por Dr. Joel Rennó Jr.
A doença de Parkinson (DP) é uma enfermidade progressiva que leva a uma incapacitação crescente e à piora da qualidade de vida. Muitos fatores podem estar relacionados à incapacitação.
Embora seja um distúrbio neurológico, mais lembrado pelos seus sintomas motores como rigidez, movimentos lentos, congelamento da marcha e instabilidade postural, não podemos nos esquecer das outras condições médicas relacionadas. Transtornos mentais como a depressão não tratada e a demência têm um enorme impacto na funcionalidade dos pacientes e se constituem nas principais causas de internação.
A depressão é comum na DP, atingindo cerca de 50% dos pacientes. Pode estar relacionada a uma disfunção de mensageiros químicos cerebrais como a serotonina, dopamina e noradrenalina, como também ao fato dos pacientes terem consciência de que são portadores de uma doença degenerativa crônica e progressiva. A fadiga dos pacientes pode ser decorrente da depressão, porém, o elemento motor característico da doença também pode gerá-la.
A demência atinge cerca de 30% dos pacientes com DP, sendo mais comum nos pacientes idosos e com doença estabelecida há vários anos. Estima-se também que 20% dos pacientes com DP apresentam alucinações em algum momento da doença.
Distúrbios do sono com predominância de sonolência diurna excessiva são comuns nos pacientes com DP. O mesmo ocorre com os distúrbios do sistema nervoso autônomo, caracterizados por problemas de regulação da temperatura corpórea, constipação (prisão de ventre), disfunções urinária e sexual.
A principal medicação utilizada no tratamento da DP ainda é a levodopa. Deve-se lembrar que esta medicação costuma ser ineficiente para os sintomas não motores. Além do mais, a mesma pode causar confusão mental, paranóia e alucinações visuais. Portanto, perante sintomas psiquiátricos, sempre o médico deve investigar a medicação utilizada, além dos demais fatores orgânicos e psicológicos.
Não temos também respostas sobre os possíveis mecanismos responsáveis pelos problemas psíquicos, porém, é bem provável que além da destruição dos neurônios de uma área cerebral denominada nigroestriatal, na qual há o predomínio do mensageiro químico cerebral dopamina, outras áreas cerebrais sejam também devidamente lesionadas pela DP, ao contrário do que se pensava anteriormente. Estas outras áreas são o locus ceruleus e o córtex cerebral, por exemplo. Acreditamos, portanto, em lesões cerebrais múltiplas no Sistema Nervoso Central (SNC).
Portanto, fica a mensagem de que perante um (a) paciente com DP, todos os profissionais da saúde e familiares envolvidos nos seus cuidados devem ter uma atenção especial aos freqüentes sintomas psiquiátricos presentes, responsáveis por incapacitação e seqüelas até maiores do que as conhecidas disfunções motoras da doença. Isso pode restituir a qualidade de vida de tais pessoas. Um acompanhamento psicológico também é recomendado.
Em função do enorme volume de e-mails recebidos, o Dr. Joel Rennó solicita a compreensão e a paciência de todos os internautas pela demora em respondê-los, mas pediu para que fiquem tranqüilos, pois irá responder a todos os e-mails.
Dr. Joel Rennó Jr (MD,PhD) é médico psiquiatra e psicoterapeuta, Doutorado (FMUSP)