por Lilian Graziano
Tenho me dedicado neste espaço a discorrer sobre o que é felicidade e como encontrá-la, à luz da Psicologia Positiva (PP).
E, enquanto faço isso, pessoas chegam ao meu consultório com todo tipo de dúvida acerca de como ser feliz, em busca de respostas prontas. Digo que, em se tratando de felicidade, elas não existem. O bem-estar, como a teoria em Psicologia Positiva o define, é subjetivo. Mas a busca por felicidade é algo intrínseco à nossa existência. Não é novidade. E a falta de êxito em compreender essa busca e em ser feliz, na modernidade, logrou as mais diversas teorias antifelicidade. Talvez isso explique uma das mais recorrentes questões que me chegam.
Cansada de suas tentativas de ampliar o bem-estar em sua vida, uma cliente me perguntou se tinha a obrigação de ser feliz. Respondi que não. Perante ninguém há a obrigação de sermos felizes. Mas acredito que ninguém, em sã consciência, contente-se com a infelicidade como modo de vida. E não buscar a mudança seria simplesmente desistir de uma existência plena. Seria deixar a vida nos levar por um caminho tortuoso, enquanto é possível navegar por águas mais calmas e límpidas, embora não sem esforço em velejar…
Para compreender minha cliente, é necessário lembrar os anos de glamour disseminado na melancolia permanente de festejados poetas e filósofos. Isso em paralelo a um processo de medicalização e racionalização nas explicações de nossos comportamentos e dos chamados, até então, “males da alma”.
Enquanto Freud resumia nossa existência a um tratado de pulsões e histerias, o filósofo Friedrich Nietzsche não admitia a possibilidade de uma felicidade contínua, dizendo que a nós bastava que a desejássemos, que não queríamos, de fato, ser felizes. Já Albert Camus, poeta e filósofo, chegou a discorrer sobre o absurdo da existência humana e tinha o suicídio como alternativa legítima para o findar de nossas inquietações e tristezas. No campo da arte, as mais belas canções de toda uma era dizem de um amor inalcançado, rimando-o com dor e ardor.
Talvez tais conceitos constatassem nossas angústias em um determinando contexto, mas é difícil encontrar, em pensamentos contemporâneos aos citados, algo que nos apresente um caminho diferente a seguir. A melancolia, a infelicidade e o viver sem a plenitude de um amor verdadeiro eram, de fato, modos de vida admitidos e festejados. E sem uma espécie de “antídoto” para tanta infelicidade. A pergunta de minha cliente, levando-se em conta sua bagagem cultural e de vida, assim como para todos os outros pacientes que me perguntam a mesma coisa, faz todo o sentido.
Ocorre que hoje vivemos em uma nova era, desta vez munidos de conhecimento científico o bastante para saber do que precisamos para atingir nosso desenvolvimento pleno. O “antídoto” chegou. Nossa felicidade não só é discutida por filósofos, sociólogos e antropólogos, poetas e psicólogos, como é testada, medida, exercitada e tais experiências têm sido compartilhada com frequência nunca antes vista, desde a fundação da Psicologia Positiva no final dos anos 1990. Não que não haja angústia, melancolia, mas já sabemos que nem sempre isso é doença ou alternativa.
E, voltando à pergunta de minha cliente, ainda observo que há quem viva infeliz por obrigação, talvez para parecer mais intelectualizado ou menos suscetível aos “modismos contemporâneos”. Contudo, são pessoas que jazem num mar de dor e de ausência de sentido, alheias ao fato de que a felicidade, ainda que trabalhosa, é algo muito mais fácil de suportar do que uma existência na qual o nosso bem-estar não seja uma prioridade.