Sofrência no amor: será que o ingrediente sofrimento é realmente indispensável para que o amor possa existir? É preciso separar amor e dor?
Resposta: Fala-se muito sobre a essência do amor, principalmente no que diz respeito à inquietude e sofrimento provocados por ele. Para muitos, “amar é sofrer” é uma verdade absoluta e “quem não sofreu é por que nunca amou”.
Sofrência no amor
Mas será que o ingrediente sofrimento é realmente indispensável para que o amor possa existir? Bem, vamos às ponderações.
O jogo de amor é realmente um jogo em que o poder tem algum peso. Diferente da relação de amizade, o jogo do amor é quase como uma gangorra onde quando um está em cima, o outro está em baixo. A alternância dessas posições costuma criar um vínculo que imprime ao amor uma característica dinâmica e mobilizadora. Nesse sentido, algum sofrimento sempre ocorre para quem não está com o poder nas mãos.
Afinal, como a relação amorosa é uma escolha voluntária, sempre existe a possibilidade de um dos envolvidos querer abandoná-la antes do outro. E a consciência dessa finitude, por si só, já cria uma aura subliminar de sofrência em qualquer vínculo amoroso.
Quando a sofrência vira combustão para o amor
Além disso, amor e paixão sempre foram termos difíceis de individualizar. Muitos acham que o fogo da paixão é parte intrínseca da relação amorosa e quando isso não ocorre, temem que o amor possa ter acabado. Buscam então formas de reacender essa chama e uma delas é brigar. Para fazer as pazes depois, é claro. Afinal, nada mais visceral do que uma grande briga para renovar votos de amor eterno. O perigo é quando o casal abusa dessa tática e a relação morre pelo excesso.
A paixão do início de um relacionamento se baseia no desconhecido, no mistério da pessoa escolhida, no encanto da conquista. E, certamente, depois de algum tempo, o desconhecido se tornará conhecido e não conseguirá mais provocar a mesma mobilização. E muitos não sabem o que fazer depois dessa fase para se sentirem “apaixonados“…
Assim, embora o sofrimento possa funcionar como um combustível para a mobilização amorosa, quando essa relação depende dele para sobreviver, podemos considerá-la patológica. A mobilização saudável, em um relacionamento, deve ser construtiva; deve apoiar-se em projetos e não em brigas; deve ressaltar a paz e a tranquilidade e não o sobressalto da incerteza.
Aprisionados ao arquétipo da sofrência
Mas… muitas vezes o casal não consegue se livrar do arquétipo do amor sofrido. E decepciona-se com o cotidiano, com a tranquilidade, com a vida sossegada.
Assim, a necessidade de mobilização passa a causar uma espécie de abstinência e as brigas, a luta pelo poder, e às vezes a violência passam a ser a “droga” que devolve a sensação perdida com o fim da paixão.
Como lidar com a sofrência no amor?
Como lidar com isso? Bem, sempre uma terapia pode ajudar. A consciência de que a mobilização não é monopólio da relação amorosa pode ser o primeiro passo. Existe mobilização em outras áreas da vida. Novas atividades, novos amigos, novos cursos, novas viagens podem dar a qualquer pessoa a sensação interna do frio na barriga.
É importante que as pessoas entendam que uma relação amorosa é dinâmica e, quando dura, acaba mudando, se transformando. É preciso separar amor e dor e fazer uma releitura da paixão como algo efêmero que fatalmente acaba quando o mistério do desconhecido se esvai. É preciso entender que existem múltiplas oportunidades de reviver paixões em múltiplas novas atividades.
É preciso se apaixonar pelo amor
E é preciso, principalmente, apaixonar-se pelo amor, com sua tranquilidade, com seu conforto e com suas cores suaves. Ou então optar por relacionamentos que durem apenas o tempo de desvendar o mistério alheio. Sem exigir do amor algo diferente do que ele é; sem exigir que a tormenta da paixão invada a calmaria do amor. É preciso entender o que é o amor e escolher vivê-lo junto com alguém que também o entenda. E buscar novas sensações pela vida afora. Elas existem por toda parte, é só procurar e mergulhar.