por Tatiana Ades
O que é o vício? Por que será que João bebe muito e Maria come demais?
O que faz com que Rita jogue compulsivamente e Beto precise usar drogas todos os dias?
O nosso cérebro funciona em termos de "recompensas".
Por isso, algumas pessoas se viciam para receberem uma dose de dopamina, neurotransmissor liberado pelo cérebro que estimula o prazer.
Por exemplo, no caso dos usuários dependentes de maconha, o cérebro irá produzir duas vezes mais a quantidade de dopamina causando a sensação de "bem-estar e alívio".
Com o passar do tempo, o cérebro passa a gerar menos dopamina, e o indivíduo entra no vício com mais afinco, precisando cada vez mais da droga para obter o mesmo prazer obtido anteriormente, entrando dessa forma num círculo vicioso.
Vícios
Darei três exemplos reais de vícios diferentes para mostrar que o amor pode se transformar em vício: a pessoa precisa dessa "droga: o outro" para sentir-se bem e aliviada.
Daniel é adicto (dependente) e precisa beber todos os dias. Sente-se emocionalmente incapaz de enfrentar o seu dia a dia e qualquer situação social sem o uso do álcool.
Segundo ele, o álcool no início causava uma sensação de liberdade e perda de timidez, mas que com o passar do tempo virou necessidade diária.
Sandra é compulsiva por sexo, o seu diálogo quando fala do assunto não possui afetividade, ela diz que o sexo com vários homens a faz sentir-se aliviada, que no começo sentia uma sensação de poder que transformou-se em necessidade diária para poder pensar e fazer as coisas do dia a dia. Ela quer parar, mas sofre e acaba voltando ao vício.
Já Bianca, não bebe, não usa drogas e não é viciada em sexo, compras ou comida.
Ela precisa estar apaixonada, senão a sua vida se torna um "inferno". Ela conta que precisa estar com alguém, vivenciar relacionamentos intensos e não suporta a sensação de estar sozinha sem compartilhar sua vida com alguém; diz que não bastam amigos e família, e que quando alguém a abandona, ela precisa desesperadamente de outra pessoa como forma de substituição e alivio.
Essas três pessoas possuem vícios diferentes, mas a necessidade do mesmo toma conta de suas vidas, tornando-as refém.
Vamos observar as semelhanças dos três casos quando falamos de abstinência (estar sem o "objeto" do vicio):
Daniel, Sandra e Bianca em momentos que tentaram parar o vício sentiram:
– falta de ar;
– tremores;
– dores no corpo;
– ânsia de vômito;
– insônia;
– desespero;
– depressão;
– pânico;
– pensamentos suicidas.
Qualquer vicio é perigoso, pois a bola de neve é justamente não querer passar pelos sintomas de abstinência. Mas a única forma de sairmos de um vício é aguentarmos esse período de abstinência, enviando ao nosso cérebro a informação de que não mais precisamos dessa dopamina, que podemos viver sem ela. E o cérebro, assim como todo o organismo que está intoxicado, acaba não precisando mais do vicio. O tratamento para se livrar de um vício ou dependência química deve ser individualizado e conduzido por um psiquiatra especializado na matéria, pois em muitos casos requer o uso de medicamentos.
No caso do amor não temos uma substância. O amor não se vende em garrafas, não se traga, não se cheira, é invisível, por isso tantas pessoas estranham estar vivenciando um quadro de vicio afetivo e amoroso.
Mas é importante saber que mesmo o invisível pode nos intoxicar de forma devastadora e é preciso prestar atenção se a nossa dependência em relação ao outro não está nos sugando, nos tirando o foco de nós mesmos; trazendo ansiedade e incapacidade para agir como "indivíduo".
São raras as pessoas que se viciam em si mesmas, no sentido saudável da questão. E é esse tipo de vício — o amor próprio — que precisamos aprender a ter para não nos deixarmos afundar em válvulas de escape.