por Marisa Micheloti
Recentemente escrevi uma matéria para essa coluna abordando a temática do orgasmo no mundo contemporâneo. Apesar de ter idéia da importância da sexualidade e do desejo do ser humano de atingir o orgasmo, não imaginei que pudesse ter uma repercussão tão intensa e rápida. Em um único dia cerca de 200 e-mails solicitando que fossem respondidas dúvidas, anseios, dores e incômodos a respeito de uma vida íntima em seus relacionamentos. Exposições a respeito das dificuldades mais intensas de como cada leitor se sentia com o (a) companheiro (a) e vice-versa.
Muito desses e-mails eram verdadeiras cartas confidenciais. Pude ir entrando em contato com a preocupação, o desespero e principalmente a culpa sentida pelo homem por não ter uma companheira que sinta prazer. Pois é, a metade desses e-mails eram de homens, o que chamou muito minha atenção, pois as mulheres são antigas freqüentadoras de terapia, expõem seus sentimentos mais íntimos muito mais para as amigas, compartilham e desbravam assuntos pessoais com muito mais facilidade. Os homens adoram os amigos, reúnem-se em bares e clubes, mas as conversas são superficiais e quando profundas são destinadas à política, ao esporte, ao lazer. Falar da vida íntima não é comum entre eles.
A sexualidade é uma área que reflete uma série de insatisfações que percorrem uma privacidade e assombram as áreas mais distintas do ser humano. Não é só de prazer que vive uma relação sexual, este prazer muitas vezes é um grande mito que faz as pessoas se sentirem únicas quando têm ejaculação precoce, anorgasmia (ausência de orgasmo), ou outras disfunções sexuais como as citadas pelos leitores. A mídia transmite cenas de poder, de sucesso e de grandes conquistas. A vida real não reflete isso. Temos conflitos estabelecidos, insatisfações e falta de desejo que são interpretadas como únicas daquele casal.
Mesmo que todas essas mensagens recebidas tenham um caráter de dor e sem dúvida fico sensibilizada, mas ao mesmo tempo fico contente de perceber que homens estavam escrevendo perguntando-me: "como faço para que minha namorada atinja o orgasmo", "preocupo-me com minha mulher se ela não tem orgasmo", "sinto-me culpado por não fazê-la ter orgasmo"; "fico inseguro quando a relação não exprime prazer". Pois é, quantas coisas importantes, quantos assuntos pertinentes a um relacionamento novo onde se percebe que o homem está SIM preocupado com a mulher e ela é SIM muito importante para ele.
Consegui observar também como esse movimento de relacionamento sexual acontece em um campo silencioso. Os homens estavam preocupados com as mulheres quando, na verdade, ouço as mulheres dizendo que eles não estão nem um pouco interessados nelas. São egoístas e quando pensam em sexualidade o que importa é o prazer deles, repetem as mulheres. Pude perceber nas mensagens enviadas homens sinceros, de coração aberto, sofrendo com os sentimentos vividos.
Reflito que tenha algo que ainda é vivido com muita dificuldade na relação amorosa entre homens e mulheres que é a questão da CONFIANÇA, onde simplesmente cada um confia apenas em si, mas nunca naquilo que o outro possa estar sentindo, mantendo-se dessa maneira relações superficiais onde a entrega passa a ser algo perigoso ao universo egocêntrico de cada um.
Dessa maneira não teremos chance de prazeres sexuais pois a melhor maneira de conquistar um orgasmo ou de aceitar posições sexuais propostas pelo parceiro é estar confiando na pessoa com quem se está tendo um relacionamento de entrega. Estabelecer vínculos de confiança é fundamental para falar sobre seus anseios, medos e sentimentos de inferioridade de um ou de outro. Preocupar-se com o outro não é motivo de vergonha, mas sim uma grande chance para se ter uma relação calorosa e digna.