por Maluh Duprat e Guilherme Teixeira Ohl de Souza – psicólogos componentes do NPPI
Nas últimas décadas, têm-se observado um significativo aumento da expectativa de vida das pessoas, apesar de todos os problemas da vida moderna, como sedentarismo, alimentação inadequada, poluição, custo de vida, entre outros fatores. Essa longevidade corresponde geralmente a um período em que a atividade profissional diminui ou cessa (o trabalho “oficial”, que gerou renda pela vida), mas em que o indivíduo continua capaz de se manter ativo, dadas suas condições físicas e psicológicas. Quando a pessoa se mantém de fato em atividade, social e/ou familiar (como encontro de amigos, clubes, academias, etc…), de trabalho (consultoria, voluntariado, por exemplo) ou educacional (faculdades da terceira idade, cursos livres, etc), ela consegue preservar sua qualidade de vida e suas condições físicas e/ou psicológicas por muito mais tempo.
Na contramão dessa evolução, com a nuclearização da família, o distanciamento das pessoas no próprio bairro (seja por um padrão mais individualista de vida, temor da violência urbana, dificuldade de transporte), a convivência entre os idosos tornou-se mais restrita e limitada, os encontros e trocas mais raros e muito eventuais. Antigamente, havia uma maior aproximação das pessoas em suas comunidades: a família, o bairro (os vizinhos, o armazém, a paróquia). É aí que a tecnologia pode exercer um importante papel nesses novos tempos de maior longevidade e também distanciamento social.
A evolução tecnológica que transformou o viver humano irreversivelmente no séc. XX, hoje faz parte incondicional da melhoria da nossa qualidade de vida, dados os avanços da medicina diagnóstica e recursos para a cura de doenças antes fatais. Além disso, os lares também ficaram mais supridos de equipamentos de comunicação e lazer, que ajudam, sem dúvida, a tornar as pessoas de modo geral, e o idoso, mais especificamente, integrados ao mundo, através da telefonia fixa e móvel, da televisão e mais recentemente, do computador. Antes as pessoas ficavam velhas, hoje ficam idosas, desejosas de se sentir pertencentes ao contexto social em que estão inseridas e principalmente, colaborativas e interativas.
Interação é a palavra-chave
Interação é a palavra-chave que a internet nos proporciona e demanda. Não cabe mais a passividade que caracteriza a TV; somos chamados a nos relacionar, a trocar, a ouvir e ser ouvido, a buscar informação, a descobrir, pesquisar, nos surpreender com o novo, o inusitado, com a realidade e com a fantasia também. Por que não inserir o idoso nesse universo ainda não explorado, que tanto tem a oferecer, com conforto e acessibilidade?
As redes sociais que hoje permeiam a internet, certamente são um ótimo começo para a inclusão ‘cibersocial’, com ofertas para todas as idades e paladares, com facilidades de equipamentos próprios para algumas limitações de ordem física ou motora. Muitas instituições vêm disponibilizando o uso de computadores com orientação técnica para essa faixa etária, ao mesmo tempo em que promove o encontro com outras pessoas interessadas. A memória do idoso, sua história e referências do passado também pode ser um material precioso para pesquisas, que deve ser compilado e armazenado como documento e fonte histórica – história oral e agora digital.
Quando falamos em conectar o idoso à internet, não estamos falando em impor ou pregar o que julgamos ser melhor para ele, mas disponibilizar um recurso fantástico de interatividade, curiosidade, diversão, trocas de informações, ideias e sentimentos. Ouvir e ser ouvido, ler e ser lido, ver e ser visto. Validar-se! Temos sim a noção clara do quanto isso é importante a vida inteira.
Assim, quando pensamos em oferecer a companhia da internet ao idoso (eles adoram companhia!), não o fazemos piedosa ou forçosamente, mas porque também nós precisamos do seu conhecimento, do seu conforto, do seu bem-estar, do seu humor. Desejamos nos espelhar num futuro ativo, otimista, alegre, de saúde física e mental. A mídia digital é também uma grande aliada na batalha pela promoção de saúde, informando e interagindo, trazendo a notícia em tempo real, inserindo o idoso nos fatos do mundo, convidando-o a continuar opinando e participando de uma história que ainda está sendo contada. Obstáculos existem, sem dúvida, falaremos deles oportunamente, mas ainda assim é um passo importante no acolhimento e inclusão dos mais bem vividos.