por Ricardo Arida
Proporcionar aos jovens a oportunidade de praticar alguma atividade física ou esportiva é de grande importância para a conservação da saúde, no entanto, a "dosagem" ideal de exercício físico em crianças e adolescentes para a saúde cerebral não está totalmente esclarecida.
Pesquisdas mostram que crianças em idade escolar fisicamente ativas apresentam um desempenho escolar superior quando comparado com crianças menos ativas (Castelli et al., 2007).
Ainda, atividade física realizada no início da vida (entre 15 e 25 anos) tem sido associada a um melhor desempenho cognitivo em fases mais tardias (entre 55 e 85 anos) (Dik et al., 2003), sugerindo que além dos efeitos imediatos, os efeitos benéficos da atividade física permanecem por um longo período da vida.
Para entender melhor a influência do exercício físico precoce sobre a saúde cerebral, pesquisas realizadas com animais têm mostrado que o exercício físico durante a infância e adolescência eleva a expressão de *fatores neurotróficos, aumenta a densidade de ** axônios, e aprimora a aprendizagem e a memória na fase adulta (Gomes da Silva et al., 2012).
Estudo recente realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo e publicado na revista Neuroscience Letters (de Almeida et al., 2013) investigou os efeitos do exercício físico na plasticidade cerebral em diferentes intensidades e idades do período adolescente. Isto é, animais jovens foram submetidos a duas intensidades de exercício físico (uma leve e outra intensa) em diferentes períodos da adolescência.
Os resultados mostraram que os efeitos positivos podem ocorrer no cérebro em processo de maturação depende da idade e da intensidade de exercício. Por exemplo, um número maior de novas células na região cerebral do hipocampo (região do cérebro ligada à aprendizagem e à memória) foi notada em animais que se exercitavam com intensidade leve em fases mais precoces da adolescência. Porém, esse efeito positivo do exercício físico sobre a formação de novas células neuronais não foi encontrado quando os animais eram submetidos a intensidades mais elevadas de exercício durante esse mesmo período. Por outro lado, em fase mais tardia, o aumento no número de novas células ocorreu nos animais que treinavam em intensidade mais alta.
Os efeitos benéficos do exercício físico está relacionado com o aumento nos níveis de fatores tróficos liberados no cérebro (neurotrofinas). Um dos fatores neurotróficos de maior impacto sobre as funções cerebrais é o fator neurotrófico derivado do encéfalo *** (em inglês brain derived neurotrophic factor, BDNF). Eles regulam os processos de proliferação, desenvolvimento e diferenciação celular.
Estudos em humanos e animais mostram que a atividade física promove um aumento dos níveis de BDNF na fase adulta. Nesse estudo, foi também observado um aumento dessa proteína em animais treinados durante a adolescência. Esse aumento ocorreu em períodos mais tardios da adolescência. Os achados dessa pesquisa mostram que embora o exercício físico seja benéfico à saúde cerebral, a intensidade adequada de exercício é um fator importante a ser considerado em diferentes idades.
* Os fatores neurotróficos constituem um grupo heterogêneo de peptídeos que regulam os processos de proliferação, desenvolvimento e diferenciação de neurotransmissores, substâncias químicas produzidas pelos neurônios, permitindo a comunicação entre as células.
** Axônio: parte de um neurônio
*** Brain Derived Neurotrophic Factor (BDNF) = proteína fabricada pelos neurônios – exerce vários efeitos no sistema nervoso central, como crescimento, diferenciação e reparo dos próprios neurônios
Castelli DM, Hillman CH, Buck SM, Erwin H. Physical fitness and academic achievement in 3rd 5th grade students. J Sport Exerc Psychol 2007; 29: 239-252.
Dik M, Deeg DJ, Visser M, Jonker C. Early life physical activity and cognition at old age. J Clin Exp Neuropsychol 2003; 25:643-653.
Gomes da Silva S, Unsain N, Masco DH, Toscano-Silva M, de Amorim HA, Silva Araujo BH, et al. Early exercise promotes positive hippocampal plasticity and improves spatial memory in the adult life of rats. Hippocampus 2012; 22: 347-58.
de Almeida AA., et al. Differential effects of exercise intensities in hippocampal BDNF, inflammatory cytokines and cell proliferation in rats during the postnatal brain development. Neuroscience Letters 2013; in press.