por Emilce Shrividya Starling
Tenho aprendido e ensinado que o grande valor do yoga é encontrado quando aplicamos esses sábios ensinamentos na vida cotidiana.
Digo sempre aos meus alunos:
– Não deixe Yoga aqui na sala. Leve-a com você. Viva Yoga.
E, da mesma maneira, digo a você que está lendo meus textos
:- Não deixe esses ensinamentos apenas na teoria ou no texto. Aplique-os em sua vida. Transforme-se para melhor. Busque o apaziguamento. Tudo que fizer, faça-o com entusiasmo e sua vida terá cor, terá sentido, terá sabor.
Hoje, vamos contemplar dois sutras (ensinamentos) de um dos maiores textos do Yoga: Yoga Sutras de Patanjali. Porém, esses sutras não são apenas para contemplação. Devemos vivenciá-los.
Patanjali foi um grande sábio e, nesse texto, ele nos ensina lições importantes para colocarmos em nossas vidas. Não somente para nossas práticas de yoga, mas para nossa família, como esposa, marido, namorada, companheiro, com nossos parentes, amigos, em nosso trabalho, em nosso lazer.
O objetivo dos ensinamentos do Yoga Sutra é acalmar, concentrar e refinar nossa mente para que possamos desenvolver a habilidade de conhecer o Ser interior, nossa verdadeira essência e, assim nos libertarmos do sofrimento.
O Yoga Sutra I.14 de Patanjali diz : Para conseguir uma base forte na nossa prática, devemos praticar por um longo tempo, sem interrupção, com confiança, com devoção, com uma atitude de serviço.
Esse autoesforço não é apenas para sermos bem-sucedidos nas metas do yoga, mas também para o sucesso em nossos estudos ou trabalho, em nossos relacionamentos. Quando começamos a aprender algo novo, devemos construir essa base sólida para obter bons resultados e também nos sentir bem durante esse processo.
Qualquer que seja o seu aprendizado – abrir um novo negócio, casar, tornar-se mãe ou pai, estudar inglês ou informática, fazer uma pós-graduação, especializar-se em acupuntura, praticar surf- se você mantiver o autoesforço, com determinação e motivação, sentirá mais alegria na atividade e vai criar uma base forte.
O primeiro conselho de Patanjali, é praticar por “um longo tempo” para conseguir bons resultados. Precisamos reconhecer que não podemos aprender ou nos aperfeiçoar de um dia para o outro. Nada se consegue sem perseverança.
O segundo conselho é praticar “sem interrupção”. O autoaperfeiçoamento vem da prática constante, com paciência. Não se aprende uma nova língua ou a tocar um instrumento sem treinar com regularidade. Não se consegue uma dieta equilibrada para emagrecer ou para uma boa saúde, apenas se alimentando de maneira adequada de vez em quando.
O terceiro conselho é acreditar no que se faz. Se não acreditarmos no que fazemos, não conseguiremos sucesso Se sentirmos insegurança ou tivermos uma atitude que iremos falhar, já estaremos plantando o fracasso.
É preciso acreditar em nós mesmos e no que fazemos para que nossos esforços sejam efetivos. Essa autoconfiança e fé nos ajuda a manter nosso entusiasmo e leva as pessoas a nos apoiarem, a gostarem de nossas habilidades.
O quarto conselho é fazer as coisas com devoção, com vontade, querendo realizá-las. Gostar do que fazemos. Mesmo que for uma tarefa difícil devemos fazê-la com alegria, praticando o ‘doce’ autoesforço, como falamos no Yoga.
Patanjali recomenda que façamos nossas ações com uma atitude de serviço.
Você pode fazer isso, perguntando-se: “Como posso servir melhor no meu trabalho? Como poderei ser útil hoje na minha família, em minhas atividades diárias?
Como poderei melhorar meus relacionamentos e amizades? Como ser uma melhor mãe, melhor pai, melhor filho?”
