por Valéria Meirelles
Com as crescentes e constantes mudanças na sociedade e com o aumento das desigualdades sociais e da violência, viver – principalmente nas grandes cidades – tornou-se desgastante e estressante. Não importa em qual parte do mundo você viva, sua vida será cada vez mais cheia de incertezas e o futuro acena com uma inexatidão muitas vezes assustadora.
Afundadas em compromissos múltiplos, de acordo com os mais diversos papéis desempenhados, muitas pessoas vão se percebendo cada vez mais desgastadas, adoecidas e até sem esperança de viver.
Como conseqüência, a qualidade de vida, que implica na busca do equilíbrio entre as múltiplas funções da vida, acaba comprometida, afinal, nunca se teve tão pouco tempo para tarefas prazerosas – ficar com a família, amigos, cuidar mais de si mesmo, tanto no plano físico como espiritual – e nunca, em nossa prática clínica, nos deparamos tanto com casos de depressão e síndrome do pânico.
Atentos a essas variações, inúmeros profissionais da área de saúde têm se debruçado em pesquisas sobre o assunto. Carlos Sluzki, psiquiatra e terapeuta familiar argentino, deixa claro a importância de uma boa rede social para o indivíduo, principalmente o idoso. E essa questão é tão séria que o próximo Congresso Brasileiro de Terapia Familiar, a ser realizado aqui em São Paulo em julho de 2006, discutirá exclusivamente esse assunto.
Eis então uma tendência fundamental: participar de grupos sociais diversos, trocando ideias, reciclando-se, cuidando de si mesmo, de suas famílias e do planeta com mais atenção.
É preciso olhar para si mesmo, não de forma narcisista, e para o outro de maneira mais positiva e construtiva, visando um mundo melhor para ambos. Como ensina Glória Kalil: "Os seus horizontes se ampliam quando você se abre para os outros e para os novos conhecimentos que eles sempre trazem. (…) é preciso ter distanciamento e humor para suportar as diferenças e ter consideração pelos outros. Quanto mais cedo as pessoas entenderem isso, mais útil será para a vida delas". Eis uma importante tendência: cultivar o humor e a alegria de viver, mesmo em tempos tão espinhosos.
E no processo de busca pela qualidade de vida, inúmeras atividades estão ganhando representatividade, entre elas o trabalho voluntário, participações em atividades culturais e de lazer, a jardinagem e a busca pela espiritualidade.
O cuidado pessoal, sem excesso (aquele que visa apenas a estética), está cada dia mais evidente: é grande o número de pessoas que procuram a psicoterapia em busca de autoconhecimento e melhor compreensão de seus processos de vida. Também está aumentando a quantidade de pessoas que praticam uma atividade física com o objetivo de melhorar e manter a saúde, além de expandir as amizades.
Uma tendência são os esportes radicais, de aventura, em equipes e ao ar livre, praticados por um número cada vez maior de mulheres. Também está crescendo o número de spas voltados ao relaxamento, em locais privilegiados que favorecem um distanciamento das grandes cidades.
A busca pela integração entre atividade física e a tranqüilidade, fez com que a Yoga, o Tai Chi Chuan e outras atividades de origem oriental ganhassem a preferência de muitas pessoas. Aliás, nunca o Oriente esteve tão em evidência, seja pelas práticas religiosas ou pelos destinos exóticos de viagens. De acordo com Ira Matathia e Marian Salzman, há lugares que se tornarão destinos de aventura, como "Lhasa, Tibete (para paz e tranqüilidade); Tasmânia (aventuras na natureza); o Hindu Kush, no Afeganistão (esqui); e Camboja (praias no Golfo da Tailândia)."
Ainda de acordo com as autoras acima, pesquisadores da Suécia concluíram que atividades culturais podem acrescentar anos à vida de uma pessoa, daí que assistir e participar de eventos artísticos contribui significativamente para a qualidade de vida.
Trabalhar em prol de uma causa nobre, de preferência voluntariamente, tem sido uma das principais tendências do final do século XX e início do XXI. Lutar contra o preconceito, ajudar os excluídos, dar apoio aos que sofrem em asilos e hospitais, proteger a natureza, entre outras, são atitudes que são grande fonte de prazer, bem-estar e motivação a quem se dispõe a realizá-las. É só perguntar a um voluntário o valor de sua ação.
Ficar mais tempo com a família também tem sido uma tendência. Tanto que muitos profissionais atualmente preferem ganhar um pouco menos financeiramente e ter mais tempo para filhos e cônjuge, pois investir no amor sempre foi e será sinônimo de qualidade de vida.
Buscá-la, através da possibilidade de mais encontros, seja consigo mesmo, com o outro e a natureza, é uma tendência irreversível que carrega em sua essência a luta contra a morte e a solidão dos tempos atuais em que o individualismo chega a ser regra de conduta para se atingir um objetivo. Trata-se de uma questão de sobrevivência emocional, social e física.