A forma como nos relacionamos na vida adulta está profundamente enraizada nas experiências emocionais da nossa infância.
Durante os primeiros anos de vida, a criança absorve, sem questionar, os modelos afetivos apresentados pelos pais e cuidadores.
Se receber afeto, validação e segurança, ela construirá uma base emocional mais saudável. No entanto, se crescer em um ambiente onde há negligência, críticas constantes ou falta de amor, ela internalizará crenças disfuncionais sobre si mesma e sobre o mundo, levando esses padrões para seus relacionamentos futuros.
Dessa forma, muitas vezes, o adulto busca no outro aquilo que lhe faltou na infância, esperando que um parceiro possa preencher lacunas emocionais antigas. Essa busca por completude pode gerar ciclos de frustração e reafirmação de dores passadas. Quando as expectativas projetadas no outro não são atendidas, sentimentos de rejeição, abandono ou desvalorização emergem, reforçando crenças negativas adquiridas na infância. Esse processo, descrito na Terapia do Esquema, ocorre porque os esquemas emocionais disfuncionais se perpetuam ao longo da vida, levando a padrões de comportamento autossabotadores.
O adulto, sem perceber, pode acabar escolhendo parceiros indisponíveis ou se submetendo a relações insatisfatórias, apenas para manter a familiaridade emocional de sua infância, ainda que essa familiaridade traga dor e sofrimento. Costumo dizer: o nosso cérebro sente um “cheirinho de infância”, e tende a perpetuar situações.
O caminho para relações saudáveis começa pelo autoconhecimento e pela ressignificação dessas experiências precoces.
A cura da criança interior é essencial para romper com padrões prejudiciais e construir uma identidade emocional mais sólida. Somente ao reconhecer e validar suas próprias necessidades afetivas, o indivíduo pode aprender a oferecer a si mesmo o amor, o cuidado e o acolhimento que antes buscava no outro. Esse processo de transformação não é simples, mas é libertador: permite sair do ciclo de carência emocional e estabelecer relações baseadas no respeito, na reciprocidade e no amor- próprio.