por Antonio Carlos Amador
Depoimento de uma leitora:
“Meu nome é Anabela, tenho 24 anos e estou saindo com um homem há seis meses, ele tem 34 anos. Nós nos amamos e tocamos numa banda de música pop. O problema é que ele é casado e vive com uma mulher há onze anos, com a qual tem dois filhos pequenos. Eu lhe disse que nossa relação não iria durar por causa disso, mas ele respondeu que não amava mais a esposa e que só ficava com ela por causa dos filhos. Eu não sei se devo continuar com ele. Não me sinto à vontade com isso”.
Quando nos sentimos atraídos por outras pessoas, devemos nos interrogar sobre a origem desse desejo. Na maioria dos casos a origem está no desconforto da relação conjugal, não no apelo irresistível do outro ou outra que interfere dessa forma no relacionamento. Esse desconforto, com o desejo de seduzir outra pessoa, de viver “aventuras”, reflete uma procura de si mesmo, uma necessidade de afirmar-se. É também uma necessidade de fugir, uma recusa de aceitar a realidade.
A fidelidade ainda é muito valorizada em nosso meio. Porém, ela não deve ser imposta, como uma obrigação, mas deve ser resultado da relação equilibrada do casal. Num casal onde cada um se realiza plenamente e não tem necessidade de procurar fora o que não encontra na relação a dois, não se coloca essa questão. O que mostra que um casal não anda bem é o desequilíbrio e o mal-estar de cada um e não uma ou outra deficiência específica. A fidelidade não é algo a ser imposto. Ela deve existir por si, no encontro amoroso entre duas pessoas, que criou uma ligação muito forte e que permite uma realização. A fidelidade é um sinal de equilíbrio do relacionamento do casal e não mero fruto de uma decisão.
Mas quando a causa do desejo de infidelidade é a ausência, afetiva ou física do cônjuge, é preciso questionar a própria covardia com recusa de enxergar a realidade. E ao invés de enfrentar o problema é mais fácil procurar algo fora, encontrar um paliativo. Assim como a fidelidade, a infidelidade é o reflexo de uma situação.
A fidelidade é importante quando é livremente consentida, quando não é imposta e se insere em uma relação a dois, onde cada um mantém sua liberdade. Essa liberdade não quer dizer que cada um possa fazer o que lhe der na cabeça, mas é essencial para a realização pessoal.