por Alex Botsaris
Nós, seres humanos, somos muito ligados ao sentido da visão. Como São Tomé, muitas vezes temos dificuldade em acreditar naquilo que não vemos ou não podemos perceber através dos nossos sentidos. Por isso, quando o engenheiro elétrico Seymour Davidovich Kirlian conseguiu obter fotos de uma luz que irradiava da superfície da pele, muitas pessoas acreditaram (inclusive o próprio Kirlian) que haviam fotografado a alma humana. Esse fenômeno ficou conhecido como fotografia Kirlian em todo o mundo, como uma homenagem ao seu descobridor.
Entretanto, mais de 50 anos se passaram e não existe consenso sobre o que o fenômeno representa, muito menos se pode expressar o espírito. Do ponto de vista físico, a fotografia Kirlian registra o fluxo de eletricidade estática (ou seja de elétrons) que passam por dentro da chapa fotográfica, quando forma-se um forte campo magnético gerado por uma corrente de elevada amperagem.
O fenômeno Kirlian já havia sido relatado por outros pesquisadores antes do engenheiro russo, mas foi ele quem fotografou, publicou e popularizou sua descoberta. Inicialmente, os físicos russos não deram muita importância, mas com o crescente interesse, em especial dos segmentos místicos e religiosos dos países ocidentais, houve uma recomendação do governo russo para se pesquisá-lo a fundo. Até hoje os maiores entusiastas e os que mais publicam sobre o fenômeno Kirlian são os russos.
Os críticos alegam que o efeito Kirlian não passa de uma manifestação de eletroestática, que pode ser influenciada por dezenas de fatores, como a umidade relativa do ar, a temperatura ambiente, a posição da mão no aparelho, o tipo de aparelho e a pressão que a pessoa faz com os dedos contra a chapa fotográfica. Os incrédulos ainda exibem outros argumentos, como o fato de corpos inanimados também gerarem uma corrente eletroestática e poderem ser fotografados através da técnica Kirlian, ou que o padrão das fotos não tem lógica ou reprodutibilidade explicada por uma teoria matemática aceita no mundo da ciência.
Mas existe também um outro lado. São evidências que sugerem que essas críticas podem ser excessivas, e que o efeito Kirlian realmente espelha um aspecto até então desconhecido das funções biológicas. Um estudo feito com 118 pacientes internados num hospital na Rússia, mostrou que os achados na fotografia Kirlian tinham relação com as patologias dos pacientes em mais de 97% dos casos. Uma outra pesquisa foi realizada no Centro de Radiologia de Abteilung, na Alemanha, com 30 pacientes, onde foram feitas 10 fotos Kirlian uma a cada 15 minutos de todos os dedos dos participantes. As imagens obtidas foram avaliadas quanto a cor, forma, intensidade, etc, e os padrões, submetidos a avaliações estatísticas. Nesse estudo, houve a identificação de um padrão individual e de padrões coletivos, causados pelas mudanças de humor, que ocorreram após a exposição a agentes estressores. A avaliação estatística revelou resultados significativos.
Pesquisadores da área de medicina chinesa acreditam que o efeito Kirlian seja a visualização do sistema de canais ou meridianos, que até hoje não conta com uma descrição anatômica definitiva. Já alguns pensadores ligados a medicina ayurveda intuem que ela possa representar a aura gerada pelos Chakras, ou centros de energia que os Indus dizem que possuímos em nosso corpo. Se ela representa a alma, os canais ou os Chakras nós não sabemos, mas tudo indica que pode ajudar no diagnóstico e compreensão de fenômenos psicossomáticos.
Um estudo de revisão da literatura cinetífica, feito pelo Centro da Saúde da Universidade de Salford, na Inglaterra, concluiu que a técnica é pouco estudada, o que dificulta conclusões diagnósticas, mas que as evidências indicam que é capaz de registrar fenômenos psicossomáticos.
Um terceira investigação, realizada pelo Instituto de Cultura Física de São Petesburgo, com dois grupos, um com 61 jovens, e outro controle com 56, avaliou a fotografia Kirlian de pessoas sob meditação profunda. O primeiro grupo fez 7 semanas de treinamento para meditação, enquanto o outro foi orientado para meditar, sem ter qualquer tipo de treinamento. O segundo grupo, chamado de grupo controle, teve apenas mudanças discretas nas fotos, enquanto o grupo que meditou experimentou grandes mudanças: (grande aumento no brilho, no halo luminoso, que passou a ocupar toda a circunferência do dedo). As diferenças foram muito significativas, caracterizadas por uma probabilidade inferior de 1 em mil de ser ao acaso.
Para esquentar mais o caldeirão das discussões, recentemente duas outras técnicas de imagem, que alegam fotografar a aura ou o espírito foram introduzidas: Uma, chamada de Visualização por Descarga de Gases (GVD), representa um forma mais sofisticada e computadorizada de fotografia Kirlian. A segunda, chamada de Fotografia Policromática de Interferência (PIP), também é uma técnica derivada do método Kirlian, que explora diferentes comprimentos de onda, e alega ter mais precisão diagnóstica. O fato é que essas técnicas novas provocam ainda mais ceticismo e críticas no mundo acadêmico que a própria foto Kirlian.
É muito interessante a experiência de fazer uma fotografia Kirlian. Certa vez, na preparação do material para o livro Medicina Doce, eu me deixei fotografar e o resultado apontou para problemas que estava tendo realmente naquela época. No meu entender, seria válido se os pesquisadores da academia dessem maior espaço para investigar melhor o efeito Kirlian.