Crença do autor: “Dependendo de como você vive, morrer não é um passeio no parque!”; entenda
Domingo passado fui a um grande parque público com minha neta. O dia estava lindo, e milhares de pessoas estavam ali para aproveitar aquele espaço multilazer gratuito.
Logo que chegamos fui atraído pelos acordes de uma sinfonia, não tinha muita convicção mas me pareceu Vivaldi.
Fomos andando por entre as árvores e de repente chegamos a uma imensa clareira cheia de gente sentada ou deitada no chão ouvindo a orquestra sinfônica.
Fiquei emocionado e coloquei minha neta sobre meus ombros para que ela pudesse ver melhor a orquestra no final daquele mar de gente. Ficamos ali alguns minutos (eu pelo menos em completo deleite). Mas ela não estava gostando e seguimos adiante. Vimos um grupo de jovens vestidos de preto envolvidos no que me pareceu uma briga feia.
Adiante um casal trocava beijos voluptuosos e estava com muito custo refreando o que num ambiente menos devassado seria uma sessão de sexo selvagem.
À beira do lago muitos cisnes, gansos e marrecos. Crianças e adolescentes jogavam salgadinhos industrializados para eles ao lado de placas que pediam que não se alimentasse os animais, pois a nossa comida era inadequada para eles (como se não o fosse para nós também).
Um grupo do outro lado da ponte ouvia a pregação religiosa de um pastor fervoroso, erguendo os braços para o alto e gritando Aleluia, enquanto numa tenda pessoas recebiam o Johrei dos adeptos da Igreja Messiânica. Nesse momento percebi claramente a realidade dos ensinamentos que recebi ainda jovem sobre o mundo espiritual. Meus antigos mestres me explicaram que o Astral era o “lugar” para onde 95% da humanidade ia logo após a morte (hoje já não se fala mais em Plano astral e sim em “luz astral” uma vez que plano dá a ideia de dimensão e o astral é um estado da matéria, assim como o vapor de água continua sendo H2O).
Lá, as pessoas que viviam sem a perspectiva espiritual continuavam a fazer exatamente aquilo que estavam condicionadas a fazer no plano físico. Ou seja, as pessoas se congregavam por afinidade “tribal” e mesmo que outro grupo diferente estivesse “ao lado”, elas não veriam, pois no astral a tendência é “ideoplática”: a gente plasma a realidade de acordo com nossos condicionamentos e desejos. O problema é que essa recriação absoluta impede que se enriqueça com a experiência da mutiversidade bloqueando o crescimento espiritual.
A maldição do tribalismo que assola e enseja a guerra de todos contra todos aqui na Terra, se repete no astral com uma grande diferença: lá se “confirmam” todas as crenças, uma vez que você mesmo tem o poder de plasmá-las.
Assim o Hare Krishna vai descobrir que o “céu” é realmente coisa de Krishna como eles acreditavam, da mesma maneira que os viciados poderão mergulhar 110% em seu vício, os obcecados em sexo a mesma coisa e por aí vai.
Nessa espiral inflacionária, porém alguns sintomas “infernais” começam a surgir, como por exemplo a insatisfação crônica/aguda. O “cigarro” criado pelo corpo de desejos do ser, não tem mais sabor nem aplaca a fissura, o mesmo acontece com a carne para os carnívoros absolutos (aqueles que não podem passar um dia sequer sem comer carne), porque falta a energia do sangue.
Os megalomaníacos que vão recriar seus impérios podem começar a ser assombrados pelos medos subjetivos de serem roubados e de perderem a sua riqueza. Já os supervaidosos, começam a desenvolver o medo de ficarem feios ou decadentes e não serem mais admirados e vai por aí.
O Astral, principalmente em suas dimensões mais densas, equivale a um inferno, porque ali tudo é intenso, sem limites e quanto mais intenso mais gera seus opostos, da insatisfação da ilusão que se repete, ao medo de perder o que na realidade não se tem.
Diferente do parque domingueiro, que na segunda-feira tem sua vida de volta ao “normal”, no astral nada termina, tudo é trabalho de Sísifo, tudo é repetido, repetido e repetido…
Domingo no parque espiritual não termina
Imagine o seu prato preferido. Imaginou? Imagine comer o seu prato preferido todos os dias da sua vida, ou imagine que você cria um banquete com tudo o que há de melhor, e mais rico que a sua memória terrena lhe permite. Imagine que no fundo de sua mente existia o temor de ser roubado, de ser invadido por um bando de maltrapilhos famintos que iriam lhe roubar a rica comida. Imaginou? Esse é o terror do astral.
Se lá podemos criar através de nossa imaginação e desejos aquilo que fomos condicionados a imaginar, ou desejar, também podemos encenar nossos medos mais profundos que eles se tornam realidade. Se aqui você se identifica com uma tribo e divide o mundo entre “nós” e “eles”, vai penar no astral.
Se você é apegado a desejos que só podem ser satisfeitos através dos sentidos, o astral será para você uma imensa cracolândia, piorada porque a droga astral ao contrário da química, não vai satisfazer seu desejo de ficar chapado.
“Gritos, gemidos e ranger de dentes” não serão provocados pelos diabos chifrudos e com tridentes safados e sim pelos seus próprios medos e frustrações aumentados em milhares de vezes.
É nisso que acredito: dependendo de como você vive, morrer não é um passeio no parque!