por Jocelem Salgado
Verão: aproveite para descobrir as frutas e por que elas fazem bem à saúde
Cheirosas, coloridas, saborosas, as frutas ocupam lugar de destaque nas bancas das feiras e gôndolas de supermercados, especialmente no verão.
O Brasil tem o privilégio de cultivar centenas de espécies e de oferecer boa parte delas a baixo custo, especialmente as chamadas frutas da estação. Além de saborosas, as frutas são fundamentais para a boa saúde, oferecendo vitaminas, sais minerais e fortalecendo as defesas do organismo. As propriedades benéficas para a saúde estão presentes nas frutas cruas e batidas em forma de suco. Especialmente no verão, tomar suco virou uma maneira saudável de se refrescar.
Acostumados com tanta fartura, nem imaginamos que o hábito de comer frutas e tomar sucos é bastante recente. Até o século 19, a maioria das civilizações não incluía as frutas na alimentação. As frutas nem precisam de muitas explicações para que a gente goste delas, bastam os adjetivos. Elas são coloridas, são tenras, macias, suculentas, são azedinhas, bem docinhas, irresistíveis.
Pois o sabor e o colorido das frutas são duas marcas registradas do verão. Para quem se queixa do calor, as frutas são consolos refrescantes, batidas com muito gelo e água e servidas como suco. Para aqueles que já gostam das estações quentes, as frutas só acrescentam prazer aos dias de verão.
Antes de provocar água na boca, as frutas já são de prender o olhar. Eu costumo dizer que também se come com os olhos, pois a aparência das comidas e o arranjo dos pratos têm muita importância no sabor e mesmo na qualidade da alimentação.
As frutas costumam estar presente em toda parte, mas nesta época do ano, especialmente, sua abundância permite que sejam transformadas em verdadeiros arranjos. As feiras livres, que conservam a tradição de servirem as frutas mais frescas, e que exibem todas as variedades da estação, costumam transformar suas bancas num balcão colorido e tentador.
Por causa da grande oferta dessa época, os preços ficam muito acessíveis e as opções intermináveis. O supermercado aprendeu com as feiras e está disputando a clientela com variedade, bom preço e qualidade, com a vantagem de manter suas ofertas a semana toda. Algumas redes estão indo mais longe, trazendo de países distantes frutas especiais que nunca imaginamos em nosso cardápio. Claro, custam mais caro, mas quem não gosta de experimentar um sabor estranho de vez em quando?
As frutas e a saúde
Só o sabor e a fartura das frutas em nosso país já seriam argumentos suficientes para incluirmos seu consumo no nosso cardápio cotidiano. Mas há outras razões, muito importantes para nosso organismo, que cada vez mais vêm sendo destacadas pelas pesquisas e por especialistas. O fato é que as frutas de um modo geral trazem uma grande contribuição à nossa saúde.
São fontes de vitaminas e sais minerais, contribuem para fortalecer o sistema imunológico, têm ação específica na prevenção e controle de algumas doenças, ajudam na redução dos níveis de gordura do sangue, além de facilitar o desempenho de todo o sistema digestório.
Com tantas propriedades, o consumo de frutas interfere em praticamente todas as ações do nosso organismo, combatendo desde doenças alérgicas como a asma até enfermidades graves como vários tipos de câncer. Por conterem muitas fibras, substâncias que não são digeridas, as frutas são de grande valia para o trato intestinal. Quem come pelo menos duas porções de frutas por dia, qualquer que seja essa fruta, terá muito mais chance de evitar a constipação, um problema que provoca desde mau humor até câncer do intestino.
Quando me perguntam quais são as frutas mais indicadas, costumo dizer que o mais importante é consumí-las, sejam elas frutas exóticas, silvestres, ou as frutas mais comuns das nossas estações, como a laranja, o abacaxi, o caqui e a melancia. É certo que as pesquisas em nutrição e saúde estão hoje buscando as propriedades próprias de cada alimento, aqui incluídas as frutas.
Esses alimentos com funções especiais, capazes de prevenir ou controlar o avanço de certas doenças, são conhecidos como funcionais. Já está provada, por exemplo, a capacidade que as frutas cítricas tem de prevenir certos tipos de câncer. Da mesma forma que certas substâncias da maçã são capazes de reduzir o colesterol, diminuindo o risco de doenças cardiovasculares.
