É possível melhorar o nível de concentração de uma criança? – Parte II

por Renato Miranda

No último texto (veja aqui) escrevemos como se pode melhorar a concentração no esporte desde a tenra idade. No entanto, é fundamental compreender que vivências nessa idade ainda não permitem um vasto rol de informações arquivadas na memória. Isso traz consequente limites naturais no ato de se concentrar. Por isso, é oportuno que pais, professores e técnicos exercitem a paciência quando as mesmas estão em processo de aprendizagem e treinamento.

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Assim sendo, há um limite de consciência do iniciante, em função das poucas experiências adquiridas e armazenadas como informações úteis para as tarefas a serem desempenhadas. Ademais a mente é limitada para se manter concentrada e, portanto, para nos preparar para a ação, através de um processo que vai desde a busca da informação armazenada na memória até a tomada de decisão.

Encontrar a informação armazenada na memória e conduzi-la ao foco de percepção consciente (perceber) foi a primeira parte descrita desse processo (no texto anterior). A segunda parte é comparar informações armazenadas na memória com a experiência em questão (um gesto esportivo, uma jogada, um exercício novo, etc.). Depois de receber a informação (estímulo) e interpretar a mesma (perceber), todas as vivências correlacionadas irão contribuir para uma comparação mais precisa possível e relacionar habilidades pertinentes a fim de diagnosticar o grau de dificuldade e desencadear o processo de avaliação e de qual procedimento realizar para executar a tarefa.

Quanto maior a qualidade e quantidade de vivências arquivadas na memória mais fácil será absorver determinada experiência nova e melhores condições de adaptação a criança terá. Nesse sentido a estratégia de oferecer várias oportunidades de aprendizagens e tempo livre para brincadeiras e sem pressão dos pais é fundamental para ampliar tais vivências.

Avaliação: é parte fundamental na busca de compreender o desenvolvimento da concentração. Após a comparação da experiência nova ou do estímulo em questão, a mente da criança avalia qual “caminho” a seguir ou simplesmente o que fazer. Quanto melhor for sua capacidade de percepção e consequentemente comparação, maiores serão as chances de uma avaliação precisa daquilo que tem que ser feito.

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Além disso, deve-se levar em conta que muitas experiências, que por vezes não são levadas em conta, têm influências significativas nesse momento; desde o estímulo cognitivo, como por exemplo, o hábito da leitura, ouvir e contar histórias, como também a boa qualidade do sono, da alimentação e do relacionamento emocional familiar e social.

A velocidade de avaliação frente àquilo que têm que ser decidido para se executar algo e a criatividade para se descobrir soluções, são advindas de experiências ambientais favoráveis, que muitas vezes não são percebidas no momento da ação (prática esportiva, em nosso exemplo), como as relacionadas acima.

A última etapa do processo que limita a atividade mental frente sua capacidade de concentração na execução das tarefas é a tomada de decisão ou decidir o que fazer. É a ação propriamente dita! É o instante em que as características físicas e psíquicas da criança são expostas diante do estímulo ou desafio.

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Na ação (gesto técnico ou comportamento tático) tem-se a clara noção de quanto a criança é capaz de enfrentar o desafio em questão e como ela se adapta frente às exigências, além do seu potencial físico e psíquico.

A escolha feita pela criança do que tem que ser feito e como, ajuda a entender melhor como a mesma está para perceber a experiência e se ela tem condições de se harmonizar com o grau de dificuldade da tarefa. Ou seja, se ela é capaz de realizar a tarefa com seus próprios recursos físicos e psíquicos com qualidade.
Através do tipo de ação da criança a conhecemos melhor e avaliamos se estamos exigindo pouco ou muito da mesma.

Em conclusão é fundamental considerar que cada criança aprenderá a concentrar de maneira e ritmo diferentes e portanto é aconselhável aos que estão a orientar a mesma, que a observação e a paciência sejam instrumentos valiosos na sofisticada tarefa de ensinar e treinar.