Agora, vamos contemplar o Yoga Sutra I.33, que nos mostra como é importante nossa atitude e o desenvolvimento das virtudes.
Esse sutra diz: A serenidade e o equilíbrio da mente são obtidos mediante o cultivo da amizade pelos que estão felizes, compaixão pelos que estão sofrendo, alegria pelos que estão fazendo algo de bom no mundo, e uma atitude de observação sem julgamento aos que estão fazendo atos prejudiciais.
Patanjali pede para sentirmos afabilidade pelos que estão felizes. Para nos sentirmos felizes pela felicidade dos outros, e não inveja, mal-estar ou competição.
Às vezes, as pessoas pensam: “Por que ela conseguiu um namorado e eu não? Por que ela conseguiu ser feliz no amor e eu não?
Por que ele meditou, orou por tão pouco tempo, e já está conseguindo seus objetivos?
Acho que ele não merece essa promoção que conseguiu… Por que essa promoção não foi para mim?”
E, assim, é difícil para muitos se alegrarem com o sucesso dos outros. Isso requer uma evolução espiritual.
Patanjali diz que devemos ter compaixão pelos que sofrem. Precisamos compreender isso. Não é ficar triste e deprimido pelo sofrimento dos outros. Não é querer mudar o karma do outro, nem ficar sofrendo inutilmente. Não é ter medo que algo de ruim aconteça também a você.
Ter compaixão é uma qualidade divina. É ajudar com amor, com paciência, enviar vibrações positivas, dar apoio e compreensão a quem sofre.
Devemos sentir alegria pelas coisas boas que as pessoas estão fazendo, em vez de sentir inveja, ou duvidar das boas intenções delas ou se sentir inferior por não estar fazendo o mesmo.
Patanjali nos adverte que não devemos julgar as pessoas e que devemos manter uma atitude de observação sem julgamento para com os que agem de maneira errada. Precisamos observar, quantas vezes, nós julgamos sem ter certeza, sem pesquisar, projetando nossos preconceitos.
Se pudermos conseguir essa atitude de não julgar, conseguiremos uma mente calma, equilibrada. Saberemos ver as situações com mais clareza e assim iremos conhecer e entender melhor as pessoas.
O Yoga Sutra é um guia, uma orientação para sermos mais tranquilos e nos sentirmos melhores na nossa vida diária.
Patanjali não diz para cruzarmos nossos braços diante da injustiça, ou ser indiferente diante da maldade, mas observar com discernimento, agir com justiça, evitando conflitos que podem nos prejudicar.
Como diz Taimni, em seu livro “A Ciência do Yoga” , sobre o Yoga Sutra I.34:
“Patanjali define a atitude correta do yogi nas várias situações que podem surgir em seu relacionamento com aqueles entre os quais vive. Uma das maiores perturbações para a mente são as reações descontroladas que temos em relação ao nosso ambiente humano, àquilo que as pessoas fazem ao nosso redor, e às condições agradáveis ou desagradáveis nas quais nos vemos envolvidos, pelas ações erradas dos outros e pelas condições desagradáveis que somos envolvidos.”
Algumas pessoas ficam perturbadas por todo tipo de emoções desequilibradas ou violentas por causa dos acontecimentos e, outras se tornam frias e indiferentes ao sofrimento. Ambas essas atitudes não estão corretas e não ajudam a ter uma natureza tranquila, compassiva e amável.
Nossa evolução espiritual não combina nem com reações violentas nem com a indiferença e apatia . Tanto a vida material como a vida espiritual requer uma atitude equilibrada e harmonizada com o bem maior, com o bem de todos.
Invista em seus ideais e metas. Dedique ao que está fazendo, com autoesforço e entusiasmo. Confie em você e no que faz. Goste do que faz. Experimente sentir mais alegria na suas atividades e criará uma base sólida que lhe levará à prosperidade. Seja amável e útil no seu dia a dia. Fique em paz! Namaste! Deus em mim saúda Deus em você!