por Roberto Santos
“Sou formado em administração de empresas e estou terminando meu mestrado também em administração pela USP de Ribeirão Preto. No entanto, estou com muita dúvida de que caminho seguir profissionalmente. Gosto muito de administração, mas vejo que a dinâmica do mercado de trabalho nessa área não me atrai nem um pouco. Pela pouca experiência que tive em empresas, achei um ambiente muito incompatível com meu perfil. Muita impessoalidade e pensamento focado em dinheiro com pessoas “vazias”. Há tempos venho pensando em fazer um curso de psicologia, na busca de alinhar alguns objetivos profissionais/pessoais que tenho: satisfação no processo profissional, recompensa financeira e recompensa pessoal, ou seja, poder ajudar diretamente uma pessoa.”
Resposta: Muitas vezes na vida, partimos de premissas tomadas como verdade, baseados em poucas experiências que podem ter sido enviesadas numa direção como se fossem verdades absolutas.
No mesmo sentido, fazemos algumas escolhas com base em informações incompletas ou fundamentadas nas interpretações e vivências alheias que adotamos como próprias. Você optou pela graduação na área de Administração de Empresas para sua carreira e depois ainda confirmou essa decisão fazendo um mestrado. Certamente, o conhecimento adquirido em todos esses anos de vida acadêmica voltado à administração deve ter incluído alguma ideia sobre a individualidade das organizações de forma relativamente análoga à individualidade dos seres humanos.
As organizações, como os seres humanos, têm um corpo físico, na forma de sua infraestrutura de prédios, móveis, máquinas, etc; elas têm seu equivalente à fisiologia do corpo humano, na forma dos processos de produção, administrativos e outros; assim como nós temos nossas emoções que dão o tom para nossas interações com os demais, as organizações têm seu clima organizacional. O astral que você sente quando entra numa organização e passa algumas horas observando ou papeando com seus membros. E, por último, as organizações têm sua personalidade, definida por sua missão, visão e valores, não apenas o que é declarado em quadros sobre as paredes, mas aqueles comportamentos reveladores de seus líderes quanto ao que é valorizado na organização.
Assim, sua experiência em empresas com “muita impessoalidade e pensamento focado em dinheiro com pessoas vazias” pode ter sido distorcida pelo “indivíduo-organização” que você conheceu, o que não precisa ser representativo da “espécie” como um todo. Claro que empresas são focadas em lucratividade e isso você deve ter aprendido no primeiro semestre da faculdade. Agora, o equilíbrio entre o foco no dinheiro e nas pessoas varia muito de uma para outra — cheque as listas de Melhores Empresas para se Trabalhar, para ver que as práticas de algumas delas diferem de sua experiência.
Por outro lado, quando você pensa em migrar para a Psicologia, revela interesse num campo que pode ser próximo ou muito distante do mundo da Administração. A Psicologia Clínica está muito distante e o tempo e investimento para ser um profissional competente, diferenciado e bem remunerado pode ser muito mais elástico do que imagina. A Psicologia Organizacional, por sua vez, agregada à sua graduação e mestrado em Administração lhe abriria portas para a área de Recursos Humanos nas empresas com retorno interessante em bem menos tempo especialmente se somar fluência em outro idioma, como inglês ou espanhol. Dentro de limites, a distinção entre uma faculdade boa e ruim se dá muito mais pelo aluno do que pela instituição.
Por último, só você pode priorizar o que quer para os próximos anos de vida — para manter ou ampliar rapidamente seus recursos financeiros, uma faculdade noturna lhe permitiria confirmar o que afirmei sobre a área de RH e, depois de formado, uma boa pós-graduação latu-sensu em uma “boa” escola complementaria seu CV com o “carimbo” de uma escola de nome — o que você já tem com a USP em suas credenciais. Agora, se qualquer ligação com o mundo organizacional e empresarial está fora de seu norte para a vida profissional, você deve estar preparado para deixar para trás os seis ou sete anos que dedicou à Administração. Busque sua verdadeira vocação e bola pra frente — aproveite sua juventude para experimentar, arriscar, até encontrar a felicidade.
Boa sorte!