Por Aurea Caetano
Vivemos uma época de conexão total. Podemos ser encontrados a cada momento, aplicativos de localização mostram onde estão nossos amigos, nos garantindo sua posição e, portanto, sua segurança. Compartilhamos postagens, fotos e mensagens instantaneamente. Conversamos através de ligações de vídeo com pessoas do outro lado do planeta, coisa impensável há muito pouco tempo.
No entanto, grande parte das ligações têm sido virtuais, mandamos mensagens de voz e texto não falamos mais ao telefone, nem temos mais telefone fixo, mobilidade é a palavra da época. Usamos aplicativos para encontrar possíveis parceiros amorosos, para pedir comida, para compras de supermercado. Para todo desejo há uma solução! E, há com certeza um grupo de jovens criativos e atentos buscando desenvolver recursos que resolvam qualquer desejo ainda não solucionado!
Serviços de TV por assinatura, streaming de vídeos, plataformas digitais facilitam nosso cotidiano, vivemos em pequenas bolhas, não saímos de casa. E, quando saímos, utilizamos aplicativos que nos indicam o melhor caminho, o melhor meio de transporte, os estacionamentos mais próximos. Ao chegar ao restaurante, por exemplo, há sempre a possibilidade de, através das mídias sociais, ver o prato desejado e ainda saber qual foi a experiência de outras pessoas nesse lugar. Nada de surpresas, nada de riscos! A “experiência agradável” entrou na ordem do dia.
Vida fácil
Nossa vida ficou muito mais fácil! Que delícia poder usufruir de recursos tão maravilhosos. A tecnologia de fato facilita muito nossa vida e sim, aproxima também, na medida em que promove uma conexão mais fácil e direta com o outro. Estamos, no entanto extremamente solitários. Enquanto diminuímos a distância virtual aumentamos a real, ou melhor, a física. E, na medida em que utilizamos todos os recursos disponíveis para ter uma vida mais fácil e prazerosa, acabamos por nos tornar reféns desse modelo, não suportando frustrações e decepções de nenhuma ordem.
Somos, por um lado, cidadãos do mundo, comprometidos com boas práticas sociais, antenados e conscientes, mas, por outro lado, cidadãos pouco afeitos a estar no mundo, de verdade. Pouco habituados aos desafios e frustrações de confrontos diretos, de comprometimento com problemas de difícil solução, com o dia a dia dos embates cotidianos. O virtual muitas vezes, ao facilitar e pavimentar nossas vidas, traz uma sensação irreal de mundo no qual tudo vai funcionar bem.
O grande desafio é poder estabelecer contatos significativos, profundos que possam nos transformar e isso só é possível na medida em que pudermos estar abertos e disponíveis ao novo, ao diferente, ao realmente outro. Tecnologia a serviço do encontro real e não virtual, a serviço da abertura de novos caminhos e possibilidades, a serviço da provocação que pode transformar, nos tirar do lugar já conhecido, a serviço da descoberta de um ser mais verdadeiro e maior, de um ser realmente humano.