Estou cheirando “Rita”… Como tratar?

E-mail enviado por uma leitora:

“Estou há quase dois meses usando Ritalina (Metilfenidato) sem prescrição. Comecei usando oral e agora estou cheirando. Estou me sentindo muito bem, mas quando acaba, bate um “deprê” e vontade de usar mais. Qual o mal de usar cheirada a ‘Rital’ e como faço pra me livrar dependência?”

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Resposta: O Metilfenidato é uma medicação estimulante do Sistema Nervoso Central utilizada no tratamento médico do transtorno por déficit de atenção com ou sem hiperatividade e da narcolepsia (sono súbito e incontrolável). Outrossim, o Metilfenidato tem sido prescrito para tratar outras condições médicas, tais como a depressão, transtornos neurocognitivos, transtornos da dor, e é aventado para tratar a dependência de cocaína (como uma forma de terapia de substituição) em pacientes refratários às outras formas de manejo ou em pacientes portadores do déficit de atenção com ou sem hiperatividade associado à dependência de cocaína.

Trata-se de medicação cujo uso médico pode ser diversificado pelo paciente, ou seja, o Metilfenidato pode, infelizmente, ser utilizado para outros propósitos que não o de tratar o problema médico primário que demandou a sua prescrição por médico habilitado.

O Metilfenidato é uma medicação estimulante do Sistema Nervoso Central que pode induzir quadros de abuso e dependência, especialmente quando utilizada na forma injetada ou cheirada.

Quem pode ter problema com esta medicação?

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Na verdade, a grosso modo, existem três grupos de pessoas que apresentam quadros problemáticos com o uso desta medicação:

a) Portadores de quadros psiquiátricos que demandam a prescrição desta medicação por médico; todavia, estes portadores de problemas psiquiátricos abusam desta medicação prescrita para obter efeitos de euforia, bem-estar, hipervigilância;

b) Pessoas que compram o Metilfenidato nas ruas de traficantes (“Rita” é o principal street name desta droga), com o objetivo primeiro de cheirar ou injetar e, consequentemente, obter os efeitos de bem-estar, excitação psicomotora, agitação;

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c) Pessoas que não estão sob tratamento médico com o uso do Metilfenidato; porém, conseguem tal medicação de amigos ou parentes que estão sob uso legal acompanhados por médico.

Parece que o seu caso é o listado no item “b”. De qualquer forma, nas três situações, temos um grave problema que precisa ser solucionado.

O abuso ou dependência do Metilfenidato ocorre comumente quando o usuário não está sob tratamento médico ou quando o usuário faz uso de forma e maneira diferente daquela recomendada e prescrita por seu médico. Três têm sido os principais objetivos dessas pessoas que abusam do Metilfenidato:

a) Perder peso;

b) Ficar mais alerta e insone;

c) Tornar-se excitado e em estado de prazer.

De fato, quando um usuário faz uso do Metilfenidato seguindo a prescrição médica, nenhuma sensação de estar “alto e/ou eufórico” tende a ocorrer. No entanto, quando ela é utilizada de forma diversificada, cheirada e/ou injetada, os efeitos do Metilfenidato podem mimetizar aqueles induzidos pelo uso de outros estimulantes abusáveis.

Sintomas e sinais de abuso

Os principais sintomas e sinais do abuso do Metilfenidato são abaixo listados:

a) Redução do apetite;

b) Dilatação das pupilas;

c) Agitação psicomotora;

d) Tontura ou vertigem;

e) Visão prejudicada;

f) Taquicardia;

g) Dor de estômago;

h) Insônia;

i) Sudorese.

Abstinência: consequências

Após um variável período de tempo de abstinência do Metilfenidato, o usuário pode manifestar:

a) Sintomas depressivos;

b) Dores de cabeça;

c) Intensa sensação de fadiga;

d) Fissura

É importante enfatizar, aqui, que usuários recorrentes nas formas diversificadas do Metilfenidato também podem apresentar:

a) Comportamentos violentos;

b) Alucinações auditivas;

c) Paranoia;

d) Sensação de grandiosidade;

e) Comportamentos repetitivos, de checagem, ritualizados (que chegam a lembrar uma forma de Comportamento Obsessivo Compulsivo).

Quando utilizado na forma prescrita, o Metilfenidato tende a produzir muito poucos efeitos colaterais, tais como insônia, dor de cabeça e redução do apetite. E, claramente, quando tais efeitos colaterais surgem, eles podem ser adequadamente manejados pelo médico especialista. Trata-se de medicação com bom perfil de segurança e eficácia terapêutica quando utilizada de acordo com a prescrição médica, produzindo poucos efeitos colaterais se utilizada em doses terapêuticas e por via oral.



Uso indevido da prescrição: pacientes devem estar cientes sobre os riscos potenciais de abuso  

O quadro muda completamente se o usuário passa a abusar da substância, diversifica a finalidade da prescrição, e cheira ou inala a droga.

Todos os pacientes para quem esta medicação é prescrita devem saber sobre o potencial de abuso, caso não sigam firmemente as orientações médicas.

Como evitar o abuso

Algumas medidas para evitar o abuso devem ser tomadas, tais como:

a) Advertir o paciente sobre o potencial de abuso, caso não siga as orientações médicas e as contidas na prescrição;

b) O médico deve dispensar quantidades suficientes de medicamentos até a outra consulta;

c) Agendar consultas frequentes;

d) Sempre quando possível, aliar ao tratamento um membro familiar e/ou controlador externo para supervisionar o uso da medicação;

e) Pedir para que o paciente sempre traga à consulta os comprimidos que sobraram entre uma consulta e outra.

Os profissionais da saúde que prescrevem o Metilfenidato devem estar cientes do potencial de abuso desta substância e, quando perceber que isto está ocorrendo, devem suspender a confecção de prescrições do Metilfenidato, pelo menos, até amplo esclarecimento dos acontecimentos.

Este é mais um exemplo de que uma droga não é boa ou má por si só. O Metilfenidato é uma medicação segura quando utilizada de forma adequada; todavia, é altamente maléfica quando o seu uso é feito de forma problemática ou diversificada.

Nas situações em que o abuso do Metilfenidato ocorre, o portador do problema deve procurar auxílio médico e psicossocial adequado. Sempre é adequado que o então paciente seja honesto quanto ao consumo inadequado do Metilfenidato.

Não existem medicações comprovadamente eficazes para o tratamento de quadros de abuso/dependência do Metilfenidato.

Como manter-se abstinente

Contudo, existem formas de manejo clínico e psicoterapêutico que auxiliam o portador a manter-se abstinente:

a) Medicações ditas sintomáticas (para a redução da Hipertensão Arterial, Insônia, dores) podem ser prescritas por médico especialista;

b) Psicoterapias são altamente recomendadas para gerenciar o quadro e proporcionar recursos ao portador para evitar recaídas e melhorar a sua qualidade de vida;

c) Tratar comorbidades (depressão, ansiedade, dependências de outras substâncias) é essencial.

Seja honesto com você mesmo e procure auxilio de médico especialista. Não perca tempo!

Atenção!

Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.