por Dr. Joel Rennó Jr.
Qualquer transtorno mental, inclusive a anorexia nervosa que vitimou a jovem modelo Ana Carolina Reston Macan aos 21 anos, envolve uma interação complexa entre fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Podemos modificar ou atenuar alguns deles. A responsabilidade é de todos.
Cabe a todos nós encararmos alguns aspectos importantes para que tais tragédias não continuem vitimizando outras jovens sonhadoras.
Em primeiro lugar, é fundamental que se vença o preconceito ainda existente contra qualquer transtorno mental, incluindo não apenas a doença em si, mas também o paciente e a figura do psiquiatra. A procura tardia por ajuda é um fator importantíssimo e não pode ser negligenciada.
Anorexia nervosa pode levar à morte. Em situações extremas, a internação compulsória pode ser o recurso único adequado. Para salvar vida nos casos graves, com desnutrição, peso muito abaixo do normal para a idade e altura, anemia, alterações de água e sais minerais, osteoporose, infecção e sintomas depressivos severos. Filosofias baratas e esdrúxulas de alguns movimentos e grupos isolados, contra a internação clínica e psiquiátrica, em uma situação emergencial devem ser deixadas de lado.
A sociedade precisa repensar seus valores, parar com a estipulação de padrões universais de beleza, estética, felicidade e sucesso. Comportamentos discriminatórios existentes, por determinadas agências de modelos e grupos sociais ou familiares também devem ser eliminados.
Por falarmos em agência, como não notaram a magreza excessiva da jovem Carol, com apenas 40 kg, em 1,74 m de altura? Prevaleceram interesses mercantilistas? Por que foram tão omissos e negligentes? Por que tal absurdo ainda ocorre em quase todo o mundo? Por que ninguém a orientou e insistiu para que procurasse um bom psiquiatra?
Digo isso porque é impossível para empresários e donos de agência, assim como para qualquer outra pessoa leiga não perceber o emagrecimento excessivo em uma situação como esta. Qualquer um, apenas pelo visual, pode fazer a suspeita diagnóstica de anorexia nervosa, principalmente, em um meio tão competitivo, discriminatório e ilusório como o mundo da moda.
Tais agências de modelos não devem e nem podem ter apenas uma simples supervisão psicológica sumária. Devem ser obrigadas a terem médicos, nutricionistas e psiquiatras acompanhando todas as modelos. Se tais ações não forem padronizadas, infelizmente, outras situações trágicas como essa continuarão a existir.
Precisamos, todos, tirar as máscaras. A sociedade precisa reestruturar e modificar os seus conceitos e padrões estéticos equivocados pré-estabelecidos. Todos acabam sendo coniventes e co-autores dessas questões. Os adolescentes não podem continuar a ser explorados em um momento em que buscam a autoafirmação, segurança e identidade.