por Arlete Gavranic
Ano novo, vida nova. Essa foi a frase mais escrita e dita nessas últimas semanas.
Mas para que muitas mudanças aconteçam na vida das pessoas, elas precisam ter consciência que podem e precisam avaliar os vínculos que elas mantêm e de que forma esses colaboram para que ela cresça ou amarram seu desenvolvimento e a possibilidade de experimentar o novo.
Sei que esse tema mexe em muitas feridas e não é tão fácil de ser vivido. Mas nenhum processo de crescimento costuma ser muito fácil. Para nascer, passamos pelo parto, saímos do limite que foi aparentemente confortável até alguns momentos anteriores, temos que respirar, viver a dor de expandir pulmões e soltar o “berro” do choro, da primeira libertação!
Teremos que viver outras libertações, aprender a comer sozinhos, acertar a boca com a colher – esse treino neuromotor é bem complexo para uma criança de 10 a 18 meses, mas estimula sua capacidade neurológica, motora e sua busca de autonomia incrível – mas também requer paciência dos pais para limpar a sujeira do cadeirão. Mas trará em breve, espaço de tempo e prazer de ver o filho com independência de comer sozinho e sem muita bagunça. Ou você acha que está protegida aquela criança que não sabe comer sozinha? Ela estará insegura, pois não foi estimulada a desenvolver um potencial.
Outra libertação é andar sem proteção da mão que ampara ou carrega. Para isso, iremos ter que cair, levantar, tentar de novo, ralar joelhos, sentir dor, medo… Mas só o enfrentamento que liberta da mão (aparentemente) protetora, pode permitir que o desbravar de novos caminhos aconteça, mesmo que no início esse desbravar tenha sido ir de um lado ao outro da sala ou adentrar o outro cômodo por suas próprias pernas. A simbologia desse momento se reflete por toda vida. Pais possessivos tendem a impedir ou postergar essa liberdade de experimentar da criança, e os muito protetores podem exagerar no zelo e passar suas inseguranças para a criança (aí que medo!), e isso pode fazer com que esse filho(a) carregue um medo que o fragiliza na tomada de decisões, pois estará sempre a espera da aprovação/estímulo seja de um pai, tio, chefe ou um marido e esposa.
Outras libertações irão ocorrer com o passar do tempo: a entrada na escola, aprender a ler sozinho, escrever, fazer contas, escolher amigos e responder aprendendo a se defender sempre que for ofendido, agredido e discriminado.
Estou passeando pelas primeiras e básicas aprendizagens onde temos que aprender a romper com “proteções” para crescer!
E com o caminhar da vida, infância e adolescência vamos tendo que aprender a fazer escolhas de quais amigos queremos por perto, pois nos fazem bem, nos fazem crescer, nos dão puxões de orelha para não errarmos ou são parceiros de ‘vamos tentar’?
Infelizmente, essa prática da escolha das pessoas mais adequadas (por sintonia afetiva, afinidade ou gostos semelhantes) tem sido substituída na última década pela quantidade de “amigos” nas redes sociais. Deixamos de avaliar a qualidade dos relacionamentos que queremos viver para a quantidade de pessoas que nos seguem. Será que essas pessoas te querem bem, torcem por você ou vibram com suas conquistas? Elas só estão xereteando sua vida ou colaboram com ela de alguma forma?
E o interessante é que esses mesmos questionamentos faremos para adultos em suas andanças nas redes sociais e nas relações sociais, afetivas, profissionais e familiares.
Na vida adulta também há a necessidade de avaliar as relações que efetivamente te fazem bem e as que te amarram, ou te sugam, ou te colocam para baixo, sentindo-se menos capaz, menos querido ou menos importante.
Vamos pensar em alguns exemplos?
Muitas pessoas têm professores (no colégio, na universidade ou nos cursos de pós-graduação) que não desafiam a crescer, que diminuem o aluno que pergunta ao invés de estimular sua coragem de se expor e interesse em aprender. Para quem está nessa situação, a chance de mudar de turma, mudar de período, mudar de escola… existe. Da mesma maneira que muitos convivem com chefias, supervisores ou gestores que também não propiciam ao outro a chance de crescer. Alguns, pelo contrário, promovem insegurança, só apontam críticas de modo agressivo, não oferecem orientação, nem estimulam crescimento. Será que precisamos viver esse constante sofrimento e subjugação? Será que realmente não existirão outras oportunidades no mercado de trabalho que possam ser mais saudáveis e estimular em você a vontade de crescer, aprender, se aprimorar e a confiar mais em seu potencial? Acreditar que existe vida além dos muros desta ou daquela empresa!
