por Patricia Gebrim
Ah, este artigo surgiu de uma forma deliciosa, em um dia de sol, à beira da piscina, trocando ideias com uma vizinha que eu tinha acabado de conhecer. É incrível como as trocas humanas se tornam inspiradoras e como cada contato abre uma porta que sempre esteve lá, mas à qual muitas vezes não prestamos nenhuma atenção. Assim surgiu este artigo que fala sobre amizade e solidão.
As pesquisas confirmam (*) o que os moradores de grandes cidades já sentem na pele: cresce cada vez mais o número de pessoas que moram sozinhas. Só em São Paulo esse número dobrou na última década e hoje são mais de 6 milhões de lares habitados por um único morador.
Há não muito tempo atrás, uma pessoa que morasse sozinha era considerada meio esquisita. "É uma fracassada, não deu certo na vida" – diriam alguns. "É individualista e excêntrica!" – diriam outros. Felizmente, hoje as coisas vêm mudando. Morar só, mais e mais, é uma escolha. Com o número crescente de casamentos desfeitos e cada vez mais pessoas conquistando sua independência financeira, hoje muitas pessoas podem optar por ter seu próprio cantinho, e aos poucos a sociedade vai aprendendo a respeitar e aprender com aqueles que fizeram essa opção.
A vida pode ser maravilhosa para os que moram só, tanto quanto para os que vivem com mais pessoas. São realidades diferentes, cada uma com desafios e vantagens únicas.
Ainda existe uma boa dose de preconceito, mas venho percebendo que já brotam, aqui e ali, quem olhe com admiração e até inveja para esses corajosos "moradores solitários". A meu ver esses são os desbravadores dos tempos modernos. Antigamente os desbravadores iam em busca de novos continentes. Os desbravadores de hoje, sem novas terras a serem descobertas no planeta, mergulham dentro de si mesmos em buscas de novas formas de ser, viagem tão assustadora como seria a viagem ao centro da Terra!
Morar junto ou só?
É um fato: aqueles que dividem seu espaço com outras pessoas, sejam amigos, parceiros afetivos ou familiares, têm a seu favor o fato de terem companhia constante, ou ao menos a "presença" de outras pessoas por perto. (Se bem que "ter alguém por perto" não significa necessariamente estar acompanhado. Muitas vezes as pessoas sentem-se solitárias mesmo morando com alguém, você já percebeu isso?)
Por outro lado, o fato de dividir a casa com outras pessoas acaba gerando a disputa pelo espaço, traz à tona a delicada questão do respeito pela individualidade alheia e tantos outros desafios que a convivência inevitavelmente cria.
Já os que moram sozinhos têm um pouco mais de paz nesse sentido, evitam as famosas discussões sobre organização, divisão de tarefas, administração de pequenas rotinas. Mas em troca dessa paz, precisam aprender a desfrutar de sua própria companhia, sem sentir que isso seja um fracasso, uma punição ou algo digno de pena.
Assim, "morar só" não é para todos. Requer certo amadurecimento, uma boa dose de autoconhecimento e a rara capacidade de encontrar prazer por estar na sua própria companhia. Quanto mais criativa é a pessoa, melhores são as suas chances de se dar bem, pois ela precisará aprender a preencher sozinha os espaços vazios que com certeza serão mais frequentes em sua vida.
Como atenuar a sensação de solidão
Muitas são as formas de atenuar a sensação de solidão. Ter um animalzinho de estimação, desenvolver habilidades artísticas e intelectuais, dedicar-se ao próprio crescimento, reforçar vínculos de amizade e por aí vai. Aliás, as amizades são as mais importantes conquistas daqueles que moram sozinhos. Quanto mais forem capazes de se abrir para o novo, permitindo o desenvolvimento de novos vínculos afetivos, expandindo seu círculo de amigos, mais seguros se sentirão. Pessoas que moram sozinhas precisam umas das outras, quando será que descobrirão isso? Precisam unir-se, ajudar-se, dar-se as mãos! Esse é um verdadeiro remédio contra a solidão. Morar só não quer dizer que tenhamos que ser solitários. Por incrível que pareça, pode ser o oposto da solidão.
Muitas vezes, no entanto, as pessoas têm dificuldades em refazer suas vidas dessa maneira. Imagine uma pessoa que tenha passado 20 anos casada, interagindo apenas com "amigos casais". De repente a pessoa se separa, se vê sozinha, perdida, sem saber por onde recomeçar. SOCORRO!!! Esse costuma ser um momento extremamente doloroso e assustador.
Se esse for seu caso, tenha calma, dê a si mesmo um tempo, você precisará ser paciente consigo mesmo. Procure redescobrir seu verdadeiro Eu. Invista em seu autoconhecimento, vá atrás de si mesmo em primeiro lugar. Abra novas oportunidades em sua vida. Faça cursos, viaje, cuide de seu corpo, vá atrás de seus sonhos. Com certeza você encontrará pessoas nesse caminho.
E esteja aberto. Não importa o quanto esteja sendo difícil para você, abra-se! Abra-se para novas pessoas. Faça movimentos, não fique esperando que tudo venha até você. Faça a sua parte. Pense que muitas pessoas sentem-se exatamente como você. Às vezes as pessoas não se aproximam umas das outras porque têm medo, medo de serem rejeitadas. É provável que você também sinta esse medo, mas eu lhe digo: tente mesmo assim! As maiores conquistas reservam-se aos mais corajosos. O que você teria a perder afinal?
Com o tempo você construirá uma nova rede de relacionamentos, confie nisso, dê seus passos mas não tenha pressa. Busque qualidade, e não quantidade. "Escolha", mesmo que esteja se sentindo só. Não aceite qualquer vínculo só para fugir da solidão. Isso é carência e não tem um bom final para você.
IMPORTANTE! Escolha seus amigos e relacionamentos com "consciência" e não movido pela carência.
A carência é uma necessidade infantil e imatura de colocar qualquer pessoa lá, naquele buraco aberto no seu peito, na tentativa de tapar esse buraco mal assombrado que rouba o seu sono à noite! Carência é desespero, e nenhuma escolha pode ser bem-sucedida se for tomada com base no desespero.
Se você estiver carente, antes de tomar qualquer atitude, cuide de si mesmo, aprenda a preencher o vazio no seu peito com uma luz cor-de-rosa que torna seu peito quentinho. Não espere que alguém faça isso por você. Faça disso seu primeiro ato de cura. Encontre a si mesmo. Abraçe a si mesmo. Aprenda a encontrar prazer na sua própria companhia, cuide-se, se preciso busque uma terapia, até que você se sinta em paz e inteiro. Você precisará dessa paz para reconstruir a sua vida.
E então, em paz, "escolha" as pessoas de quem gostaria de se aproximar. As pessoas certas surgirão, acredite. Tenha olhos para reconhecê-las e atitude para permitir que se aproximem.
E ouça, se esse for seu objetivo, em breve você experimentará a alegria de desfrutar de uma nova vida, muito mais colorida e povoada do que você já tenha sido capaz de imaginar.
Sozinho, sim. Solitário jamais!
Fonte: *Pequenas Empresas Grandes negócios