por Jocelem Salgado
A esclerose múltipla (EM) ou esclerose disseminada é uma doença neurológica crônica, de causa ainda desconhecida, com maior incidência em mulheres e pessoas brancas. Apesar da causa ser desconhecida a hereditariedade tem um papel relevante.
Cerca de 5% dos indivíduos afetados possuem uma irmã ou irmão que também apresentam a doença e aproximadamente 15% deles tem um parente próximo acometido pela mesma.
Embora se considere que exista uma conexão entre fatores genéticos e ambientais sua prevalência não é homogenia com relação a regiões geográficas, sendo mais comum em países de temperaturas mais baixas como Estados Unidos. No Brasil as regiões com maior número de casos são as do sul e sudeste. Nessas existem 15 casos para cada 100 mil habitantes.
A ocorrência é maior em adultos da faixa etária entre 20 a 50 anos, e como já dissemos anteriormente as mulheres são mais afetadas por essa doença, ou seja, na proporção de 2 mulheres para 1 homem.
Esse tipo de patologia leva a uma destruição das bainhas de mielina que recobrem e isolam as fibras nervosas (estruturas do cerebro pertencentes ao Sistema Nervoso Central ou SNC). As fibras nervosas presentes no Sistema Nervoso Central (Cérebro) e periférico (pernas, braços e coluna) são revestidas por uma camada rica em lipídeos (gordura) chamada bainha de mielina. Ela é como o plástico que envolve o fio de cobre, atua como um isolante elétrico que permite a condução rápida e eficiente dos impulsos nervosos, transmitindo informações específicas dos neurônios para todas as partes do corpo.
Quando ocorre a destruição da bainha de mielina os impulsos nervosos são conduzidos de forma mais lenta, gerando sintomas como fraqueza muscular falta de memória, rigidez articular, dores articulares e descoordenação motora. O doente sente dificuldade para realizar vários movimentos com os braços e pernas, perde o equilíbrio quando fica em pé, sente dificuldade para andar, tremores e formigamento em partes do corpo.
Até o momento a causa da EM não está totalmente esclarecida, se aceita a teoria de que algum vírus ou antígeno (corpo estranho) desconhecido estimule uma resposta imunológica anormal. Este processo na maioria dos casos inicia na infância. As células de defesa do nosso corpo reconhecem a bainha de mielina como corpo estranho e desencadeiam um processo inflamatório que a destrói de forma parcial ou total. Quando esse quadro cessa, as regiões as quais a bainha de mielina foi destruída sofrem cicatrização e ocorre um endurecimento conhecido como esclerose.
Primeiros sintomas
Os primeiros sintomas aparecem na idade de 20 a 40 anos e são muito variados dependem do local onde ocorreu a destruição da bainha de mielina.
No estágio inicial os sintomas mais comuns são: dormência e formigamento nas pernas, braços e pescoço. As pessoas podem apresentar quadro de fraqueza em membros superiores e inferiores, visão turva e dupla, incordenação motora, desequilíbrio, vertigem, dor, tremores e dificuldade no controle da urina, fezes e na deglutição. Também é frequente a falta de memória, dificuldade de concentração e comprometimento da fala. Em grande parte dos casos a depressão e fadiga estão presentes.
O diagnóstico da EM é muito difícil, pois, os sintomas são semelhantes aos de outras doenças inflamatórias, requer uma avaliação global do indivíduo por profissionais capacitados.
A EM não tem cura e a evolução da doença é imprevisível. Muitos indivíduos conseguem desempenhar todas as atividades de uma pessoa normal, mas quando a doença alcança um estágio avançado, essas atividades se tornam restritas.
O tratamento deve ser individualizado e envolver uma equipe multidisciplinar O seu objetivo é melhorar a qualidade de vida do paciente controlando e aliviando os sintomas, e o mais importante, retardar ao máximo a progressão da doença.