E quando falamos de relacionamentos familiares a dificuldade também se apresenta, mas o medo e a culpa moral muitas vezes dificultam algumas mudanças que seriam necessárias.
Existem pais, mães, irmãos, avós, tios que podem ser muito prejudiciais ao desenvolvimento de alguns. Alguns são autoritariamente críticos; sempre apontam falhas, incompetências e imperfeições num tom que destrói sem educar. Outros poderão ser sedutores autoritários: deixe que eu te ajudo, eu faço para você pois isso é muito complexo ou difícil; outros serão abusadores por autoridade: você me deve isso porque sou seu pai, mãe, avó) ou abusadores por sedução através da culpa: eu te ajudei tanto… um dia você também poderá precisar…
Amigos passam, família é pra sempre…
Essas são algumas das posturas que alimentam inseguranças que muitas vezes requerem afastamento. Muitas pessoas precisam se distanciar para escolher seus caminhos, escolher sua profissão, mudar de emprego, sair das amarras de uma empresa familiar, poder escolher sua parceria (homo ou heterossexual), decidir onde quer morar, como quer viver. Esse distanciamento pode ser importante para que o ego se fortaleça e encontre sua individualidade. Em outras situações pode ser necessário romper para poder se individualizar.
O mesmo pode acontecer em um relacionamento afetivo que deveria promover amor, alegria, autoconfiança… Mas se uma das partes se comporta agressivamente ou desvalorizando a outra, criando sempre tensão, receio de desaprovação, e de receber critica, esse relacionamento saiu do padrão saudável.
Outro exemplo pode ser o de término de relacionamentos. Não interessa se era um casamento ou namoro, se chegou ao fim, é importante que o rompimento seja efetivamente vivido. ‘Vamos ser amigos’ é na maioria das vezes uma ilusão. É claro que a separação de casais com filhos nunca será de um distanciamento total; necessitará de respeito e ternura para resolução de vários aspectos que dizem respeito a vida dos filhos: escola, férias, saúde, vestimenta, lazer etc. Mas isso não significa que haja espaço para intromissões na vida pessoal, afetiva ou financeira do outro. E isso ocorre com muita frequência.
As pessoas mais controladoras, possessivas ou ciumentas têm muito hábito de querer saber, para poder criticar ou tirar alguma vantagem sobre isso. Antes interrogavam filhos, se aproximavam de vizinhos ou amigos da outra parte para obter essas informações. Hoje essas “investigações” acabam sendo feitas pelas redes sociais: onde foi, com quem está, viajou para onde, foi em que padrão de restaurante ou balada, anda com que carro, tudo sendo controlado! Alguns fazem isso por posse, outros pela esperança de voltar, outros por uma postura destrutiva e invejosa. A questão é difícil dos dois lados.
Algumas pessoas sofrem e querem muito controlar as redes sociais do outro e de seus amigos e familiares. Alguns comprometem horas do seu dia com essa atividade. E quem se sente invadido começa a se restringir, a não postar fotos com amigos(as), com um novo(a) parceiro(a), por medo de represálias ou de que isso seja usado para barganhar, desde programas mais interessantes ou caros com os filhos, aumento de pensão, ou só para criar clima de tensão e irritabilidade com o outro. Nessas situações sempre temos que questionar, por que o (a) ex continua a ser seu amigo de Facebook ou qualquer outro aplicativo?
Deletar pessoas ou situações são muitas vezes uma atitude necessária ao crescimento; sair da convivência de pessoas que só sugam energia, desvalorizam e alimentam sua insegurança, que pedem o que é seu, se acomodam em usufruir do que é seu; usam sua energia intelectual para se sobressaírem, sem te dar a devida valorização, será com certeza um ganho e não uma perda.
A vida nos exige empenho, força de vontade, confiança e resiliência para os enfrentamentos e conquistas do dia a dia. Se além disso, você ainda for ter que lutar, resistir ou alimentar essas situações desconfortáveis, com certeza, você terá menos energia para investir em você mesmo.
O que é um ‘relacionamento-âncora’?
Tal como aprender a andar, ou andar de bicicleta, ganhar confiança e equilíbrio para novas atitudes é permitir-se crescer, libertar-se do peso de alguns ‘relacionamentos-âncora’ – tipo de relacionamento que te impede de trilhar novos caminhos. Isso pode ser um novo renascimento!
Boa pedida para o projeto 2016! Feliz mudança!