por Roberto Santos
"Sou uma jovem profissional em conflito, pois tenho hoje dois interesses diametralmente opostos: possuir qualidade de vida, tempo para a família, cursos, viagens, exercícios, enfim, tempo para mim. Por outro lado, ambiciono uma carreira executiva, sentir prazer e realização no trabalho, vencer desafios e crescer em grandes empresas. Hoje, tenho convicção de que não é possível alinhar perfeitamente os dois aspectos; precisaria eleger um em detrimento do outro. Como faço para escolher qual lado seguir? Meu coração insiste em buscar ambos."
Resposta: Você não parece ter um problema, mas um paradoxo… Sei que essa afirmação não atende a seus anseios sobre respostas, mas essa é a realidade. Se você tivesse um problema, seria "só" encontrar a causa e eliminá-la e você não teria mais o problema. Porém, em conflitos como o seu, vemos soluções nos dois lados. O paradoxo de qual caminho escolher – apostar e investir em minha Vida Profissional ou na Vida Pessoal (família, lazer, amigos, saúde etc) é bem típico.
Quando de fato pensamos ou agimos numa ou noutra direção, nos deparamos com o paradoxo: "dedico 10 a 12 horas por dia e meus finais de semana à empresa para apresentar resultados que poderão (ou não) receber escasso reconhecimento superior e deixo de lado academias e baladas ou aquela superpraia do feriado-ponte?" Ou pelo caminho inverso: "decido cuidar de minha saúde, amigos, família, fazer cursos de extensão, enquanto vejo meus colegas sendo elogiados pelo chefe, chamados para reuniões no andar do Olimpo e começo a sentir que minha chance pode passar e posso até ser colocado em banho-maria porque parece que não estou mais tão comprometida?"
Nossas decisões são, na realidade, frutos de nossas personalidades, necessidades e motivações. Tomar consciência profunda e completa disso, pode ser a chave não do problema, mas de nossa capacidade de administrar este paradoxo, de forma a conseguirmos conviver melhor com sua insolubilidade. Alguns de nós temos uma maior necessidade de poder e reconhecimento e somos motivados pelos valores tradicionais de trabalho duro e árduo, como a base de nossas preferências. Esses conviverão muito melhor com um peso maior para o lado da Vida Profissional, especialmente, quando seus comportamentos são orientados por uma reputação prudente e ambiciosa que reforçam sua 'dedicação total a você' ou melhor, a 'eles'.
Outras pessoas, igualmente inteligentes e mentalmente sadias, necessitam de constante interação com pessoas, de preferência em reuniões sociais divertidas, com um bom bate-papo, cervejinhas e música. Para esses, o trabalho é um meio para se obter aqueles frutos do sucesso, não um fim em si mesmo. Mais ainda quando essas pessoas são extrovertidas e focadas em seus relacionamentos, preocupando-se em satisfazer as necessidades e expectativas daqueles que amam. São pessoas geralmente tranquilas e satisfeitas com o que têm. Para essas, o pêndulo puxa mais para o lado da Vida Pessoal e Familiar.
Enfim, o paradoxo, ou dilema atroz para alguns, torna-se insuportável quando queremos forçar nosso estilo de vida na direção contrária à natureza de nossos valores e de nossa personalidade.
Infelizmente, aqui não se aplica o slogan famoso do cartão de crédito – cada opção tem sim seu preço. Depende de nós decidirmos quanto estamos dispostos a pagar e o preço será menor se estivermos buscando continuamente nosso autoconhecimento.
Para mais informações e reflexões sobre este seu conflito, leia este outro artigo publicado em minha coluna do Vya Estelar: veja aqui