Ao lado dessa ação funcional, os alimentos têm propriedades reconhecidas pelo uso popular e aceitas no meio médico. Os pêssegos, por exemplo, têm uma discreta ação laxante, além de serem ricos em potássio. Os mamões, papaias e outros, contêm papaínas, substâncias ativas contra as úlceras de estômago, estando também entre as frutas que mais fornecem potássio e magnésio. O abacaxi, uma das frutas mais cheirosas da estação, é rico em iodo, que atua positivamente na função da tireóide. Em suco ou em pedaços.
Frutas ou sucos?
Outra pergunta que me fazem com freqüência é com relação às vantagens e desvantagens entre ingerir a fruta em forma de suco e consumí-la crua e em pedaços. Costumo dizer que, no geral, não há grande diferença, desde que o suco natural (não coado) seja feito na hora e consumido em seguida. O suco de laranja que fazemos em casa, por exemplo, tende a perder suas propriedades depois de algumas horas, mesmo mantido em geladeira.
Os bons sucos naturais industrializados, que não se estragam rapidamente porque são "protegidos" por conservantes, costumam manter quase todas as propriedades de um suco fresco, com a vantagem de poder ser armazenado e tomado a qualquer hora.
Mas, já que falamos no prazer que as frutas nos proporcionam, vale lembrar que tomar um suco de fruta natural, nesses dias de verão, não tem sabor que se compare. Levar as frutas para casa e preparar o suco nós mesmos, com a nossa receita preferida, é um prazer adicional, mesmo considerando o trabalho.
Certamente por conta do calor e da fartura de nossas frutas, o suco natural passou a ser "mercadoria" presente em todo o comércio, nos últimos 20 a 30 anos. As casas de suco passaram a ter tanta importância quanto as choperias, sorveterias e cafés. Nos shoppings centers, entre a garotada, ainda não dá para dizer que o suco de frutas é o preferido. Mas em todo o país, não há capital que não exiba suas casas de "sucos e batidas", onde ao lado de abacaxis, laranjas e bananas, estão expostas as frutas mais estranhas, como o cupuaçu e o tamarindo.
Entre morder a fruta e beber o suco, continuo dizendo que o mais importante é ingerir a fruta. A água que se adiciona ao suco, desde que seja absolutamente potável, vem suprir a necessidade de líquido do nosso organismo. Por outro lado, ao mastigarmos a fruta crua, estaremos estimulando todo nosso sistema digestório.
No tempo dos Faraós
Várias das frutas conhecidas nossas já eram cultivadas nas terras bem irrigadas pelo rio Nilo, no Egito Antigo, cenário que nos leva a pensar na produção de frutas às margens do rio São Francisco. Plantava-se pepinos e melões, ao lado do grão de bico, favas e lentilhas. Figos e abacates eram cultivados nos pomares, além das nozes e as tâmaras do deserto.
Com o intercâmbio com outros países, sobretudo asiáticos, foram introduzidos nos pomares a macieira, a romã e a oliveira. Só a partir da época greco-romana, bem mais tarde, as frutas cítricas passaram a ser cultivadas no Egito.
As frutas nunca deixaram de estar presente nos cardápios do homem ao longo da história, mas por milhares de anos tiveram apenas um papel suplementar. Na baixa Idade Média, especialmente no centro-norte da Itália, as árvores de fruta eram consideradas um estorvo para a cultura dominante e de maior valor nos mercados. Foi graças à insistência de proprietários urbanos mais exigentes que algumas frutas foram cultivadas, como sinais de bom gosto e poder social, e indicadas como presente. O povo mesmo, não comia nem se interessava pelas frutas.
Segundo os historiadores, poucas civilizações utilizaram as frutas e legumes como integrantes de sua alimentação. No início do século XIX, o desenvolvimento das técnicas de conservação por esterilização pelo calor permitiu a fabricação das mais variadas conservas. Foi a chegada dos procedimentos de conservação que deram outra dimensão ao mercado internacional de frutas.
Não era possível falar em frutas frescas numa época em que as viagens tomavam semanas. Em 1876, um francês inventou um navio com sistema de refrigeração para proteger os alimentos. Novos aperfeiçoamentos no início do século 20 colocaram nas rotas caminhões, trens e navios com contâineres refrigerados. No início da década de 30, o custo por esse transporte nos EUA já tinha caído para menos de 15% do preço do alimento vendido ao consumidor.
Daí para frente, os preços dos transportes só foram reduzidos e a procura por frutas de outras regiões, especialmente as tropicais, só aumentaram.
Hoje, como já dissemos, os supermercados exibem frutas do mundo inteiro. E novas técnicas de plantio e conservação permitem que tenhamos as frutas da estação disponíveis em todas as estações do ano. E por preços bastante acessíveis. Tudo isso é motivo para comermos mais frutas. E tomarmos mais sucos.