Da Redação
Valores ligados à espiritualidade, como a crença religiosa, capacidade de perdoar, senso de gratidão e bons sentimentos, podem reduzir o risco de doenças cardiovasculares e/ou melhorar a resposta dos pacientes ao tratamento.
O tema, cada vez mais considerado na prática clínica em geral, será abordado no 39º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – Socesp, que vai até 2 de junho.
Diferentes pesquisas descrevem que a fé e a espiritualidade podem ajudar a reduzir sintomas como ansiedade, depressão e estresse, além de mudar hábitos como parar de beber e fumar. Em consequência, podem diminuir o risco de doenças cardiovasculares. O médico cardiologista Álvaro Avezum, considerado pela consultoria Thomson Reuters como um dos quatro cientistas brasileiros com produção acadêmica de maior impacto no mundo, salienta que a espiritualidade não está necessariamente ligada a uma religião. "É o conjunto de atitudes que as pessoas adotam na sua prática de vida e a maneira como se relacionam. A capacidade de perdoar, que elimina mágoas e é um conceito ligado à espiritualidade, é um exemplo disso. Tudo pode interferir no estado emocional, que influencia a saúde e o tratamento de doenças".
A espiritualidade também pode ajudar no enfrentamento de modo mais sereno de situações comuns na sociedade contemporânea, como dificuldades financeiras, separação conjugal, questões relacionadas aos filhos ou à família, desemprego e problemas profissionais.
De acordo com o cardiologista, "ao nos sentirmos magoados por algum motivo, liberamos adrenalina na circulação, o que é altamente benéfico quando estamos praticando exercícios físicos e precisamos que o sangue chegue aos músculos e a respiração acelere". Acontece que, quando estamos parados, a adrenalina pode não ser tão benéfica quanto em atividades físicas, provocando aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial e a constrição dos vasos, podendo até mesmo resultar em um infarto.
Para Avezum, entender as práticas diárias, criar bom relacionamento com o paciente e estabelecer com ele uma confiança recíproca são os pontos primordiais para que o médico desenhe um perfil emocional e identifique a reação das pessoas diante das emoções.
Depoimentos de outro palestrante do congresso, o cardiologista Roberto Esporcatte, reiteram que a espiritualidade não está necessariamente ligada a uma religião, mas à busca pessoal de um propósito para a vida e de uma transcendência, que envolve também as relações com a família, a sociedade e o ambiente. Para o especialista, o médico não pode deixar de interagir com o paciente sob esse aspecto. A abordagem aplica-se, ainda, àqueles que estão no grupo não religioso, como agnósticos ou ateus.
Segundo Esporcatte, inúmeros estudos vêm demonstrando que indivíduos com maior religiosidade ou espiritualidade apresentam menor incidência de muitas doenças. Além disso, esse grupo consome menos álcool e tabaco e tem menos sintomas depressivos.
Sobre a Socesp
A Socesp – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – é uma entidade sem fins lucrativos. Os principais objetivos da instituição são contribuir para a atualização dos cardiologistas do estado e difundir o conhecimento científico.