por Antônio Carlos Amador
A imagem exterior é quase uma obsessão na sociedade moderna: nós somos aquilo que aparentamos. Mais do que ser, é preciso parecer. E o vestuário tem aqui um papel importante, simbolizando um prolongamento da personalidade: nos manifestamos psicologicamente através da maneira como nos vestimos. Assim, o que vestimos nos significa, outorgando-nos alguns sentidos, que estamos dispostos a aceitar.
O modo como nos vestimos e nos apresentamos nos denuncia, refletindo nossos gostos, atitudes, grau de excentricidade e grau de maturidade.
Além disso, pode ser também um indicador da influencia que a moda exerce sobre nós. Muitos jovens com mais de vinte anos de idade, que já estão na universidade, continuam a utilizar roupas e adereços adolescentes.
Talvez tenhamos que atentar para o fato de que houve mudanças significativas no ciclo da vida dos seres humanos nos últimos cinquenta anos. Os avanços tecnológicos e as mudanças na qualidade de vida possibilitaram uma expectativa de vida maior. Atualmente, as pessoas vivem em média muito mais do que seus antepassados. E isso provocou uma mudança considerável nos significados das idades e das condutas: o indivíduo deixa a infância mais cedo, mas demora muito mais tempo para amadurecer. A puberdade chega alguns anos antes em relação ao que ocorria no começo do século passado, mas a adolescência tem se prolongado quase até os trinta anos de idade. A juventude passou a ser mais valorizada socialmente, deixando de ser uma idade para constituir-se numa estética da vida cotidiana.
Jovens adultos vestem-se como adolescentes
Os jovens adultos se vestem como adolescentes, porque eles ainda são parcialmente adolescentes, num mundo que supervaloriza o prazer e o consumo. O que ocorre com eles é similar ao que acontece com os adolescentes mais novos: estão sujeitos às influências do mercado e da mídia, que influenciam sobremaneira seu modo de se vestir e comportar.
Hoje em dia, o mercado tem um poder comparável ao que a religião teve no passado, acrescentando aos objetos um valor simbólico fugaz, mas altamente sedutor, cortejando a juventude, depois de instituí-la como protagonista da maioria de seus mitos.
Consumidores efetivos ou imaginários, os jovens defrontam-se com um conjunto de objetos e discursos de consumo rápido especialmente preparados para eles. Os produtos devem ser novos, ter o estilo da moda e captar as mudanças mais insignificantes. Sonham-se objetos que transformarão os corpos. Numa corrida contra o tempo, propõe-se uma ficção: a velhice pode ser adiada e, possivelmente, vencida para sempre. Nesse cenário, não é de admirar que parecer sempre jovem seja o desejo da maioria das pessoas, principalmente dos que já são adultos. Utilizar ícones da infância é apenas uma decorrência desse processo.
Efeito manada: ficar no mesmo padrão de comportamento do grupo
Além disso, o comportamento é contagioso, como quando uma pessoa ri, tosse ou boceja e outras logo começam a imitá-la sem perceber. Algumas pessoas param e olham para o céu, logo outros transeuntes farão o mesmo, ocorrendo um tipo sutil de conformismo – o ajuste do comportamento ou pensamento para que fique na linha do padrão do grupo. Ele aumenta quando somos levados a nos sentirmos incompetentes, inseguros em relação a nossas escolhas na vida. E é o que acontece com os jovens que, ao defrontar-se com um mundo de incertezas e apelos de consumo, mesmo que se sintam desconfortáveis, procuram refúgio em roupas e adereços utilizados pelo grupo de pares.
Uma espécie de comportamento de membro do rebanho, que aplaude quando os outros aplaudem, come quando os outros comem, acredita no que outros acreditam e até mesmo vê o que os outros veem. Esse tipo de conduta evita a rejeição e ajuda a conseguir a aprovação. Os jovens são extremamente susceptíveis a isso, eles evitam a rejeição e buscam a aprovação de seus pares. E a roupa é um elemento tão importante, porque ela indica a pertinência a um grupo de pessoas ou de ideias.