por Carminha Levy
Como nos dias atuais essa imensa sabedoria de D. Juan, que vocês vêm conhecendo através destes dois últimos textos, pode ser posta em prática pelos neoxamãs ou xamãs urbanos?
O xamanismo surge para nos trazer à luz da consciência e do sagrado. Ao longo dos anos este trabalho de luz e revelação que nos diferencia, o animal humano que somos, dos seus companheiros animais que permanecem na inconsciência, vem sendo feito sem muita percepção de sua grandeza por parte dos homens.
Os novos xamãs receberam a missão de fazer o retorno do sagrado como a única chance de salvar a humanidade do caos existencial que vivemos e que, se não estivermos engajados neste intento, voltaremos a ser as bestas humanas que já se revelaram por se destruírem mutuamente. Estão matando a Mãe Terra!
Trazendo para nosso cotidiano primeiramente, constatamos que esta consciência egóica necessita refletir sobre as ciladas que o 'homem de conhecimento' se defronta e como usar os instrumentos de espreita, intento e dos sonhos para sair delas.
Iniciando pelo medo, nosso grande conhecido, a barreira para a iniciação (entenda-se aqui a iniciação como qualquer mudança). O ego decide enfrentar a iniciação que se tornará realidade, se a pessoa conseguir revelar nos seus atos cotidianos, que ela realmente mudou e que poderá ser inspiradora para todos que a cercam. Vencendo aspectos do medo (pois este jamais será vencido totalmente por ser também nosso aliado, nos dando a cautela dos parâmetros das limitações da sobrevivência), surge a clareza que tanta luz sobre um ego fraco tende a cegá-lo, como o holofote de um carro que vem em nossa direção na noite escura.
Cria-se um dono da verdade que, tomado por esta ilusão, cai na mão da mais tirânica cilada – o poder.
Conhecemos bem estas pessoas, desde o tirano – "meu amo e senhor" – que totalizam o poder do patriarcado em cima de sua mulher e filhos, aos chefes prepotentes e o mais temível – líderes religiosos, criadores de seitas que levam multidões a se suicidarem em nome de um deus tão desumano quanto ele.
Mas o poder sem o amor e a reflexão de sua grande força é como o ídolo de pés de barro que, no primeiro movimento de contestação cai por terra.
Como última cilada o ego se defronta com o resultado da vida que passou – a velhice.
Se ele teve esses confrontos que, curiosamente não são seqüenciais, mas que podem nos prender em qualquer momento da vida e saiu ileso deles, vai entrar na morte do ego negativo, reconhecer sua precariedade humana e se tornar um humilde sábio que sabe que jamais será perfeito, mas sim inteiro. Todo esse processo deve ser acompanhado pelo Homem de conhecimento dos dias atuais, por um guia interno ou externo que, como um mestre tal qual D.Juan, vai mostrando-lhe o caminho.
Este mestre pode ser também um psicoterapeuta, pois lapidar o brilhante que é o ego exige dedicação, empenho e profundo conhecimento de si mesmo.
Este guia interno ou externo, desenvolverá a habilidade de neoxamã de se auto-analisar, sentindo, percebendo suas mudanças interiores, principalmente a fala do corpo – os instintos e a capacidade de agir rapidamente como um animal que espreita sua presa – neste caso, ele mesmo. Surge a intenção clara do que quer mudar. É uma força que vem do coração pelo alinhamento do corpo com a mente e necessita da vontade.
Só um Ego forte pode dominar a espreita associando-a com a intenção. E para mover este ego, a visão de sua fraqueza e de sua força vai determinar o "sonho" que realiza sua alquimia, abrindo um canal subliminar de contato com outras esferas transpessoais.
Assim, ele se transformará no 'Guerreiro da Luz' a serviço da cura da Mãe Terra e sua vida estará realizando o serviço para que veio.