aumentadas);
Zinco (útil no combate a depressão);
Potássio (auxilia na eliminação dos líquidos acumulados);
Cromo (empregado na SPM caracterizada pelo desejo por doces); Lactobacillus acidophilus (inibe uma enzima bacteriana das fezes que converte o estrógeno numa forma mais tóxica, diminuindo a sua reabsorção pela mucosa intestinal), semente e/ou óleo de linhaça e óleo de prímula.
Remédios botânicos: as plantas medicinais mais úteis no combate da síndrome pré-menstrual são as que inibem a formação de prostaglandinas inflamatórias, auxiliam no equilíbrio dos níveis hormonais, melhoram a função hepática e aliviam as cólicas uterinas.
Bromelaína (enzima proteolítica extraída mais comumente do abacaxi, apresenta propriedade antiinflamatória, indicada no combate da dismenorréia e da SPM);
Silybum marianum (Cardo-mariano); Glycyrrhiza glabra (Alcaçuz);
Cynara scolymus (Alcachofra); Taraxacum officinale (Dente-de-leão);
Barosma betulina (Buchu), diurética, tônico renal, indicada nas doenças inflamatórias e dolorosas;
Angelica sinensis (Dong quai); Vaccinium myrtillus (Mirtilo ou bilberry).