‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’ revela o que toda mulher espera no amor

Dona Flor e Seus Dois Maridos: entenda como a ficção desvenda e resolve um enigma vivido pelas mulheres. Na verdade, o que é possível?

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“Namorei um cara por dois anos e ele era um pouco ogro, mas gostava dele. Demorou, mas só fui entender que estava numa relação abusiva, quando ele me ameaçou no meio de uma discussão a me dar um tapa no rosto, foi por um triz… Vivíamos uma relação de altos e baixos. Agora há três meses, estou em um novo relacionamento. O cara é tão tranquilo, que estou até meio sem entender o que significa isso… Tenho medo de me decepcionar ou me magoar… É normal eu estranhar o comportamento dele? O que deveria fazer para me tranquilizar dentro do que parece ser tranquilo?”

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Resposta: Seu conflito, entre o ogro e o príncipe, já foi cantado em verso e prosa. Jorge Amado, em seu “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, aborda o assunto de forma primorosa… Moral da história: todas as mulheres, ou quase todas, gostariam de encontrar, numa mesma pessoa alguém que, ao mesmo tempo, lhes desse conforto e mobilização. Mas, será que isso é possível? Difícil… às vezes só a ficção pode resolver esse enigma.

Provavelmente o ogro proporcionava a você aquela sensação de frio na barriga por ser uma pessoa imprevisível; talvez a criatividade dele a encantasse; talvez com ele todo dia era “dia de emoção”. Mesmo a ameaça do tapa na cara não me pareceu algo tão ameaçador. Parece mais algo que acabou fazendo parte da visceralidade do jogo de vocês.

Mas você optou por sair desse jogo e procurar algo mais tranquilo até que… achou. Achou a pessoa tranquila, menos mobilizadora, que não fica provocando porque quer e aceita você do jeito que você é; achou alguém para quem você é suficiente. Mas… você não está entendendo essa calmaria. Ou, talvez, não esteja se sentindo tranquila porque esse relacionamento é bom demais para ser verdade é pode acabar.

Ou, talvez, não esteja se sentindo completa com essa vida amorosa tão pacata. Afinal, você vem de um relacionamento onde sempre quis sossego e nunca teve. Será que era mesmo sossego o que você queria?

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Dona Flor e Seus Dois Maridos: será que isso é possível?

‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’: é muito difícil juntar segurança e mobilização

Bem, voltando ao início da reflexão, se pudesse escolher, você queria as duas coisas ao mesmo tempo, não é? Mas na escolha amorosa é muito difícil juntar segurança e mobilização. Em geral pessoas mobilizadoras não oferecem conforto afetivo. Elas estão mais dispostas a buscar novas emoções, abandonar parcerias, provocar situações emocionais extremas e, às vezes, até perigosas. Mas junto a elas, em geral, não existe tédio; junto a elas todas as emoções podem ser vividas em questão de horas; junto a elas a vida acontece a 120 quilômetros por hora.

Você se acostumou a essa velocidade vivencial e está estranhando o ritmo mais lento de seu novo relacionamento. Agora é hora de aproveitar essa sensação para avaliar que tipo de companhia amorosa você prefere. Seu parceiro atual pode oferecer a você segurança, tranquilidade, afeto verdadeiro e calmo. Mas, provavelmente, não conseguirá preencher a necessidade de movimento que você teve com o ogro.

Então, se quiser sentir frio na barriga, terá que fazer outra escolha amorosa. Ou buscar esse tipo de emoção em outras atividades que tragam desafios, que mobilizem você ou tirem você da zona de conforto: um curso, um novo trabalho, novas pessoas.

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Afinal, a relação amorosa está longe de poder oferecer tudo o que uma pessoa precisa para se sentir completa. Ela é, e deve ser, uma parte da vida das pessoas que deve ser escolhida com critério e sabedoria.

Assim, tente fazer sua escolha de forma criteriosa e evite expectativas irreais. Entenda o que é mais necessário para você dentro do cotidiano da vida amorosa. Quer paz? Quer emoção? Sim, só você pode escolher. Nesse quesito não adianta ouvir conselho dos outros. A escolha e suas consequências estão nas suas mãos.

Neste momento você tem tranquilidade no amor. Neste momento você tem uma pessoa que, provavelmente, não criará situações caóticas, nem grandes aventuras ou desafios. Dá medo? Talvez. Medo do tédio, da monotonia? Talvez. Mas só você pode decidir se é esse o modo de vida adequado para você. Só você pode avaliar o que vem primeiro na sua lista de necessidades afetivas: conforto ou mobilização. A escolha de um não implica na desistência do outro. Afinal, conforto e mobilização também estão presentes fora da relação amorosa. É só correr atrás.

Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de uma psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento.

É psicóloga graduada pela PUC/SP. É psicoterapeuta de adultos e adolescentes em consultório particular desde 1975 até a presente data. É coach em saúde mental. Vya Estelar quer colocar você, querido leitor(a), ainda mais pertinho de nós. A psicóloga Anette Lewin responderá perguntas enviadas por você sobre relacionamento amoroso, conflitos na vida a dois e conjugal. Esta resposta possui dois formatos: 1º formato: responder as perguntas enviadas por você; 2º) formato: extrair uma palavra em específico de uma pergunta que você enviou (ex: traição). E partir desta palavra, revelar o significado do que sentimos ao nos relacionar. Seu nome e e-mail serão preservados.