por Patricia Gebrim
Eu tenho ouvido muitas pessoas descreverem a angústia que vem sentindo por não encontrar algo que dê sentido às suas vidas. Já sabemos que falta algo, mas ainda não sabemos o que é, onde está, ou como suprir a falta. Eu diria, a quem anda se sentindo assim:
– Pare de tentar desesperadamente fazer essa angústia passar. Aceite esse incômodo como se ele fosse uma forma da sua alma despertar você desse estado de dormência que acomete o homem moderno. Aceite que você está perdido e mude o foco. Não saia andando em qualquer direção como alguém perdido na selva que é tomado pelo desespero. As respostas estão dentro de você. Acalme-se, aquiete seus pensamentos, busque seu centro, observe tudo ao seu redor, as pistas estão aí, perto de você, dentro de você. Quanto mais desesperado você estiver, menos irá percebê-las. Aquiete-se, confie, sossegue…
Quando eu era pequena, gostava de brincar de tentar parar de pensar. Você já tentou fazer isso? Já tentou atravessar aquela vasta correnteza de pensamentos e ver o que existe lá atrás? Já sentiu, nem que por um breve segundo, a cor pacífica e azulada do silêncio, que existe naquele lugar onde não existem pensamentos?
Se tentou, sabe que não é fácil. É como tentar ler o jornal em um dia de vento forte. É possível que a gente acabe mais estressado do que bem informado! No entanto, precisamos aprender a fazer isso se quisermos encontrar o sentido maior, precisamos ser capazes de atravessar os pensamentos se quisermos chegar ao lugar de sabedoria que todos temos dentro de nós. Para chegar lá precisamos, antes de mais nada, desenvolver a nossa paciência. E exercitar a humildade para aprender algo que, ao menos no Ocidente, não é assim tão fácil de aprender.
Quando nos encaminhamos em direção ao novo de forma humilde, aceitamos que teremos dificuldades e não permitimos que os obstáculos se tornem fontes de frustração ou nos impeçam de seguir adiante. A humildade nos faz compreender que é natural que existam as dificuldades, e nos permite continuar lá o tempo necessário para que consigamos seguir em frente. Ou seja, qualquer novo aprendizado requer persistência, tenacidade e o nosso desejo real de seguir adiante.
Mais do que nunca eu creio que a maior parte dos problemas que vivemos em nosso cotidiano é reflexo de uma dor mais profunda, de feridas existenciais, de coisas que se passam lá dentro de nós, nas profundezas. Mas como só olhamos para fora, deixamos escapar o primordial e nos afastamos da possibilidade de solucionar o que de fato nos atormenta.
Na falta de um sentido maior para a existência, nos perdemos pela vida, acreditando que o que falta é um emprego melhor, um namorado, uma casa nova, ou seja o que for. Tentamos curar uma dor profunda na nossa alma com comprimidos para dor de cabeça. Claro que não funciona!
Para enxergar o que de fato está acontecendo conosco, é preciso que a gente pare um pouco e aprenda a olhar para dentro. Disso já sabemos. Mas o que acontece é que, quando finalmente decidimos nos arriscar e nos voltamos para nosso interior, nos deparamos com uma mente tão caótica que preferimos enfrentar o caos do trânsito até o shopping mais próximo, em busca de amortecer essa enorme falta de sentido que tanto nos atormenta.
Assim, não se assuste se seu mundo interno parecer confuso demais ou desgovernado. Vá em sua direção assim mesmo. Abra todos os seus canais de percepção. Preste mais atenção. Em você mesmo, em tudo à sua volta. Sem pressa, sem tentar organizar o caos, contendo a ansiedade.
Respire fundo e sinta isso, afinal você está vivo e a vida é uma dádiva, algo maravilhoso, acontecendo agora mesmo. Agora mesmo você está respirando, sinta isso. Comece por aí. Tente amar o fato de que você é capaz de respirar. Una-se à sua respiração, à vida que flui em você… se conseguir fazer isso, já terá um ótimo começo.
O sentido da sua vida não é algo que ninguém possa dar ou explicar a você, mas é algo que pode subitamente desabrochar no seu ser, com a mesma gentileza com que as flores desabrocham na primavera, revelando seu aroma, sua cor e sua profunda beleza.
Não se esforce, apenas conecte-se com sua natureza interna.
O que você busca está aí, agora mesmo. Pare um pouco com a caminhada, sente-se, relaxe e simplesmente seja você.