Dieta e progressão da doença
Embora até o momento não exista uma evidência clara do efeito da dieta especifica sobre a taxa de progressão da doença, alguns estudos científicos tem mostrado que pode ser obtido algum benefício no consumo de alimentos que sejam fontes de compostos antioxidantes e de ácidos graxos essenciais.
Nossa dieta normalmente contém determinadas vitaminas e minerais, tais como a vitamina E – lipossolúvel, encontrada na margarina, manteiga e frutas frescas vitamina A – hidrossolúvel, encontrada nas frutas e vegetais frescos selênio – mineral essencial encontrado nos produtos em grãos, peixes, ovos, queijos e carne que são denominadas antioxidantes, e que podem exercer um efeito protetor na bainha de mielina do cérebro contra inflamações causadas pelos radicais livres.
Por outro lado os ácidos graxos essenciais, ou seja, aquelas gorduras que o corpo necessita para sua saúde, mas é incapaz de produzir e, por isso, deve obtê-las da dieta, constituem uma parte importante da estrutura do tecido cerebral e da bainha de mielina. O ácido linoleico é o mais amplamente usado desses ácidos graxos essenciais, e está presente em grandes quantidades no óleo de prímula e no óleo de girassol. Outro tipo de ácido graxo essencial é a série Omega-3, encontrada nos peixes e óleos de peixes e na linhaça.. Existem evidências de que esses ácidos graxos essenciais podem alterar a resposta inflamatória nas doenças autoimunes, como é o caso da esclerose múltipla.
A dieta sugerida para pacientes com esclerose múltipla é a mesma dieta saudável recomendada para a população adulta normal. Seu objetivo é aumentar os níveis dos ácidos graxos essenciais e da vitamina B12, mantendo ao mesmo tempo uma saudável função intestinal.
– Use margarinas e óleos (p.ex. girassol) poli-insaturados;
– Coma óleo de peixe regularmente, de preferência 2-3 vezes por semana;
– Use produtos diários com pouca gordura, p.ex. leite desnatado ou semidesnatado;
– Prefira frango e partes magras de carne.
– Coma diariamente cinco porções de frutas e legumes, inclusive verduras com folhas verdes escuras;
– Evite salsichas, bacon, sanduíches do tipo hambúrguer e outros alimentos industrializados com alto teor de gordura animal saturada;
– Evite bolos, chocolate e cremes com altos teores de gordura e açúcar;
– Coma de preferência alimentos fritos em pouco óleo ou na grelha, assados, no vapor ou fervidos, em lugar dos fritos em muito óleo;
– Prefira pão integral e cereal com farinha integral;
– Tome 8-10 copos de água diariamente;
– Evite doses elevadas de suplementos vitamínicos.
Alguns medicamentos utilizados no tratamento dessa doença tais como os corticóides podem induzir o ganho de peso, levando à obesidade.
A obesidade é um distúrbio nutricional muito comum entre os pacientes com EM.
A alimentação equilibrada é fundamental para a prevenção da obesidade e consequentemente, reduzir o risco do aparecimento de outras doenças secundárias como: o diabetes tipo II, a hipertensão arterial e hipercolesterolemia.
Dicas simples podem contribuir para uma alimentação equilibrada
• Não tenha pressa! Faça da refeição um momento agradável, coma devagar e mastigue bem os alimentos.
• Estabeleça horário para as refeições
• Procure variar o cardápio
• Coma peixe pelo menos 2 vezes por semana
• Consuma no mínimo 2 frutas por dia sendo que uma delas seja cítrica
• Durante o almoço ou jantar procure consumir vegetais verdes escuros, amarelos ou laranja.
• Evite o consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura
• Para temperar saladas dê preferência para o azeite de oliva
• Consumir alimentos fonte de vitaminas A, C, E, D e vitamina B12, elas estimulam o sistema imunológico e assim podem auxiliar no controle os sintomas mais severos.