Grupo de mães nas escolas e o bullying praticado por elas 

Busca-se combater tanto o bullying entre as crianças nas classes e nos recreios e não parece existir questionamento a respeito de atuações assemelhadas aos bullyings que são exercidas por algumas mães.”

Não há dúvida de que o avanço da tecnologia da informação, facilitou em muito a vida das pessoas nas últimas décadas. A telefonia celular e com ela, aplicativos como o WhatsApp, trouxeram meios de acompanhar a vida dos filhos, gerando mais tranquilidade e segurança aos pais.

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Pode-se perguntar: que tipo de mundo está se criando com a tecnologia? Estão se construindo circunstâncias que aumentam as possibilidades de crescimento para a humanidade em termos de liberdade, de sociabilidade, de inteligência, de criatividade e de autorregulação? Ou estão se construindo o contrário?

Hoje, tudo se faz em interfaces, no trabalho e no lazer. Convive-se nos espaços criados pelos meios eletrônicos. A escola, como espaço de construção do conhecimento, tem se beneficiado muito dos meios eletrônicos e pode se beneficiar muito mais com os recursos advindos da Inteligência artificial.

Mas, voltando à pergunta: que tipo de mundo está se criando com a tecnologia? No âmbito específico dos grupos de pais, que, na realidade, são prioritariamente ainda grupos de mães, quais os benefícios e quais os malefícios?

Com certeza poder combinar com as outras mães, horários e locais de encontros extraescolares, saber que eventos estão sendo previstos, como compartilhar os interesses do grupo e principalmente como participar objetivamente em um grupo formado com o objetivo de integrar as famílias dos colegas, tudo isso pode favorecer a inserção do filho na situação escolar mais ampla. Buscar identificação com algumas famílias pode aumentar a segurança de que o filho ou a filha estará bem acompanhado.

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Grupo de mães nas escolas e bullying

Porém, existe um lado mais sombrio nesses grupos que é necessário registrar.

Busca-se combater tanto o bullying entre as crianças nas classes e nos recreios e não parece existir questionamento a respeito de atuações assemelhadas aos bullyings que são exercidas por algumas mães. Discute-se tanto diversidade na sociedade atual, buscando o politicamente correto, insistindo em ensiná-lo às crianças. Também, parece não existir questionamento a respeito dos preconceitos que subjazem nas atitudes de muitas mães nesses grupos organizados pelas escolas.

Na prática, crianças, muitas vezes, ainda são discriminadas pela família de seus colegas, por terem alguma deficiência, alguma patologia. Deixam de ser convidadas para eventos, nos quais todas as crianças da classe foram convidadas. Crianças mais impulsivas, agressivas, ainda bem jovens, são marginalizadas do núcleo maior dos colegas, por exigência de mães às professoras, que não querem que seus filhos fiquem próximos dessas crianças.

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Lidar com mais impulsividade e agressividade de crianças pequenas é uma função da escola, dos professores, essa função não cabe às famílias. Mas, o que se observa é que, nos dias de hoje, uma mordida, um puxar de cabelos, um empurrão, são discutidos em alguns grupos de mães e geram imediatamente pedidos de interferências às escolas, determinando muitas vezes discriminações sem nenhuma razão.

Talvez, em muitos casos, as crianças se resolveriam sozinhas com seus colegas e professores sem a interferência do grupo de mães. Penso que vale a reflexão.

 

É psicóloga especializada em psicoterapia de crianças e adolescentes. Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC e autora de vários livros, entre eles 'Pais que educam - Uma aventura inesquecível' Editora Gente.