por Ceres Araujo
Desejado, planejado (se possível) nasce o primeiro filho. Pais de “primeira viagem”, inexperientes, com medo, mas encantados, recebem seu bebê. Esse é um panorama muito freqüente nas famílias.
Costumo dizer que criança não vem ao mundo com manual de instrução. Ainda que existam seqüências esperadas de desenvolvimento, que pediatras, psicólogos, professores conhecem, os pais de um primeiro filho, em geral, não tem conhecimento delas. Além disso, os bebês, embora sigam os padrões do desenvolvimento humano, são muito diferentes uns dos outros. Cada dia, bebês trazem experiências novas para seus pais e é apenas vivendo a relação com seu filho, que os pais escrevem esse manual por muitos anos.
Primeiro filho
O primeiro filho é, logicamente, a debutante experiência de uma pessoa como mãe ou como pai. De um lado, esse primeiro aprendizado nem sempre é fácil. Por mais bem intencionados que sejam os pais e por mais que amem seu filho, a possibilidade de errar existe. Errar determina culpa e aumenta a insegurança. A própria possibilidade de errar, mesmo que o erro não aconteça, já traz ansiedade. Em síntese, aprender a ser mãe e pai se faz à custa do primeiro filho.
Por outro lado, o primogênito traz uma experiência de encantamento para seus pais, que jamais será reeditada da mesma forma. Filhos seguintes serão igualmente amados, com certeza, mas repetirão um evento já conhecido e encontrarão pais mais tranqüilos, mais experientes e mais seguros em seus papéis de mãe e de pai.
Segundo filho
Os pais se preocupam bastante com a forma pela qual um segundo bebê da família será apresentado ao primogênito, aquele que até então era o centro das atenções da família. Com o intuito de evitar ciúmes, tentam presentear de várias formas o mais velho, geralmente na hora do nascimento do irmão. Isso não está certo, pois tais presentes funcionam como consolação, por deixar de ser o filho único, quando na verdade, o grande presente que ele está recebendo é o irmão, que lhe dará oportunidade para aprender uma lição preciosíssima: o ser humano nasceu para viver junto a outros seres humanos e precisará saber dividir, ceder e se impor. Assim, presentes de consolação são dispensáveis.
Cíúme entre irmãos até na vida adulta
Os ciúmes entre irmãos são normais, pois eles disputam mesmo até na vida adulta a atenção e o reconhecimento de seus pais. Brigas, disputas acorrem constantemente, assim como brincadeiras e manifestações amorosas, essas últimas mais longe do olhar dos pais. Os pais não devem se colocar como juízes frente às disputas dos filhos, não devem buscar as causas da briga, pois correm o risco de serem injustos. Irmãos brigam hoje pelo que aconteceu hoje e ontem, mas brigam também pelo que vai acontecer amanhã! A melhor atitude é ignorar a contenda e deixar que resolvam sozinhos. Outra atitude positiva é colocar ambos de castigo, sem tentar, sequer, ouvir as razões da disputa. Eles tendem a se sentir solidários no castigo.
É bastante freqüente que o mais velho seja sempre penalizado quando por ocasião das brigas. Escutam frases do tipo: “você é mais velho, deve proteger seu irmão”. Esquecem-se os pais, que essa postura reforça atitudes de provocação no menor, que sabe que será sempre protegido. Quando os pais não intervêm na briga, geralmente o menor aprende o risco que está implícito no provocar alguém mais forte que ele e o mais velho percebe, sozinho, a covardia que é bater em alguém mais fraco.
Diferença de idade exige atenção
Também bem intencionados, muitos pais tentam diminuir os ciúmes entre irmãos buscando nivelá-los, proporcionando exatamente as mesmas coisas para eles e fixando os mesmos limites, horários, etc.. Tal conduta pode aumentar as disputas ao invés de diminuí-las e é uma atitude errada. Ainda que a diferença de idade seja mínima, ela deve ser considerada com atenção. Crescer significa ganhar mais responsabilidades, mas também mais direitos e esses não podem ser esquecidos.
A criança mais velha da família precisa perceber as vantagens implícitas no crescimento. Essas podem parecer insignificantes aos pais, mas são fundamentais para mostrar para a criança que o crescimento, a maior autonomia resulta em vantagens na sua vida. Assim, acontecimentos do tipo: ter o direito de ir para a cama um pouquinho mais tarde, se quiser fazer um programa com seus pais, para o qual seus irmãos ainda não tem idade, ser perguntado em primeiro lugar sobre uma opção de um programa familiar, ser o único a ganhar o primeiro celular, etc. fazem uma diferença fundamental.
Pais me perguntam: e o menor, não vai ficar com mais ciúmes ainda? Não. É necessário que lhe seja dito que quando tiver tal idade, a idade que o irmão mais velho tem, ele ganhará exatamente os mesmo direitos. Isso dará incentivo para seu crescimento.
É importante nas famílias, a percepção que crescer é muito vantajoso, pois, se por um lado, traz mais deveres e obrigações – as lições da escola que o digam – por outro, traz também vantagens e privilégios. Um filho mais velho, ao se sentir tão privilegiado, com certeza desenvolverá mais tolerância com seus irmãos menores e aceitará com menos inveja e ciúmes os cuidados que seus pais precisam dispensar aos pequenos.