por Arlete Gavranic
Como terapeuta é diário meu contato com histórias de traição e desejos de trair, inclusive com conhecidos meus.
As mulheres passaram a trair mais. Comparando estudos realizados no Brasil, Dra. Carmita Abdo, 1991, (USP) com o de Mirian Goldenberg, 2001, (UNFRJ), observamos que o índice de traição masculina é o mesmo, 67%, enquanto que o índice feminino passou de 23% para 47% nesse mesmo período.
Hoje as mulheres sentem-se no direito de trair (como eles) e o fazem por diversos fatores, maioria deles ligados à relação: vontade de experimentar algo novo, poder de seduzir, insatisfação com a vida sexual no casamento ou namoro, decepção, desamor, vingança por ter sido traída… Já os homens traem mais por sentirem atração sexual, por circunstâncias favoráveis, companheirismo no sentido de se sentirem apoiados, fortalecidos na masculinidade, autoestima pessoal e sexual.
O círculo de convivência ampliado pela vida profissional da mulher também pode ser um fator para o aumento do índice de traição feminina. Mas isso não significa que a mulher trai porque trabalha fora. Isso é pura ilusão! O risco de traição não é minimizado pelo fato da mulher não trabalhar ou fora ou trabalhar junto do marido, pois muitas mulheres nessas condições também traem. Seja com o colega de academia, o personal, o porteiro, o paquera que conheceu no supermercado, na porta da escola dos filhos, no curso que faz, na internet….
Concordo com a ginecologista e terapeuta sexual Glene Rodrigues que: “a maioria dos casamentos não termina por causa de uma traição”. Há também a possibilidade de uma disfunção do sistema familiar, porque existe, sim, uma quebra do vínculo de idealização da relação e da parceria, principalmente por parte da mulher. Essa mulher sofre na maioria das vezes uma desestruturação da sua psique, um misto de ódio, medo, desconfiança e até possibilidade de depressão.
Se essa mulher não foi exposta à humilhação – críticas do parceiro em relação ao corpo, inteligência e desempenho sexual – essa relação pode até ser reconstruída e essa vivência, apesar de difícil, pode mobilizar crescimento, onde a mulher pára de cuidar tanto do outro e passa a cuidar de si mesma, se permitindo crescer.
Com um trabalho conjunto do casal é possível uma reconstrução. Ou seja, passar de uma relação idealizada e romântica, para uma vivência de afeto, tolerância, maturidade e respeito, minimizando egoísmo e mentiras.
Muitas mulheres ainda são acusadas de terem sido as ‘causadoras’ da traição e sentem-se culpadas. “Traição é problema de quem trai, não se trai porque a outra parte fez ou deixou de fazer determinada coisa, porque não foi companheiro (a) ou andava sem desejo sexual ou com outra dificuldade sexual’, afirma Glene Rodrigues.
Se a relação não vai bem, é preciso sentar como adultos e buscar ajuda, aconselhamento e terapia. O que não vale é sair traindo e depois responsabilizando o outro de ser o motivador da traição.
As traições podem causar em ambos desenvolvimento de disfunções sexuais, seja por culpa, medo de serem descobertos e autopunição. Alguns quando saem com seus amantes não conseguem ter orgasmo, ereção. E às vezes não acontece o mesmo na relação “oficial”.
Não é o mais comum. Se isso acontece com você, tenha clareza que você mesmo está se reprimindo e julgando sua atitude. Repense se você realmente aprova essa traição.