por Nicole Witek
Recentemente, dei um workshop em Paris cujo tema era a prevenção de doenças cardiovasculares graças a algumas técnicas de yoga que focalizam a atenção sobre o espaço do coração: posturas, técnicas de respiração, gestos que direcionam os fluxos nervoso e energético para a zona cardiorrespiratória, e meditação. Este espaço tem como características, segundo a tradição do yoga, ser a sede do ser, da alma, ou dizendo de uma forma mais moderna, um núcleo que faz a ponte entre o ser físico e o ser psíquico.
Pois é, as descobertas mais modernas da ciência apontam o fato que dentro do coração existe um núcleo de neurônios que traduz a realidade percebida do mundo externo com todas as suas sutilezas (que podem escapar da visão consciente do "proprietário") e as interpretações mentais e emocionais para transmiti-las ao cérebro que será só um executante. O cérebro poderá também transmitir informações ao coração, mas ele será sempre o executante do coração.
Em termos mais simples, por mais que você ache que sua decisão é baseada em fatos e razões objetivas, você já terá decidido ao nível do coração e fará tudo para justificar cerebralmente e intelectualmente suas escolhas.
No mesmo período que dei esse workshop, chegou na minha mão um livro de Joseph Chilton Pearce (foto), "Biologia da Transcendência". Devo confessar que fiquei seduzida pela teoria que ele está divulgando.
Veja bem o que esse autor defende:
O autor tenta explicar por que as potencialidades do neocórtex, sede do intelecto e da criatividade, são a cada geração menos usadas, desde a infância. Ele coloca a culpa sobre a sociedade americana que focaliza a atenção sobre "ter" mais do que sobre "ser", o que gera um estresse e um estado de defesa tão fortes que a comunicação entre o neocórtex e o coração fica impossibilitada. O ser humano fica preso numa situação primitiva de "fuga ou luta".
Joseph Chilton Pearce: autor da teoria Biologia da Transcendência
Resumindo drasticamente o pensamento de Joseph Chilton Pearce, aqui está a descrição do cérebro e de seu funcionamento:
O primeiro nível da inteligência humana teria sido o cérebro reptiliano com o reflexo de fuga ou de luta. Com um ano de idade, o ser é um reptiliano.
O segundo nível da inteligência humana teria sido o cérebro mamal, com a aparição da emoção. Aos 4 anos, nosso sistema é mamal. Essa estrutura "emocional-cognitiva" faz a ponte entre o sistema imunológico, nosso estado de espírito, o jeito que nós respondemos às situações, nossa criatividade, nossos relacionamentos. Nessa camada cerebral se faz a conexão com sinais que vêm do coração, graças a um sistema de resposta ativa entre o coração e essa estrutura do cérebro. O coração não e só uma metáfora, ele é também um órgão importantíssimo de integração na inteligência cósmica.
O terceiro nível da inteligência humana teria sido o neocórtex com o intelecto e a criatividade. Em torno dos 14, 15 anos somos "todo hormônios" procurando usar nossa inteligência lógica e um engajamento de grupo. O intelecto a expressão de nossa singularidade. A insatisfação vem da separação da inteligência cósmica. O intelecto nos faz aderir a noção de ego, separado do resto do universo. Ele responde a pergunta "o que é possível?" ou "o que eu posso?", sem levar em conta o resto do universo nem o que nos rodeia.
O quarto nível da inteligência humana seria a comunicação entre o neocórtex e o coração. A realização das grandes aspirações, dos nobres objetivos, da grandeza a qual um adolescente aspira, precisam de um ninho de amor e carinho para que a criança possa desenvolver seu potencial. A quarta inteligência deve ser nutrida e querida na criança. Caso contrário, o homem adulto procura satisfazer as necessidades físicas de posse, usando o cérebro reptiliano. É só durante os momentos de calma que a pessoa se dá conta que existe um mal-estar profundo que nada pode apagar. Poderia ter sido a descoberta e o uso das potencialidades da quarta inteligência.
Essa parte responde a pergunta "o que é adequado" ao meio ambiente, aos outros ao planeta etc.
O coração é o maior controlador dos sistemas imunológico, hormonal e glandular. Ele opera na região do átrio do coração, perto do núcleo que dá o ritmo (pace-maker) o que tem, por ressonância eletromagnética, uma importância fundamental sobre o funcionamento de todas as glândulas do cérebro.
O coração possui uma inteligência que não é pessoal. Ao contrário, a inteligência do coração é impessoal, transpessoal. O coração atua sobre o cérebro mudando a estrutura do cérebro.
Segundo J. C. Pearce, existem dois pólos: de um lado a inteligência universal do coração e do outro o intelecto muito específico do indivíduo.
O verdadeiro sucesso do ser humano será encontrar o equilíbrio perfeito entre a inteligência universal e o intelecto individual.
Desde os primeiros transplantes do coração, sabemos que o coração não é simplesmente uma bomba para distribuir o sangue, porém, uma glândula que une o sistema glandular, os hormônios, as emoções e o sistema imunológico. Os três níveis intricados.
Quando uma criança está num sistema de defesa, ela não aprender porque o cérebro reptiliano está tomando conta. A situação defensiva, estressante, bloqueia a comunicação entre o intelecto e a inteligência. O intelecto toma posse e corta o vínculo com a inteligência, que jaz no espaço do coração.
A inteligência do coração sempre faz a pergunta: "é apropriado para sustentar a vida como um todo?", enquanto o intelecto não vê interesse no "todo". Ele só vê o interesse pessoal independentemente do impacto sobre o universo.
Devemos colocar o intelecto pessoal em alinhamento com a inteligência do coração porque a inteligência do coração é uma inteligência biológica, que procura sempre a evolução do todo na harmonia para com o resto do universo.
A tese de Joseph Chilton Pearce mostra que a inteligência do coração deve ser desenvolvida com a atenção amorosa dos pais e o intelecto, sendo uma ferramenta do coração. Santos e sábios alegam que a verdadeira sede do ser é o coração, que os verdadeiros humanos pensam com o coração.
Pearce vê no reconhecimento da inteligência do coração a evolução natural do quarto nível da inteligência humana. Quem respeita a prevalência do coração sobre o intelecto está seguindo o verdadeiro fluxo da evolução humana. É, desta forma, o futuro da raça humana. Segundo ele, é o título de mais um livro "O Futuro Começa Hoje". Porém, os antigos sábios de todas as filosofias, inclusive os yogis, apontavam desde vários milênios a importância de desenvolver o "sagrado coração". No yoga, você encontra o modo de usar e as técnicas apropriadas!
Atenção!
Este texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento.