por Regina Wielenska
Um casal estava em “pé de guerra”, e buscaram terapia. A tensão e a agressividade verbal entre eles eram tão intensas que precisei fazer algumas sessões em separado com o marido e a mulher.
Assim, cada um poderia me contar o que pensava, sem a censura do outro. Devagar, em clima mais ameno, retomamos depois o contato a três. Eu dissera à esposa que temia pelo futuro da relação conjugal, que casais assim estão a um passo de se separarem. A resposta dela me chamou a atenção: “Pode ser, a situação entre nós está mesmo horrível, mas eu acho que temos esperança porque se um marido quer sair de casa e só pensa na separação prá que ele iria ao Ceasa, comprar mudas e sementes pra arrumar nosso jardim?”. Dei alguma razão a ela e o rumo subsequente da terapia mostrou haver luz ao final do túnel.
Esse é o ponto: prestar atenção ao que se diz ou ao que se faz? Há outro exemplo que pode nos ajudar.
A história me foi narrada por um amigo, que foi em busca de atendimento médico num hospital público. Numa tarde de Carnaval uma senhora, em estado aparentemente grave, com ferimentos múltiplos, deu entrada no Pronto Socorro. Estava acompanhada da vizinha e de policiais. Esses perguntaram ao médico que ferimentos eram aqueles. Segundo lhes foi dito, as lesões deveriam ter sido causadas por uma machadinha ou instrumento similar. Autorizados pelo médico, os policiais perguntaram à paciente se ela sabia quem havia lhe atacado. A resposta deixou a todos perplexos: “Foi fulano, mas eu sei que ele me ama”.
Estou tecendo considerações com base apenas em hipóteses. Mas a história (bem triste, por sinal) me pareceu revelar que a vítima talvez tivesse aprendido a se guiar por palavras, os atos do marido não serviam de pistas para ela fazer julgamentos mais acertados. Quantas vezes ele a teria agredido, com atos ou palavras, antes daquele feroz ataque? E outras quantas vezes ele proferiu palavras de amor, ou pediu perdão por desatinos quaisquer?
Alguém que diz adorar livros e nunca se põe a ler talvez esteja falando ao interlocutor o que supõe que seja socialmente esperado. No entanto, o comportamento da pessoa no mundo real demonstraria a pouca correspondência entre o que diz e o que faz. Quando pesquisadas, muita gente defende o uso dos preservativos nas relações sexuais. Mas, de fato, quantas usam? São pistas relevantes os índices de gravidez não planejada, os abortos feitos em abjetas condições e o crescimento do número de indivíduos acometidos por doenças sexualmente transmitidas.
O que desejo comentar é apenas isso: não podemos nos fiar naquilo que alguém diz. Observar os atos nos informa de modo mais preciso sobre a pessoa com quem nos relacionamos.
Uma jovem desistiu de um namoro logo ao primeiro mês. Perguntada pelos motivos, contou que ele a tratava com cortesia, cheio de palavras doces e atos galanteadores, mas que no período de um mês tinha visto o moço maltratar garçons, beber demais numa festa e querer dirigir, tentar subornar guarda na estrada, falar muito mal de ex-namorada e reclamar da pensão de alimentos que pagava ao filho único. Isto selou o fim do relacionamento, a despeito do clima de lua de mel que reinava entre eles.
Em suma: para avaliar o mundo e tomar decisões, observe o que as pessoas fazem, e não apenas o que dizem. Em caso de incongruência, aposte nos atos!
E como se diz por aí: para conhecer alguém a fundo, precisamos ter tempo de comer um saco de sal. Ou seja, observe um episódio, e também outros tantos quanto oportunidades você tiver.