Fadiga por ter que decidir

Fadiga por ter que decidir, ou melhor, fadiga de decisão, este já é um termo alcunhado pela psicologia. Uma dica de ouro: evite tomar decisões importantes em momentos de cansaço ou mal-estar emocional.

Pense no seguinte cenário… Não tenho tempo para responder aos e-mails, então não irei almoçar. O WhatsApp está lotado de mensagens pedindo respostas urgentes. Os colegas sinalizam que contam com as suas soluções assertivas para o fechamento daquela importante concorrência, mas você se percebe exaurido, zonzo, atordoado.

Agora, você só pensa em se deitar, dormir e acordar só depois que acabar a pandemia. Pois sua capacidade mental está esgotada, no limite. E num lampejo de realidade, se dá conta que ainda está na parte da manhã do seu dia e que ainda não trabalhou ao ponto de ficar exausto.

O fato é que se você tomou decisões demais durante o dia, certamente preferiria delegar aquela importante decisão para outra pessoa. Entende-se aí que as decisões de trabalho, familiar ou social também podem ser delegadas. Tudo bem se você vier a se arrepender depois, mas não importa, já que você não tem vontade de decidir mais nada, tudo o que deseja é ir para o aconchego da sua cama, enquanto o mundo pega fogo ao seu redor.

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Fadiga por ter que decidir

Você entendeu o espírito da situação, se identificou? Então, talvez você esteja com fadiga de decisão, termo criado pelo psicólogo norte-americano Roy Baumeister, que pode ser entendido como o fenômeno que ocorre após um período prolongado de tomada de muitas decisões. Essa fadiga por ter que decidir afeta a qualidade e a própria força de vontade para executá-las.

Na prática, essas circunstâncias poderiam justificar por que uma pessoa prudente e responsável se irrita com alguém sem um motivo aparente; ou compra uma quantidade exagerada de junk food no supermercado, mesmo tendo hábito alimentares saudáveis, ou fica até altas horas da noite gastando grande soma de dinheiro em compras online compulsiva, ou até se envolve em relacionamentos amorosos tóxicos e furtivos.

Diferentes variáveis influenciam nossa capacidade de decisão e nosso estado emocional, levando assim a decisões ruins. Ou seja, não importa quão racional e formal você seja, você não pode tomar uma decisão após a outra sem que isso cause estragos na sua saúde mental.

Embora o cérebro esteja predisposto a realizar multitarefas, pessoas impulsivas são mais suscetíveis a estímulos como redes sociais e hiperconectividade. Isso acelera o nosso cérebro e, portanto, tomamos um número muito maior de decisões sem nos dar conta disso.

Fatores que influem na decisão de um juiz

Em um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, psicólogos examinaram os fatores que influem se um juiz aprova ou não uma petição de liberdade condicional. O que eles observaram foi que as decisões que tomavam não eram tão afetadas pelo tipo de crime que as pessoas cometeram, mas pela hora do dia em que estavam julgando. No início da manhã, o juiz concedia liberdade em 65% das vezes. No final do dia, quando chega a fadiga da decisão, as sentenças favoráveis se reduziam a zero.

Não podemos parar de tomar decisões em um mundo onde somos julgados por nossa capacidade e rapidez mental, mas podemos otimizar essas decisões. Especialistas recomendam evitar tomar as decisões importantes em momentos de cansaço ou mal-estar emocional. Também parece aconselhável estruturar as nossas tarefas diárias e abandonar as que não são prioritárias, bem como as que não nos pertencem, pois às vezes costumamos decidir e agir pelos outros.

Para não alongar muito o assunto, criar uma rotina bem pensada é primordial. Mark Zuckenberg, o criador do Facebook e Barack Obama, o ex-presidente dos Estados Unidos, por exemplo, declararam que todos os dias usam o mesmo tipo de roupa, porque assim têm uma decisão a menos a tomar, você não precisa chegar a esse extremo!

Mas precisa ter em mente que o dia a dia nos leva a um modo de piloto automático em que só reagimos aos estímulos externos, sem parar para pensar e refletir. Por isso, o mais importante é desconectar o cérebro e descansar. Decisão que parece simples, não?

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Coordenador do serviço de atendimento a pacientes com tricotilomania no PRO-AMITI/IPq FMUSP. Supervisor clínico na UNIP. Psicólogo pela Universidade Metodista. Mestre em ciências pela Faculdade de Medicina da USP. Especialização em Terapia Cognitivo-comportamental pelo Ambulim/IPq FMUSP. Especialização em Psicologia Hospitalar pela UNISA