Quais foram as dificuldades geradas na escola, em crianças e adolescentes, por conta do longo período de aulas online, e a falta do hábito de aulas presenciais, no decorrer da pandemia?
Os filhos voltaram para a escola presencial. No Brasil, o primeiro semestre de 2020 foi caracterizado pelo fechamento das escolas e o início das aulas à distância. Escolas, alunos e suas famílias se viram frente à necessidade de se adaptarem ao ensino online, o que foi muito difícil para as crianças menores e nem sempre fácil para as maiores e os adolescentes, pois para esses últimos, o computador que era basicamente usado para jogos e redes sociais, passou a ser utilizado de forma preponderante para incluir as aulas e os trabalhos escolares.
Apenas no fim do ano de 2020, alguns períodos, na escola presencial, passaram a acontecer, ainda que em regime optativo. A prevista volta para às aulas presenciais em 2021, foi interrompida por fases de fechamento das escolas em função do recrudescimento da pandemia de Covid-19 no País. Apenas, no segundo semestre de 2021, as aulas presenciais ganharam estabilidade nas pré-escolas, no Fundamental I e II e no Ensino médio. Com certeza essa situação prejudicou o aprendizado nos diferentes graus da escolaridade.
Dificuldades na escola devido à prolongada pandemia
Professores e pais passaram a perceber dificuldades de aprendizado em muitas crianças. Falta do hábito de frequentar as salas de aula presenciais, de fazer os trabalhos e as lições, uso excessivo dos eletrônicos para jogar, vício nas redes sociais foram algumas das razões apontadas. Entretanto, além dessas, foram sendo progressivamente verificadas outras causas muito preocupantes.
Dificuldades sensoriais como déficits auditivos e visuais, dificuldades no processamento do estímulo visual e do estímulo auditivo, deixaram de ser diagnosticados na época do isolamento social, assim como as dificuldades específicas do neurodesenvolvimento, como as dificuldades de linguagem, as dificuldades do desenvolvimento motor e os distúrbios da atenção. Tais dificuldades são em geral hipotetizadas pelos professores que lidam no dia a dia com crianças que mostram o desenvolvimento dentro do padrão esperado e que tem, portanto, a possibilidade de perceber as crianças que escapam do padrão. Com a ausência à escola por um, dois anos, essas crianças não tiveram a oportunidade de serem, de fato, avaliadas por seus professores.
Além dessas dificuldades que não foram verificadas, muita atenção também não pode ser dada aos transtornos da sociabilidade e do ajustamento às situações escolares. Assim, voltaram nesse último semestre à escola, em tempo total, muitas crianças e muitos adolescentes que haviam perdido o treino de estratégias pedagógicas específicas às diferentes idades e que haviam se desacostumados à disciplina que a vida escolar presencial exige.
Mais para o fim do ano, muitas crianças e adolescentes viveram com angústia a volta às provas presenciais. Falta de confiança no que aprenderam, falta de segurança nas próprias competências, aumento de estresse, crises de ansiedade, sintomas somatoformes foram apresentados por eles e a angústia também contagiou seus pais.
Estratégias
Estratégias emergenciais foram adotadas para ajudar os filhos, como, por exemplo, professores particulares para muitas disciplinas. Apesar das estratégias, muitas crianças não conseguiram integrar os conhecimentos necessários do ano escolar que cursavam e vão precisar refazê-lo ou irão para o próximo ano com defasagens importantes. Para muitos adolescentes foi necessário que se recorressem aos conselhos de classe, dadas as notas abaixo da média necessária. Em um número considerável, não conseguiram passar de ano.
A pandemia, indubitavelmente, colaborou para essa situação atual, estimulando o uso possível e abusivo da internet. Mas, não se pode colocar a culpa apenas nos videogames, no tempo gasto nos inúmeros aplicativos bons, ruins e péssimos disponibilizados pela rede. Problemas anteriores à pandemia podem ter passados não percebidos e não diagnosticados. Cumpre atentar aos problemas específicos do desenvolvimento, principalmente aos transtornos da linguagem, do desenvolvimento das praxias viso construtivas e dos distúrbios da atenção, que tanto prejudicam o aprendizado escolar e que passam despercebidos, principalmente na criança muito inteligente que compensa as dificuldades com esforço intelectual.
As situações familiares e pessoais vividas na pandemia podem ter desencadeado ou agravado problemas de diversas ordens, físicos e emocionais. Portanto, é importante que as dificuldades escolares vividas atualmente pelos filhos não sejam apenas justificadas por preguiça ou falta de responsabilidade ou maus hábitos. É preciso verificar a fundo o que pode estar acontecendo