Hipocondria pode gerar depressão e ansiedade

por Thaís Petroff

“A hipocondria se caracteriza por uma interpretação errônea das sensações corporais corriqueiras, que acaba sendo percebida como anormal, levando ao medo e mantendo a crença de se estar gravemente doente” Muita gente conhece alguém que sofre com “mania de doenças”. Há sempre a verbalização de que algo está doendo ou que há uma mancha nova no corpo ou algum sintoma não visto antes.

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Essas pessoas recorrem constantemente a hospitais, consultórios e prontos-socorros, sempre reclamando de alguma doença. Há o inconformismo com os médicos e exames que indicam a inexistência de qualquer problema de saúde, mas que não convencem, e por isso buscam em seguida a avaliação de outro profissional na expectativa de encontrar o diagnóstico sobre um suposto mal.

Esse quadro poderia até parecer engraçado, se não fosse tão sério e causasse tanto sofrimento às pessoas que têm hipocondria e aos seus familiares.

O que é hipocondria?

Segundo a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), a característica essencial desse transtorno é uma preocupação persistente com a presença eventual de um ou de vários transtornos somáticos graves e progressivos.

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Os pacientes manifestam queixas somáticas persistentes. Sensações e sinais físicos normais ou triviais são frequentemente interpretados pelo sujeito como anormais ou perturbadores. A atenção da pessoa se concentra em geral em um ou dois órgãos ou sistemas. Existe a  frequência de depressão e ansiedade; essas podem justificar um diagnóstico suplementar. Dessa maneira, a hipocondria se caracteriza por uma interpretação errônea das sensações corporais corriqueiras, que acaba sendo percebida como anormal, levando ao medo e mantendo a crença de se estar gravemente doente.

Quais são as causas?

É muito difícil falar em causas da hipocondria, uma vez que são diversos fatores que podem contribuir para o desenvolvimento desse transtorno, sendo então mais adequado falar em mecanismos de formação de sintomas do que propriamente em causas específicas.

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Dentro dessa complexidade, estudos sugerem uma etiologia (causa/origem) multifatorial, sendo esses os principais fatores: a amplificação das sensações corporais resultante da atenção exacerbada sobre as mesmas (respostas fisiológicas do corpo); um apego à “necessidade de ser doente” conferindo certa identidade (a de doente), para obter possíveis vantagens por estar doente (ganho secundário: “Se eu estou doente, se não me sinto bem, então o outro pode me solicitar menos, exigir menos de mim”); * mecanismos masoquistas ligados a sentimentos de culpa; além de fatores biológicos (como por exemplo, genéticos, apesar de não se ter dados preciso sobre isso ainda), que predisporiam a pessoa a desenvolver esse quadro.

Sintomas:

1º) Medo e preocupação constantes com a possibilidade de ter determinada doença orgânica ou psíquica grave são os principais sintomas;

2º) Há o pensamento constante de que há alguma coisa errada; o que lhes confere um grande sofrimento;

3º) Busca frequente de serviços médicos e de saúde com consulta a inúmeros especialistas, sempre à procura de uma resposta (diagnóstico) para explicar o que é percebido de anormal no seu organismo. No entanto, não há um convencimento em relação às explicações fornecidas, e assim se mantém um círculo vicioso de procurar outro profissional ou serviço médico na esperança de que se confirme o que há de errado;

4º) Procuram fazer exames, acreditando que algum deles revelará finalmente o seu mal.

5º) O uso habitual de remédios, os quais conhecem a fundo, no entanto, muitos hipocondríacos têm receio em utilizá-los.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é clínico, ou seja, é feito através do relato da história do paciente, de seus sintomas e comportamentos, não existindo exames laboratoriais específicos que confirmem o diagnóstico.

Um fator central para a confirmação desse diagnóstico é que a preocupação com doenças deva ocupar os pensamentos da pessoa frequentemente, bem como trazer sofrimento e limitações consideráveis. Autocuidado é importante, mas quando isso vira quase o centro da vida de alguém, um excesso, torna-se um desvio psíquico.

Há prevenção?

É difícil apontar uma prevenção específica. No entanto, sabemos que a história de vida das pessoas contribui para o surgimento de crenças e, portanto, da crença de que há algo de errado em seu organismo.

Se a família onde se cresce valoriza muito questões ligadas a doenças, falando muito sobre isso, tendo uma frequência de visitas a hospitais ou médicos, ou ainda há a  presença de alguém com doença crônica, tudo isso pode facilitar o desenvolvimento desse quadro.

Há tratamento?

Sim, no entanto inúmeras vezes as pessoas demoram muito para chegar a um serviço psiquiátrico ou psicológico, pois não têm conhecimento de que se trata de um problema psíquico.

Desse modo muitas vezes vivem por muitos anos sofrendo, sendo mal tratadas em serviços de saúde (pois, alguns profissionais percebem essa busca constante, mas sabem que não há nada de errado com elas) ou ainda, para evitar o preconceito, mudam constantemente os profissionais ou serviços, dificultando desse modo que possam ser encaminhados para um especialista da área da saúde mental.
 
A TCC é muito indicada por ser bem focal e trabalhar os sintomas e causas objetivamente, bem como dessa forma permitir resultados mais otimizados.

Quanto à medicação, não há medicação específica para a hipocondria, mas sim para alguns sintomas associados. Os antidepressivos são úteis em alguns casos, assim como os ansiolíticos.

* A culpa traz mal-estar para às pessoas. Elas sofrem com isso e pessoas com traços masoquistas sentem prazer na dor, no sofrimento. Desse modo, há pessoas que têm um certo prazer em sentirem-se culpadas. É provável que a culpa seja percebida como um comportamento de segurança para lidar com alguma crença negativa: ex. se eu tenho a crença de que sou ruim, má e eu me culpo por isso, estou me punindo e sinto um prazer em estar me castigando.