É normal sentir ciúme do meu ficante?

Se está em dúvida se é normal sentir ciúme do seu ficante, ou seja, de “algo” que não é seu… Saiba o que fazer para não sofrer inutilmente

Tem uma música sertaneja chamada “Chifre de Ficante”, cantada por Chay Moraes e Tierry. O foco da letra é o da pessoa se sentir traída, mesmo sem estar namorando. No primeiro verso já fala: “Estou sentindo ciúme do que não é meu…”   

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Entre as modalidades de relacionamento amoroso atuais o mais comum é o “ficar com alguém”. Esse tipo de relacionamento, teoricamente, deve ser isento de qualquer compromisso e nisso se diferencia do “namorar alguém”.

Mas, afinal… é normal sentir ciúme do meu ficante?

Ora, não havendo compromisso, não deveria haver ciúme. Afinal, ciúme e posse estão intimamente relacionados. Então, se no dia seguinte, ou mesmo na mesma noite de balada, o ficante resolvesse “ficar” com outras pessoas, tudo bem! Isso na teoria, porque na prática nem sempre é assim.

Certamente o “ficar” está relacionado com o viver o momento, dar vazão aos impulsos sexuais sem qualquer vínculo afetivo. Mas será que é possível lidar com sentimentos de forma tão distanciada?

Quando duas pessoas resolvem apenas “ficar”, mesmo que verbalmente seja de comum acordo, é possível que a experiência seja agradável. E experiências agradáveis tendem a criar uma expectativa de repetição. Além disso, ser escolhido para “ficar” eleva a autoestima e provoca, na cabeça de quem foi escolhido, a ideia de que é capaz de agradar. Como saber se agradou? Só sendo procurado novamente pela mesma pessoa. Quando isso não acontece… Bem, não adianta querer tapar o sol com a peneira.

Assim, são muito raras as pessoas que não sentem uma pontinha de decepção porque o ficante não procurou novamente. Pois é, não é tão simples aceitar uma entrega física sem nenhum tipo de sentimento, mesmo que seja o de testar a capacidade de agradar.

Por que se torna normal sentir ciúme do seu ficante…

E quando o ficante procura novamente e as “ficadas” acabam entrando num ritmo mais frequente? Bem, aí a gama de sentimentos envolvidos tende a se multiplicar. Isso pois os envolvidos vão adquirindo uma intimidade maior, criando expectativas não explícitas, mas não podem cobrar nada. Afinal, faz parte do contrato! É nesse momento que o ciúme, rei dos sentimentos comuns nas relações amorosas, começa a colocar as garras de fora e dar o ar da sua graça. Estranho? Nem tanto.

Ciúme é um sentimento que permeia a maioria dos relacionamentos humanos, não só os amorosos. Amigos têm ciúme de amigos, país têm ciúme de filhos, alunos têm ciúme de professores. Enfim, o ciúme faz parte da vida relacional como um todo e não pode nem deve ser demonizado.

Olha, todo mundo tem um desejo de exclusividade, reprimido e sacrificado em nome dos bons costumes sociais. Mas ele continua lá, maquiado e disfarçado com as vestes do comportamento colaborativo e do controle emocional. Controlar um sentimento não é extingui-lo.  Controlar é apenas não agir impulsivamente e tomar à força o que se quer. Assim, o melhor tratamento que podemos dar aos nossos sentimentos, antes de mais nada, é percebê-los, assumi-los e aceitá-los.

Como evitar sofrer com o ciúme

E depois? Bem, se sentimos ciúmes de algo que não é nosso, como fazer para evitar sofrer inutilmente? Nesse caso vale a pena redefinir a relação que queremos com a pessoa. É namorar? É entrar numa relação aberta, mas com compromisso? É continuar como está para ver como é que fica? Sim, é sempre importante redefinir o que queremos de uma relação amorosa na medida em que ela avança. Afinal, sentimentos são dinâmicos e mudam de tempos em tempos.

Mesmo que os sentimentos e vontades caminhem em direção oposta à da outra pessoa envolvida. É melhor entender o que acontece, do que manter uma regra que já não vale mais. Pelo menos para um dos envolvidos.

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Como prosseguir no jogo amoroso quando há envolvimento

Sair do ficar para uma relação compromissada requer reflexão sobre como você irá abordar seu ficante

Como no jogo amoroso nem tudo é explícito, caso a pessoa se sinta envolvida e queira transformar o ficar descompromissado em algo mais sério, cabe a ela avaliar qual a melhor maneira de compartilhar isso com a pessoa envolvida.

Em geral, as atitudes costumam falar mais alto do que as palavras. Assim, muitos preferem ir tornando os encontros mais frequentes, trabalhando a descoberta da cumplicidade, construindo momentos agradáveis para depois conversar sobre um novo modelo de relação.

Outros preferem redefinir antes de continuar um relacionamento e evitar um tombo maior, caso o outro não queira mais do que apenas “ficar”. Não existe uma regra única para redefinições. Mas é sempre importante levar em conta o momento do outro e usar a sensibilidade para entender se há ou não reciprocidade no que ambos sentem.  

Afinal, num relacionamento, os sentimentos é que devem ser protagonistas e os rótulos coadjuvantes. Quando essa ordem se inverte, a confusão se instala, o sofrimento pode ser intenso e a dor de cotovelo inspira canções: “estou sentindo ciúme do que não é meu…”.

É psicóloga graduada pela PUC/SP. É psicoterapeuta de adultos e adolescentes em consultório particular desde 1975 até a presente data. É coach em saúde mental. Vya Estelar quer colocar você, querido leitor(a), ainda mais pertinho de nós. A psicóloga Anette Lewin responderá perguntas enviadas por você sobre relacionamento amoroso, conflitos na vida a dois e conjugal. Esta resposta possui dois formatos: 1º formato: responder as perguntas enviadas por você; 2º) formato: extrair uma palavra em específico de uma pergunta que você enviou (ex: traição). E partir desta palavra, revelar o significado do que sentimos ao nos relacionar. Seu nome e e-mail serão preservados.