Heteropessimismo: você sabe o que é?

O termo “heteropessimismo” tem raízes numa discussão de gênero, fortemente embasada no feminismo, e que coloca o foco nos homens como raiz do problema “insatisfação”. Porém, se esquece que os homens heterossexuais podem estar vivenciando o mesmo desalento e arrependimento.

Pergunta de uma leitora:

“Sempre saio dos meus encontros sexuais com arrependimento e desalentada. Vi até na internet que existe uma expressão que define isso: heteropessimismo. Como eu posso superar isso? Se puder me ajudar, fico muito agradecida.”

Resposta: Cara leitora, obrigada pela sua pergunta. Apesar de tratar de uma palavra que somente recentemente entrou no nosso “radar” ou vocabulário, ela pode estar intrigando outras pessoas também.
O que é heteropessimismo?

Vamos ver se essa palavra reflete realmente o que você está sentindo. O termo “heteropessimismo” foi criado em 2019, (portanto somente três anos atrás) pela escritora Asa Seresin para falar, geralmente, de arrependimento, constrangimento ou desesperança em relação à experiência heterossexual.

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Essa expressão pode acontecer em falas, textos, memes. Muitas vezes a gente precisa dar um nome ao que estamos sentindo. Mas eu vejo alguns problemas em você simplesmente rotular a sua experiência ou sensação como “heteropessimismo” e eu proponho que você reflita sobre alguns pontos.

O termo “heteropessimismo” tem raízes numa discussão de gênero, fortemente embasada no feminismo, e que coloca o foco nos homens como raiz do problema “insatisfação”. Porém, se esquece que os homens heterossexuais podem estar vivenciando o mesmo desalento e arrependimento a que você se refere.

Em uma palestra no Duke Feminist Theory Workshop de 2019, a educadora e escritora Lauren Berlant (1957-2021) identificou o heteropessimismo como um produto de grandes mudanças no poder social no mundo de hoje, na relação entre homens e mulheres: estar juntos, incertos sobre como ler um ao outro e incompetentes até mesmo sobre seu próprio desejo.

Um momento em que a liberdade sexual e a diminuição da diferença de poder entre homens e mulheres faz refletir sobre papéis, na sociedade e na cama.

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Se os homens estão aprendendo sobre um ambiente sexual sem subjugação e força, as mulheres, por outro lado, estão aprendendo a se colocar e a se expressar a respeito do que favorece o seu bem-estar. Seja qual for a causa da insatisfação com o sexo — casual ou de base afetiva — que você está vivendo, e independentemente do nome que você quiser dar a isso, eu te convido a enxergar o problema sob uma outra perspectiva, que eu acho que é mais útil para o sexo, para as relações e para outras coisas na vida: a da responsabilidade.

Reflita e assuma a responsabilidade sobre sua própria sexualidade

Por isso, eu te convido: se você tem estado arrependida e desalentada em seus encontros, por que não passar a revisitar essas situações para ver o que a deixa insatisfeita? Ou quem? O que você espera deles? O que essas pessoas (se são mais de uma, impossível de saber com sua mensagem) sabem a respeito de suas expectativas e limites? Como você tem comunicado a elas a respeito daquilo que você gosta e não gosta? O que você espera?

Essa conversa ou essas conversas são parte do movimento de ser responsável pela própria sexualidade. E quando fazemos isso, entramos numa fase mais construtiva do prazer em que o pessimismo não tem tanto espaço.

Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de uma psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento

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É Psicóloga Clínica, Terapeuta Sexual e de Casais no Instituto H.Ellis-SP; psicóloga no Ambulatório da Unidade de Medicina Sexual da Disciplina de Urologia da FMABC; Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; epecialista em Sexualidade pela Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana – SBRASH; autora do livro “Mulher: produto com data de validade” (ED. O Nome da Rosa) Mais informações: www.instituto-h-ellis.com.br