por Anette Lewin
Depoimento de um leitor:
“Estou passando por uma situação um tanto quanto complicada (aparentemente). Estou casado (amásio) há cinco anos. A relação nasceu após três meses de namoro, quando ocorreu a gravidez. Ocorre que naquele momento, entendi que o melhor seria morar junto e criar o filho. Entretanto, estava, e ainda estou, passando por uma extrema dificuldade com meu ex-casamento, o que direta ou indiretamente está impactando no atual relacionamento. Durante esses cinco anos, tivemos bons e maus momentos, mas um em particular me chamou a atenção. Em uma conversa, "amistosa/normal", chegamos a concordar que estamos no relacionamento para dar ao nosso filho a segurança de ter uma família. No fundo, sinto uma enorme vontade de me separar, pois não me encaixo nessa situação. Por outro lado, não gostaria de desapontar meu filho que irá fazer cinco anos, onde, acredito eu, que sou um bom pai e ele me ama muito. Digamos que o relacionamento está de morno pra frio, mas sem brigas ou discussões pra justificar ou se esconder atrás de um motivo para a separação. O que devo fazer? Continuar o relacionamento visando apenas o bem-estar do meu filho, em sacrifício próprio? Continuar do jeito que está, aguardando a criança ter mais idade? Ou simplesmente abrir o jogo com a parceira pra dizer: preciso me separar, sou um bom pai, mas não consigo, nem no mínimo, ser um bom marido.”
Resposta: O relacionamento amoroso saudável é aquele em que os envolvidos estão juntos porque querem, porque se sentem bem juntos e têm planos e objetivos em comum. Qualquer outro motivo pode ser caracterizado, como se diz popularmente, como um relacionamento "por interesse". E qualquer relacionamento "por interesse" é, no mínimo, questionável. Pode até durar um certo tempo, mas depois tende a se tornar insuportável.
No seu caso vocês estão juntos "por interesse". Pelo interesse de dar a uma criança uma família com pai e mãe vivendo juntos. Mas não podemos esquecer que o que determinou o casamento de vocês foi uma gravidez indesejada, que gerou uma criança que está sendo usada para manter uma relação amorosa que, de certa forma nunca foi saudável.
Você pergunta se vale a pena manter essa situação pela criança. Não é possível fazer um julgamento através dos poucos dados que você envia em seu e-mail. Mas talvez valha a pena você tentar separar relação amorosa de paternidade. Seu filho será sempre seu filho. Certamente, tanto você quanto a mãe dele tentarão dar a ele carinho, amor e segurança.
O que está em questão é seu casamento que, ao que parece, está esgotado para você. É claro que um casamento pode renascer das cinzas quando o casal assim o deseja. Mas não me parece o caso. Ambos têm consciência que se não existisse a criança muito provavelmente não existiria casamento.
Assim, ao invés de temer que uma separação possa decepcionar seu filho, tente olhar a questão por outro ângulo.
Será que é saudável para uma criança viver em uma casa onde os pais não se dão bem?
Será que o peso de ser a responsável pela manutenção de um casamento em ruínas não pode ser grande demais para essa criança?
Será que pai e mãe mais realizados em suas relações amorosas não terão uma influência melhor sobre a formação emocional desse filho?
Sim, a segurança emocional que se pode dar a uma criança não precisa vir, necessariamente, de uma família estruturada nos moldes tradicionais. Pode vir de pessoas que a acolhem bem em momentos de necessidade, que passam a ela a sensação de que gostam dela, se preocupam com ela e querem o seu bem. Problemas conjugais não resolvidos podem vampirizar a energia do casal e torná-los incapazes de suprir as necessidades dos filhos. Pai e mãe bem resolvidos em suas necessidades afetivas podem dar um suporte emocional mais consistente, mesmo separados.
Se você e sua esposa estão com dificuldades de tomar uma decisão sobre o casamento, talvez seja aconselhável procurar uma terapia de casal. Ela pode ajudá-los a se sentirem mais seguros com relação à decisão a ser tomada. E ajudá-los a entender melhor o que cada um espera de um relacionamento amoroso. Você já se separou uma vez e relata que os resquícios do seu primeiro casamento atrapalham o segundo. Essa também é uma questão que pode ser trabalhada em terapia para que você não corra o risco de problemas mal resolvidos de seu casamento atual interferirem numa relação futura.
Em suma, evite tomar resoluções justificadas por terceiros, no caso, seu filho. Cabe a você e sua esposa decidirem se ainda querem ficar juntos ou não.
Independentemente de sua idade, a criança ficará bem se a decisão envolver consciência, cuidado e afeto. E entenderá que sempre poderá contar com pai e mãe, vivam eles juntos ou separados. O importante é que entre pai e mãe haja respeito. E que pai e mãe respeitem sua criança evitando envolvê-la ou usá-la para resolver problemas que não são dela. Simples assim.
Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracteriza como sendo um atendimento.