por Ceres Alves de Araujo
Vivemos tempos violentos? Sem dúvida. Mais violentos que anteriormente? Muitos estudiosos consideram que não, mostrando que a civilização foi fundada sobre conflitos violentos, desde a Era Paleolítica. Para sobreviver o homem teve que dominar o outro, aumentar território, escravizar o inimigo desde o início dos tempos. Ao longo dos séculos, as guerras descreveram a violência que o ser humano é capaz.
Para viver em sociedade, o ser humano se tornou mais racional e civilizado, passou a aprender a controlar seus instintos, a aprender a reprimir o não sancionado pelas regras sociais, a viver segundo os padrões morais do grupo a que pertence e, atualmente, tentar fazer o “politicamente correto”. Entretanto, cada vez que a racionalidade falhou, a humanidade infligiu, sofreu ou conheceu violências de intensidades e consequências dramáticas.
O Brasil é considerado um País muito violento quando comparado com os demais. Estatísticas sobre roubos e assassinatos mostram aumentos alarmantes e são veiculadas pela mídia diariamente, trazendo medos de todas as ordens. Hoje, sem dúvida, se sabe, quase que em tempo real, tudo o que de mais violento acontece ao nosso redor.
As causas da violência estão associadas à miséria, à fome, ao desemprego, mas as condições econômicas não justificam todos os tipo de criminalidade. Temos um Estado muito pouco eficiente em programas de educação e saúde básicas, sem programas de políticas públicas de segurança, com um poder Judiciário frágil que contribui para aumentar a percepção de impunidade e de injustiça.
É provável que as soluções para o problemas da violência no nosso país envolvam atitudes cabíveis ao poder público, mas também cabíveis a outros setores da sociedade, inclusive à família e à escola.
Será que estamos criando e educando crianças para serem seres civilizados, empáticos e solidários com o outro e responsáveis pelo espaço que habitam? Possivelmente não. Várias escolas não sabem lidar com o bullying, nem nos jardins da infância, quanto mais nos anos subsequentes. Os bebês e as crianças na primeiríssima infância não são ensinados pelos pais a tolerar esperas, a conseguir adiar um pouquinho a satisfação de suas necessidades. E, isso continua durante toda a infância – época da vida fundamental para se aprender normas, regras e princípios que regem a convivência com os outros, nas diferentes situações sociais. Solidariedade, cidadania não são disciplinas escolares e não são temas que muitos pais acreditem serem importantes para ensinar e cobrar de seus filhos.
Ainda que existam muitas crianças que têm um funcionamento psicológico desejável e uma adaptação social adequada, o que se observa, infelizmente de forma cada vez mais frequente, são crianças malcriadas e mal-educadas. São filhos que exigem de seus pais, a satisfação imediata de suas necessidades e desejos, que não toleram frustração, que não admitem serem contrariados, que não têm qualquer responsabilidade por suas ações, atribuindo aos outros a culpa por não terem tudo o que querem. São filhos que, em geral, confrontam, se opõem, desafiam e ameaçam os pais. Crescem como adolescentes ligados exclusivamente ao prazer imediato, com distúrbios de conduta e que amedrontam os adultos. Muitos chegam, na vida adulta, à delinquência e à criminalidade nas suas diferentes formas.
Esses são sociopatas? Provavelmente se desenvolveram assim por falta das interdições necessárias para que suas psiques pudessem se organizar da forma desejável. Sabe-se que o “não” é o primeiro organizador da vida psíquica, mas muitos genitores têm medo de colocar e manter o “não” para seus filhos, por medo de não serem amados ou por adotarem ideologias de vida do tipo: o amor resolve tudo. Costumo dizer na orientação aos pais, que a maior prova de amor que poderemos dar aos nossos filhos é dizer “não”. O “não” dá trabalho, dizer sim é muito, muito mais fácil.
Talvez, criando e educando crianças para serem pessoas civilizadas, cidadãos solidários e responsáveis, possamos fazer nossa parte na tentativa de controle da violência que assola hoje a nossa sociedade.