por Ceres Alves Araujo
Era comum, antigamente, as crianças receberem "dinheirinho" dos parentes, principalmente de avós, para comprarem balas, pirulitos, docinhos… Elas possuíam carteiras de plásticos, enfeitadas com personagens, em geral da Disney, para guardarem as notas e moedas que ganhavam. Acompanhadas dos pais, irmãos, ou mesmo sozinhas, iam ao empório, à padaria ou à banca de jornal próximos de sua casa e faziam suas compras.
Tais hábitos desapareceram. As carteirinhas do Tio Patinhas, da Minie, do Pato Donald etc não estão mais em voga. O dinheiro em espécie sumiu. Balas, pirulitos e doces passaram a ser condenados na dieta da criança. Crianças andando sozinhas nas ruas? Nem pensar! E, os avós, que foram crianças que ganhavam "dinheirinho" e que faziam suas compras, treinando a aritmética, ficam sem a possibilidade de reproduzir um hábito que tanto apreciaram na infância deles.
A partir de 2 anos de idade, a criança começa a ter noção de que as coisas são compradas. Vê o adulto entregar o cartão de plástico para pagar o que quer comprar. Crescendo um pouco mais, a criança percebe o dinheiro de plástico como algo mágico, pois compra tudo, desde a barrinha de chocolate até o videogame de última geração. Vai demorar um pouquinho mais para que os pequenos entendam os valores embutidos no cartão.
Muitas crianças, ao saírem da pré-escola e ingressarem no ensino Fundamental, ao redor dos 6 anos de idade, já utilizam cartão para comprar lanche na cantina da escola. Aprendem rapidamente o funcionamento do cartão. Aliás, muitas delas, aprendem após eventuais frustrações ao perceberem que, de repente, o seu cartão não consegue comprar mais nada.
Muitos dos jogos que usavam cédulas antigamente, como por exemplo, o clássico "Banco Imobiliário" e até o mais contemporâneo "Jogo da Vida", têm, nas suas versões atuais, cartões de crédito e máquina de débito e crédito. Assim, reforça-se o aprendizado do manuseio do dinheiro de plástico.
Mais do que nunca, a educação financeira aos filhos, torna-se uma necessidade precoce. Isso porque o dinheiro de plástico não oferece de tão pronto a possibilidade de treinar cálculo, da mesma forma que se fazia com as cédulas e as moedas. Para a criança economizar, quando se trata de dinheiro em espécie, ela separa as cédulas e as moedas e concretamente as guarda. Esse é um tipo de raciocínio bem mais simples do que o exigido no caso de juntar créditos no cartão. Faz-se necessário, no caso do cartão de crédito, um raciocínio abstrato que nem sempre estará ainda acessível à criança.
Porém, os pais podem ter certeza que seus filhos aprenderão com rapidez espantosa essas questões financeiras. Plugadas à Internet, nossas crianças e pré-adolescente estão, por exemplo, antenados no dólar, principalmente nesses tempos de dólar muito alto. O câmbio passa a ter um significado concreto para eles, uma vez que os aplicativos novos do celular passam a ser caros.
Assim, falar sobre dinheiro aos filhos é importante e a explicação sobre os conceitos financeiros irá depender da idade. Nessa época e nessa sociedade tão consumista na qual se vive, e isso independe de classe social, é preciso ensinar a gastar e a poupar. Ao perceber que o dinheiro dá acesso a um mundo cheio de coisas boas, divertidas e gostosas, a criança já deve ser ensinada a gastar com objetivos claros para ela e a economizar para que possa garantir a segurança de mais tarde poder ter acesso aquilo que lhe é importante.
O dinheiro sumiu, mas os avós podem continuar a dar "agradinhos" aos seus netos, hoje mediante formas diferentes de outrora.