por Elisandra Vilella G. Sé
A manutenção da mente ativa ao longo da vida e com o avanço da idade é um tema importante na área clínica e no contexto acadêmico, no que diz respeito ao alcance de uma velhice com autonomia e com qualidade de vida. Torna-se cada vez mais importante a orientação e o incentivo às pessoas adultas e idosas a estimularem e manterem a mente saudável.
De que forma?
Estimulando funções como a memória, o raciocínio lógico-matemático, a linguagem, a atenção, a concentração, os aspectos motores e as funções executivas, para que se garanta um envelhecimento ativo, participativo, com autonomia e independência. Isso diminui nossa vulnerabilidade, nos protegendo de declínio que impede a realização eficiente das tarefas cotidianas.
Contudo, é importante lembrar que as atividades práticas a serem realizadas para manter e aprimorar nossa mente são influenciadas pelo nosso estilo de vida. Uma pessoa vai ler um livro se ela tiver motivação para a leitura, se tiver o hábito da leitura e interesse pelo assunto, pela temática e se já estiver familiarizada com o tipo de texto.
Os hábitos de vida, as relações sociais, o fator educacional e sócioeconômico, a afetividade, as crenças sobre as capacidades, oportunidades sócioculturais e atividades ocupacionais são fatores que determinam a qualidade do processo de envelhecimento, sobretudo do desempenho cognitivo com o processo de envelhecimento.
Estudos gerontológicos têm enfatizado que o estilo de vida influencia de forma positiva ou negativa o funcionamento mental e físico e o envolvimento com a vida. Isso significa que, embora, não se possa controlar fatores intrínsecos como a genética, podemos pelo menos escolher como envelhecemos, optando por um estilo de vida saudável, incorporando no dia-a-dia hábitos que preservem nossa saúde e aumentem a probabilidade de se viver mais e melhor.
Nesse sentido, a preservação da mente ativa, o bom desempenho em tarefas do dia-a-dia pode ser mantido, estimulado e melhorado através de treinos, práticas, comportamentos e ambiente estimulante ao longo da vida. Por exemplo, a pessoa pode estimular e preservar suas habilidades cognitivas, o uso de seu conhecimento adquirido durante a vida por meio de atividades domésticas ou de trabalho já desempenhado ao longo do tempo.
A profissão é uma prática ocupacional que exige uma estimulação mental, uma flexibilidade intelectual, dependendo da complexidade da tarefa que a pessoa executa. Trabalhos rotineiros e monótonos acarretam perda da flexibilidade mental. No mais, toda atividade prática requer um significado mais amplo na vida, para que a tarefa faça sentido, por isso toda pessoa deve sempre avaliar sua satisfação no trabalho, e o trabalho remunerado não é a única fonte de estímulo. Idosos que frequentemente participam de trabalho voluntário se sentem realizados e com motivação para continuar mantendo a preservação da saúde física e mental.
De forma mais ampla, além de aprender coisas novas, a participação em oficinas, em trabalho em grupo para treino da memória, a ida a centros de convivência, o engajamento em atividades culturais e sociais e de lazer devem ser significativos e incorporados ao estilo de vida. Isto significa fazer “sentido“, as tarefas têm que ter objetivo, propósito, serem funcionais para a vida. O sentido de vida é que habilita a pessoa a manter sua saúde física e mental de forma ativa. A busca e a descoberta de sentido, é a principal força motivadora no ser humano.
O envelhecimento não deve ser visto como um processo isolado das outras fases da vida, mas sim como um processo de desenvolvimento, contextualizado de maneira histórica e culturalmente. Na maturidade e na velhice as pessoas lançam mão de estratégias sóciocognitivas utilizadas ao longo da vida.
Os indivíduos chegam à vida adulta com recursos cognitivos que foram investidos desde a infância e adolescência e que são direcionados para novas aprendizagens e novos conhecimentos na vida adulta. Dessa forma, com o avanço da idade exploramos nossas reservas cognitivas que podem servir para compensar déficits em vários domínios.
Estudiosos da área do envelhecimento ressaltam que o envelhecimento bem-sucedido baseia-se também no mecanismos de seleção, compensação e otimização. A seleção significa ser capaz de discriminar aquilo que é essencial para seu bem-estar. Também está relacionado a redução da capacidade de reserva (plasticidade) cognitiva associada à idade. Assim idosos selecionam domínios significativos para sua sobrevivência. A compensação significa lançar mão de meios alternativos para alcançar os objetivos na vida. E a otimização consiste em salientar os ganhos durante a vida para manter altos níveis de funcionalidade. Então, seguimos a vida sempre selecionando o joio do trigo, compensando as perdas e otimizando as coisas boas.
Embora exista uma reserva da nossa capacidade de desenvolvimento atrelado a nossa educação e cultura, existem também os fatores genético-biológicos que também não podem ser negligenciados, assim também como os fatores ambientais e hábitos de vida.
Maus hábitos
Sabemos que o hábito de fumar, beber sem moderação, a falta de controle de dieta, má alimentação, alterações do sono, depressão, entre outros aspectos interferem no alcance da velhice bem-sucedida.
Hábitos do bem
Hábitos saudáveis, engajamento ativo com a vida, satisfação das realizações, ocupação significativa, práticas cotidianas que fazem sentido, uso de conhecimento acumulado ao longo da vida, motivação para continuar preservando suas essências conforme seu estilo de vida fazem do processo de desenvolvimento da vida adulta um percurso muito mais saudável, rico e com qualidade.
Assim, preserve suas reservas, esteja aberto a novas curiosidades e descobertas, aprendendo coisas novas, se adaptando ao moderno e novo, mantendo seus valores e ideais de vida, conforme seu estilo. Manter a mente ativa é manter a autonomia e seu senso de bem-estar.