por Juliana Zacharias – psicóloga componente do NPPI
A internet, desde sua criação, vem revolucionando o modo de ser do homem no mundo. Essa tecnologia parece ter colocado uma lente de aumento em várias características humanas. Algumas valorizadas e outras, temidas. Dentre alguns dos aspectos vistos com "bons olhos" estão: a comunicação, diminuição do tempo e espaço, o arquivamento e a troca de informações, e-comerce, entre muitos outros. A lista daqueles aspectos mais sombrios também não é pequena e recheia o imaginário das pessoas: o isolamento, o vício, a má influência para jovens e crianças, o bullying, a pedofilia, etc. Alguns defenderão, por convicção ou por interesse, um ou outro aspecto. Mas o fato é que todos eles estão presentes na mesma ferramenta, pois ela espelha seu criador: o ser humano.
É inegável, porém, o aspecto democrático que acompanha a internet. Pode-se dizer que, assim como fora da net, ou dentro dela, os mesmos grupos políticos e econômicos acabam detendo o maior poder. E isso é verdade, ainda que tenham surgido novos grupos a partir da Internet. Entretanto, não se pode negar que o acesso à informação propiciado pela rede possibilita um grau de fluência do conhecimento jamais visto na história da humanidade. Fazendo uma viagem pela história antiga (Grécia e Roma), Idade Média, Iluminismo, Idade Moderna, percebemos que sempre houve desenvolvimento e acúmulo de conhecimento (mesmo na Idade Média, dentro do clero), mas nunca trocas como se tem hoje. Mesmo nas épocas em que o conhecer era muito valorizado (como na Idade Antiga e Iluminismo) ele pertencia a uma determinada classe e dentro dela se confinava. Hoje ainda estamos em meio a um processo extremamente novo, se pensarmos no tempo histórico, mas esse amplo compartilhamento de informações já é experimentado e já traz conseqüências para nosso viver cotidiano.
Além da ampliação do acesso à informação, propiciada pela net, já estamos vivendo um segundo período da relação do homem com a rede. O usuário hoje não é um mero espectador, ou leitor de conteúdos, ele é autor. Sites como Wikipedia e YouTube (além de blogs e fóruns) e jogos como Second Life são exemplos exitosos de que o ser humano quer participar da rede de forma ativa – dizer o que pensa, mostrar o que quer, comprar o que deseja, etc.
WEB 2.0
Cada vez mais a informação se democratiza e se amplia em ritmo exponencial. Ainda mais agora com a maior interatividade da nova internet, a Web 2.0, que tem o objetivo de gerar uma espécie de "inteligência coletiva", onde todo mundo tem o poder de fomentar os sites com conteúdos sem edição ou "censura".
Mas a liberdade da democracia tem seu preço. E seu valor é alto. Quando conquistamos maior poder individual, nossas escolhas também ganham um peso maior. O número de cliques registrados por um site é o que garante seu sucesso e possibilita a entrada de dinheiro e patrocínio para sua manutenção. Alguns poderão dizer que um clique não faz diferença. Talvez faça a mesma diferença que um voto numa eleição. Em um regime de governo autoritário, não tomamos decisões: um 'outro' (partido ou pessoa) assume a responsabilidade de nos dizer como temos que viver, o que vamos aprender na escola e até a que horas estaremos dentro de casa. Na democracia, não temos como fugir dessa agridoce responsabilidade. E, por isso, torna-se necessário um olhar mais atento ao que estamos valorizando, na net e fora dela. Além, é claro, de um acompanhamento mais próximo por parte das escolas e famílias sobre o que nossas crianças e jovens estão vendo e expressando na net, pois eles ainda não têm autonomia para sustentar o peso dessa liberdade sozinhos. Refletir, criticar e escolher sempre foram fundamentais ao ser humano. A Internet, novamente, está colocando uma lente de aumento nessas necessidades.