por Joel Rennó Jr.
A ideia de que todos querem dinheiro é propaganda circulada por apegados à riqueza, a fim de sentirem-se melhor em relação ao seu apego. Acaba sendo um rótulo perigoso, alimentado por diversos setores de nossa sociedade. Desde que comecei a dar palestras em empresas sobre motivação, tenho observado e comparado pessoas altamente motivadas a fazer dinheiro com aquelas que não o são.
Vejo o seguinte: Quanto mais as pessoas procuram satisfações em bens materiais, tanto menos as encontram. Mesmo quando essas pessoas motivadas pelo dinheiro acreditam que podem ter sucesso em ganhá-lo, a obsessão é relacionada com a baixa auto-estima, a depressão e o uso cada vez mais intenso de drogas. Quando elas conseguem, a satisfação dura muito pouco; é muito fugaz, ilusória.
A motivação de sentir-se mais ligado às pessoas, por outro lado, está relacionada com o aumento do bem-estar. Noto que as pessoas que são mais materialistas tendem a se sentir infelizes com suas próprias vidas. De maneira interessante, penso também que a depressão que acompanha uma obsessão por dinheiro é reduzida se a pessoa tiver um relacionamento sincero e profundo com outras pessoas. Vejam só como as coisas parecem contradizer algumas pressuposições importantes do “Sonho Almejado”. Claramente falando, quero dizer que: ganhar dinheiro exclusivamente para ter mais dinheiro não enriquece nossa experiência interior de vida, nem nos dá mais qualidade de pensamento ou sentimento.
No consultório, atendo um empresário com potencial para ser bem-sucedido que me perguntou: “Como posso me tornar rico?” Respondi a ele: Estabeleça isso como seu objetivo, depois esqueça… Na maioria das vezes, a questão não tem nada a ver com dinheiro. Noto que quase todos os indivíduos que eventualmente se tornaram milionários quase não notaram como estavam ficando. Não existem regras estanques e reducionistas como as apregoadas em muitos livros superficiais de auto-ajuda.
Problema de produtividade não desaparece com incentivo monetário
Sei que estou tocando num assunto polêmico, um dilema para quem esta empregado, porque a maioria acredita que o principal “contrato” que eles estão fazendo com seus empregadores é o de que o empregador dá dinheiro e o empregado dá seu trabalho. A sabedoria convencional do empregador (que estou criticando) parece ser: “Se nós dermos ao pessoal incentivo monetário honesto… o problema da produtividade desaparecerá.” Mais explicitamente, os sistemas de incentivo monetário são promovidos como a solução para problemas de motivação. A teoria é que “Quanto mais o pagamento estiver vinculado ao desempenho, tanto mais poderoso é o efeito da motivação, dizem alguns consultores”. Guzzo e Katzell fizeram um meta-estudo com 330 comparações de pesquisa e mostraram que os incentivos financeiros não são realmente relacionados com o absenteísmo, a produtividade ou a rotatividade dos trabalhadores.
Acredito que os programas mais “confiáveis” para melhorar essas áreas são o treinamento e o estabelecimento de metas pelos empregados. Acredito que as recompensas econômicas podem se tornar os mais poderosos inibidores da qualidade e da produtividade. Manter esse sistema é o mesmo que nutrir o desempenho em curto prazo, aniquilando o planejamento em longo prazo, construindo o medo, desmembrando as equipes de trabalho, contribuindo com a rivalidade e, a meu ver, o pior: contribuir com as amarguras da pessoa, que joga todas as suas expectativas no empregador e na empresa.
Acho que o dinheiro é um motivador, um contingente, que significa tentativa de motivar a realização de um trabalho melhor na expectativa de alguma coisa que a pessoa possa obter de fora do trabalho como tal. Comparo isso com os motivadores intrínsecos, que significam as alegrias obtidas simplesmente no cumprimento de uma tarefa. Um exemplo claro seria a sensação de realização. Isto é, quanto mais as pessoas prestam atenção à quantidade de dinheiro ou a outras “recompensas” que podem obter através do trabalho, tanto menos elas apreciam seu próprio trabalho, dão o devido valor, percebem se estão ou não gostando do que fazem, etc.
Acredito que uma das maiores falácias da administração é a de que o pessoal de vendas pode ser motivado por fatores externos. Quando estou dando palestras para funcionários de uma empresa peço que os funcionários relacionem suas prioridades quando decidem assumir um emprego. O dinheiro figura, de maneira consistente, no final de uma lista de 20 fatores, bem abaixo da comunicação aberta, relações positivas com os colegas, controle sobre o conteúdo do trabalho, trabalho estimulante e oportunidade de ganhar novas habilidades.
De maneira surpreendente, os funcionários são mais inclinados a reportar seu sentimento de “felicidade” quando estão satisfeitos com sua produção no trabalho.
Se os trabalhadores não estiverem motivados, o problema não é o fato de o trabalho ser intrinsecamente enfadonho. Acredito claramente que: “Se você quiser pessoas motivadas para fazerem um bom trabalho, dê-lhes um trabalho bom para fazer.”
Quando estamos procurando uma motivação real, a questão toda existente por detrás dos esquemas de incentivo é mal expressa, “Como podemos fazer com que os empregados façam aquilo que lhes mandamos?” O tipo anterior de ambiente de trabalho era a respeito de trabalhar com; o atual é sobre fazer para. As recompensas, vistas desta perspectiva, são apenas mais uma maneira de fazer as coisas para as pessoas. Elas representam, basicamente em: controle através da sedução.