por Eliana Bussinger
Uma geração inteira de pessoas encontra-se hoje em uma situação bastante peculiar e de longa duração, que raramente foi visto anteriormente na história humana: trata-se dos “ensanduichados financeiramente”.
São pessoas da faixa entre 40 e 60 anos. Elas tornaram-se o meio de um sanduíche cujas partes externas são compostas por seu filhos, ainda financeiramente dependentes, e seus pais, surpreendidos por um envelhecimento que se alonga, e torna-os financeiramente vulneráveis.
A imensa maioria desses ensanduichados coloca suas cabeças no travesseiro, à noite, angustiados com a pergunta, cuja resposta quase nunca é tranquilizadora: “Como vou conseguir prover meus pais idosos, meus filhos (que continuam demandando recursos financeiros até mesmo depois da universidade) e ainda conseguir me prevenir para a minha própria aposentadoria?
É uma questão capciosa que envolve a administração do futuro de duas gerações (a própria e a dos filhos) e a administração do dia-a-dia de três gerações: filhos, pais e a própria.
Toda essa problemática envolve emoção e compaixão, o que vai, portanto, muito além da questão financeira. Esse é sem dúvida, um pesado compromisso intergeracional de extensa duração (diria até mais de 20 anos), que não está sendo apreciado pelos especialistas de finanças pessoais ou seus parceiros em outras áreas.
Cuidar concomitantemente do próprio futuro, de pais idosos (70, 80 ou 90 anos) e filhos (desempregados ou subempregados, às vezes com mais de 30 anos) é tarefa árdua e quase sempre insana.
É um quadro que mereceria destaque nas avaliações de qualquer pessoa que se sensibilize para interpretar como estão agüentando as pessoas que estão vivenciando tal situação.
Em minhas próprias pesquisas percebo que as pessoas ensanduichadas estão enfrentando desafios econômicos de certa forma inusitados e freqüentemente extenuantes, cujos impactos emocionais não têm sido objetos de estudo no nosso país. Sequer vêm sendo abordados com a propriedade que mereceriam para podermos avaliar as conseqüências sociais que esse compromisso geracional trará à tona em poucos anos.
Não é difícil imaginar que muitas pessoas estão sacrificando o futuro de seus próprios futuros ao agirem com tal desprendimento com relação ao seu dinheiro: ao cuidar dos outros, colocando-se em terceiro lugar, as pessoas cometem aquele que considero um dos maiores erros financeiros em relação ao futuro dos nossos filhos: não cuidar do nosso próprio futuro.
Lembre-se que a maior herança que você pode deixar a um filho é a independência financeira dele, além da sua – dos filhos – no futuro.
Caso não cuide do seu futuro, essa situação de ensanduichamento se perpetuará em um circulo vicioso em que o próximo meio do sanduíche provavelmente será seu próprio filho.
Como lidar com o estresse financeiro
O que se pode fazer em tal situação que considero extremamente comovente:
1º) Mais uma vez “coloque a máscara de oxigênio” primeiro em você. Você só poderá socorrê-los, se estiver bem.
2º) Seguros de saúde são essenciais. São pessoas demais para se correr riscos de gastos com médicos e hospitais
3º) Seguro de vida (seu) também não deve ser esquecido, com filhos e pais como beneficiários.
4º) Pense em reservas financeiras para emergências de cerca de 3 a 6 salários
5º) Reuniões constantes com toda a família para se falar sobre os recursos e as despesas que a família incorre.
6º) Peça a colaboração de todos, na medida do possível. Não faça da sobrevivência de tanta gente a sua tarefa solitária de super-herói (ou heroína).
7º) Simplifique o máximo que puder. Viva uma vida simples para evitar o estresse e suas terríveis conseqüências.