por Renato Miranda
Quando escutei a expressão “limpar a mente” pela primeira vez nos anos noventa, na Rússia, quando fui aluno do professor de psicologia do esporte, Anatoly Aleseev, no Instituto de Cultura Física de Moscou, eu percebi que era algo comum de se escutar nos ambientes de treinamento de atletas olímpicos orientados por Alexseev.
Tal expressão é aplicada para simplificar a matriz da concentração, ou seja: o envolvimento. Interessante observar que nos estudos de Mihaly Csikszentmihalyi, professor de psicologia da educação da universidade de Chicago sobre a teoria por ele desenvolvida e consagrada internacionalmente como “Flow feeling” (também designado sentimento de fluir ou simplesmente fluir, fluidez ou fluxo), observa-se uma especial semelhança.
Isto porque o envolvimento promove a concentração intensa na tarefa e a fusão entre ação e atenção, consideradas como dimensões ou características da fluidez. Em outras palavras, nós só nos concentramos profundamente em uma tarefa se estivermos espontaneamente envolvidos.
Ao realizar um breve estudo sobre o pensar desses dois especialistas eu cito e organizo de forma condensada, a seguir, as ideias de ambos sobre o significado de “limpar a mente” e concentração.
O desafio atual do esporte ou outra atividade humana que exija alto desempenho se resume na pressão constante por resultados rápidos. Assim sendo, de maneira geral, atletas e outros profissionais (em muitos casos estudantes também!), têm a consciência e autoavaliação de que a atenção dispensada não será suficiente para lograr êxito, e com isso, restarão dúvidas e desilusão.
Mas por que, nesse caso, não é possível mobilizar a atenção (concentração!) para se obter sucesso? Conforme Mihaly é por que raramente ficamos centrados no presente, pois estamos muito aflitos e impacientes com aquilo que está por vir. E sabe-se que quando a aflição e a impaciência “invadem” a nossa mente perdemos a capacidade de pensar adequadamente. Logo, não é possível adquirir concentração, pois não haverá envolvimento, já que a aflição dispersa a mente em pensamentos irrelevantes para a execução da tarefa em questão.
Nossa mente é limitada no sentido de conseguir processar: a percepção, a comparação de informações, avaliar e decidir o que fazer simultaneamente. A mente processa uma pequena quantidade de informação de cada vez e aquilo que experimentamos na maior parte do tempo, precisa, segundo Mihaly e Alexseev, ocorrer em sequência (uma coisa depois da outra).
Portanto, “limpar a mente” é, sobretudo, centrar (envolver) a mesma em uma única tarefa relevante e eliminar os pensamentos irrelevantes (aqui está um dos pré-requisitos para fluir!). Durante a tarefa é preciso não dividir a mente entre a atividade específica e tudo o mais que preenche a vida do atleta (em nosso caso!), como: família, repercussões midiática, expectativas internas e externas, preocupações diversas e recompensas futuras.
Investir na capacidade de se manter atento no momento presente, portanto, é um passo fundamental para fluir nas atividades satisfatórias, pois assim não restará espaço (“mente limpa!”) para informações pouco relevantes.
Quando nosso pensamento (mente!) está “mergulhado”, absorto, envolvido em uma única atividade, nós teremos uma consciência (controle!) unificada que acompanha a fusão da ação e da atenção. Observe que quando você faz algo com uma ótima percepção de controle você não pensa (questiona!) seus movimentos (sua ações!), você simplesmente faz! Talvez aí esteja o aspecto mais revelador da experiência do fluir segundo o próprio Mihaly.
Portanto, o esforço de ficar totalmente absorvido pelo o que se está fazendo é o sentido de que estamos concentrados e com a “mente limpa” de pensamentos e emoções dissociados daquilo que estamos a fazer.
O resultado disso é que sentiremos recompensa e prazer pelo esforço, pois a atenção é a melhor energia psíquica disponível para melhorar a qualidade de nossas tarefas. E assim, estaremos fluindo. Ou como diz Mihaly csikszentmihalyi:
"Fluindo, a pessoa está de tal maneira mergulhada em uma atividade que nada mais parece ter importância. A experiência em si é tão agradável que a pessoa a vivenciaria novamente mesmo pagando um alto preço pelo simples prazer de senti-la."