Por Ceres Alves de Araujo
Empowerment é um termo em Inglês que foi traduzido para o Português como empoderamento. Inicialmente usado no âmbito da Administração de Empresas, significa delegação de autoridade, descentralização de poderes.
Fala-se também sobre o empoderamento social, que se resume em dar poder a uma comunidade; fazer com que tudo seja mais democrático. Isto é, que a população tenha poder de opinião e decisão.
Um sentido mais específico, por exemplo, é o empoderamento feminino, que consiste na concepção do poder das mulheres como forma de poder exigir equidade de gênero.
Pode-se considerar também o empoderamento das minorias sociais em geral. Em síntese, empoderamento é uma ação social coletiva que visa potencializar a conscientização sobre os direitos sociais e civis. Possibilita a emancipação individual e a consciência coletiva necessária para superar a dependência social.
O objetivo do empoderamento é a aquisição de poder e de dignidade do cidadão, que ganha a possibilidade de decidir e controlar seu próprio destino, com responsabilidade quanto a si mesmo e ao outro.
Cumpre ressaltar, porém, que nem todas as pessoas, mesmo que conscientizadas dos seus direitos, estão em condições de assumirem os poderes que lhes sejam designados. Por que isso acontece? Talvez a resposta possa ser encontrada na história do seu desenvolvimento psicológico, desde os primeiros tempos de sua vida.
Pode-se perguntar então o que leva à condição de poder assumir poderes, de se empoderar ou de ser empoderado? Ao longo de toda a vida, o ser humano desenvolve a capacidade de regular as emoções, de modular os afetos e esta capacidade está primariamente relacionada ao tipo de apego que ele adquiriu nas primeiras relações com seus cuidadores primários, especificamente com sua mãe ou com quem exerceu a maternagem. Salienta-se aqui o conceito de que o ser humano só desenvolve a mente em contato com outro ser da mesma espécie.
O tipo de apego mais desejável para desenvolver a capacidade de regular emoções é o apego seguro. O sistema de apego é compreendido como um sistema de comportamento que é ativado pelo medo e é ligado ao instinto de sobrevivência. Quando um bebê, ou qualquer um primata imaturo se afasta de sua mãe para explorar o ambiente, ele pode sentir medo. Frente a essa sensação ele olha para onde sua mãe está e busca se assegurar se ela está prestando atenção a ele. A referência da face da mãe à distância lhe garante a sensação de segurança e é isso que permite ao jovem primata a explorar o ambiente cada vez mais. A função da mãe, da figura de apego, é levar o filho que experimenta medo a regular sua emoção.
As interações mãe-bebê se tornam impressas na mente, como um repertório de modos automatizados de estar com as figuras de apego e no futuro irão mediar todas as relações interpessoais. A pessoa com um apego seguro, sabe que é amada e tendo internalizada a sensação de ser importante, de ter valor, tende a se colocar no mundo com segurança e coragem e com controle das suas emoções.
Assim, é o apego seguro que garante as melhores estratégias para se relacionar com os outros e com o ambiente em geral. É a chave para manter uma organização mental integrada e flexível, pois ao crescer, conseguindo regular suas emoções, o indivíduo ganha a possibilidade de se monitorar cognitivamente, isto é, ser capaz de um funcionamento reflexivo, também chamado mentalização. Tudo isso se encontra na base do empoderamento.
Entretanto, existem outras formas de apego, que não favorecem o desenvolvimento desejável. Quando falta uma maternagem suficientemente boa, apegos inseguros e desorganizados podem determinar dificuldades na modulação dos afetos e problemas na capacidade para reflexão e controle e, consequentemente, fragilidade no seu empoderamento. Sabe-se que nem todas as pessoas tiveram a felicidade de, em seus primeiros tempos de vida, conseguirem um apego seguro, que as tornaram naturalmente empoderadas.
Mas, na história de vida, nada é tão definitivo. Caso o indivíduo não tenha condições de obter um apego seguro na sua primeira infância, isso não significa que ele está fadado a viver sem o empoderamento. Para conseguir suprir tal deficiência, existem as estratégias de empoderamento posterior. Ou seja, para capacitar o indivíduo, no sentido que possa deter o poder, ganhar a possibilidade de decidir e de controlar o seu próprio destino, com responsabilidade quanto a si mesmo e quanto ao outro, é necessário primeiro que ele tenha segurança quanto ao seu próprio valor e isso pode ser adquirido, mais cedo ou mais tarde na sua vida, na interrelação com pessoas significativas que garantam a aquisição de formas de apego seguro. Todos têm sua chance de empoderamento.